(Por Ingrid Vogl)

Há mais de quatro décadas, a biblioteca do Centro Social Romília Maria extrapola os muros da instituição e alcança a comunidade do entorno da Vila Ipê, que graças ao hábito da leitura, conhece e se relaciona com diferentes visões, histórias e pessoas.

Com 15 mil exemplares em seu acervo, frutos de doações recebidas ao longo dos anos, a biblioteca fundada no dia 20 de junho de 1976 é a menina dos olhos da família de Nelson Noronha Gustavo Filho, o fundador da instituição. Logo que foi inaugurada, com direito a cobertura jornalística dos principais jornais impressos da época, o movimento da biblioteca comunitária era intenso, com pessoas que frequentavam o local para ler o jornal diário ou para emprestar livros, em sua maioria, didáticos.

O local também se tornou um ponto de encontro para os leitores da região, e um espaço de aproximação e fortalecimento de vínculos entre moradores e usuários da entidade. De lá para cá, o perfil dos leitores mudou. Hoje, o maior interesse é pela literatura nacional e estrangeira, além de livros religiosos, de autoajuda, psicologia e poesia. Todos à disposição dos leitores que têm ampla e total liberdade para escolherem opções de acordo com suas preferências.

Rayssa Kauane de Souza, 16 anos, é uma frequentadora assídua da biblioteca comunitária. Há um ano ela avistou a faixa em frente à instituição que avisava sobre o funcionamento do espaço. Desde então começou a visitar a biblioteca semanalmente, de onde sempre leva de 3 a 4 livros, principalmente romances.

“Quando começo a ler, viajo com a história. Adoro conhecer costumes, tradições e outras informações sobre o enredo, principalmente sobre os livros que contam histórias de época. Os livros sempre me trazem novos conhecimentos e inclusive me ajudam em algumas disciplinas escolares, como quando eu estudei sobre o romantismo, e isso me ajudou na prova sobre o assunto”, disse a adolescente, que quer fazer faculdade de letras e tem um conselho na ponta da língua sobre o mundo literário: “quem lê vai mais longe”.

Para Aline Figueiredo, técnica de referência da FEAC para a instituição, a biblioteca é um ponto de convergência para a comunidade. “O espaço de uma biblioteca comunitária no território, além de ser acolhedor e concentrar muita riqueza literária, pode ser visto como um potencial para a população dialogar sobre o bairro, pensar em outras possibilidades de garantia e acesso à cultura e dar visibilidade ao trabalho da organização, inserida neste contexto”, analisou.

Fluxo

O atendimento na biblioteca do Romília Maria acontece às segundas-feiras, das 9h às 15h, quando as crianças da instituição costumam escolher os livros que vão levar para casa, e às quintas, das 8h às 14h, quando é a comunidade que frequenta o espaço.

Segundo as regras, os usuários da biblioteca podem levar até 3 livros emprestados por uma semana. Mas alguns deles preferem ler ali mesmo. Crianças e adolescentes que não são usuários dos serviços da entidade também frequentam o local e costumam emprestar livros.

Segundo Suellen Alessandra Teixeira Magalhães, estudante de pedagogia e responsável por cuidar da biblioteca, alguns leitores pedem para levar mais de três livros para casa e são muito participativos, mantendo uma relação estreita com os usuários da entidade e o local.

“O hábito de ir até a biblioteca para ler dá resultados positivos e visíveis. É possível perceber que as pessoas conseguem ampliar seus horizontes, começam a articular melhor as conversas. Para as crianças, quanto mais elas leem, mais elas se interessam por novos livros e novas histórias. É um ciclo que só traz coisas boas”, avaliou Suellen.

Pequenos leitores

Com as crianças da instituição, o hábito da leitura também é incentivado e muito bem recebido pelos pequenos. Tanto as turmas de crianças que frequentam o Romília pela manhã, quanto no período vespertino, podem levar para casa os livros escolhidos. As educadoras procuram incentivar a leitura das publicações mais adequadas às idades e que tenham mensagens educativas.

“O livro ajuda na construção de valores, e aqui as crianças estão bem habituadas à leitura. Elas se envolvem muito com os livros, que as ajudam a socializar com outras crianças e com a equipe da entidade também. Muitas delas ainda não têm o domínio da leitura, mas leem as figuras e usam a imaginação para criar as histórias e também para contá-las a seus colegas”, afirmou Andressa Soares Cardoso Lima, educadora do Romília Maria.  Recontando histórias, as crianças amplificam sua leitura, o que provoca interações que levam à formação de redes de leitores que incentivam o hábito e o gosto por ler.

Gustavo Domingos Lima, 8 anos, é um dos leitores da instituição. Sua predileção é por publicações que falam sobre o corpo humano. “Não gosto só de ler, gosto de escrever também. Faço isso na escola e aqui no Romília também. Para mim, ler me ajuda a aprender mais, porque acho que quando eu crescer, é com a leitura que vou conseguir entender e aprender coisas novas”, disse.

Já o colega Thiago Soares da Mata, 7 anos, além de ler, também é desenhista e aspirante a roteirista. “Gosto de pegar folhas em branco e criar minhas histórias, meus livros e filmes com meu irmão. Estou praticando bastante para melhorar cada vez mais”, disse o menino, que prefere os livros de adivinhação.

Voluntariado

Um dos desafios da biblioteca comunitária é a catalogação dos 15 mil exemplares. Para esta tarefa, o projeto Mutirão Voluntário (MUVO), iniciativa do Programa Cidadania Ativa da Fundação FEAC, irá catalogar e organizar todo o acervo em uma agenda planejada para julho. Para conquistar a ação voluntária coletiva, a instituição se inscreveu no edital do MUVO destinado a Organizações da Sociedade Civil (OSCs) interessadas em receber algum trabalho voluntário em prol da instituição. As inscrições ocorreram entre janeiro e fevereiro de 2018 e totalizaram 57 interessadas. Nove delas foram selecionadas e receberão o mutirão até o fim do ano. Outro intuito da instituição é ampliar os dias e horários de funcionamento da biblioteca comunitária. Mas para isso, é preciso que haja voluntários dispostos a cuidar e organizar o funcionamento do espaço. “Se conseguirmos voluntários para essa função, pretendemos ampliar o funcionamento do espaço, já que a biblioteca é um importante elo de conexão da entidade com a comunidade”, disse Jane Regina Evangelista Marcelino, coordenadora administrativa do Romília Maria. A entidade ainda busca parceiros para criar uma brinquedoteca no mesmo espaço em que funciona a biblioteca. “Se isso acontecer, nosso espaço estará completo”, contou Jane.

O Centro Social Romília Maria recebe apoio institucional da Fundação FEAC por meio do Programa Fortalecimento de Vínculos. A entidade existe há 45 anos e oferece o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de 06 a 14 anos e o Centro de Convivência Inclusivo e Intergeracional, por meio de diversas oficinas oferecidas a crianças, adolescentes, adultos e idosos da região da Vila Ipê em Campinas/SP.

Sobre o Programa Fortalecimento de Vínculos

O Programa Fortalecimento de Vínculos é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na qualificação de ações integradas de cultura, esporte e cidadania com o objetivo de prevenir o agravamento da vulnerabilidade social e reforçar os vínculos familiares e sociais protetivos.

Saiba mais: http://www.romiliamaria.org.br/