(Por Ariany Ferraz)

Projeto busca inclusão qualificada nas empresas para proporcionar autonomia às pessoas com deficiência

Com brilho nos olhos e muito emocionada, Geísa Rodrigues, 37 anos,conta que  foi efetivada. Todo dia ela pega o fretado e vai trabalhar como auxiliar administrativa na empresa de call-center Motiva. Ela é umas das pessoas beneficiada pelo projeto ‘Assessoria ao trabalho’ do Ceesd (Centro de Educação Especial Síndrome de Down). Com o objetivo de propiciar aos jovens e adultos com síndrome de down e deficiência intelectual uma colocação adequada no mercado de trabalho, a iniciativa oferece 20 vagas para esse público, com idade a partir de 18 anos. O projeto recebe apoio do Programa Mobilização para Autonomia (MOB) da Fundação FEAC.

“Muitas vezes a inclusão acontece mais por uma questão de cota. Por isso que a gente estrutura essa assessoria para que tenham uma demanda real e para mostrar às empresas a importância dessa adequação para uma inclusão efetiva no mercado de trabalho”, avaliou Rafaella Paladine, terapeuta ocupacional do Ceesd.

A equipe do projeto ‘Assessoria ao trabalho’ é composta por uma psicóloga, fonaudióloga, terepeuta ocupacional, pedagogo e diretora pedagógica. A atividade já era um dos serviços oferecidos pelo Ceesd, porém uma nova formatação neste ano trouxe a capacitação na metodologia do ‘Emprego Apoiado’ como diferencial. “A gente vê a importância de cada vez mais profissionalizar e o apoio da  Fundação FEAC veio para melhorar a qualidade do nosso trabalho”, pontuou Livia Rech, psicóloga.

Apoiar com foco no indivíduo e sua habilidades

Mais do que uma fonte de renda, o trabalho é um direito social que promove a construção da identidade, reconhecimento, inclusão e integração na sociedade. Além disso, o desenvolvimento dessas pessoas incluídas no mercado de trabalho acontece de forma mais próspera  quando os ambientes são inclusivos, com apoio adequado, favorecendo o desenvolvimento de diversas habilidades, motivação, organização e, principalmente, proporcionando autonomia.

“A maior parte das coisas que a gente conquista na vida é por meio do trabalho. Então é muito importante ter uma boa qualidade no atendimento para o usuário que está em busca do emprego e para a empresa, que é justamente a Assessoria que faz essa mediação”, explicou Livia. E para isso uma das estratégias é o Emprego Apoiado, que visa compreender interesses, habilidades e necessidades de apoio de cada pessoa a ser incluída.

O centro de todo processo é o usuário, trabalhando seu projeto de vida. Assim, é a própria pessoa que define onde ela quer trabalhar com base em afinidades, desejos e percepções. “O emprego apoiado inverte um pouco a lógica que estamos acostumados de sempre treinar para depois avaliar se a pessoa está preparada para incluir. Primeiro vamos identificar o que o usuário quer, depois incluir no mercado e dar o apoio que ele precisa no ambiente real de trabalho, para que haja permanência e desenvolvimento”, apontou Livia.

A expectativa é garantir autonomia para que a pessoa possa se desenvolver profissionalmente em seu ambiente de trabalho. Três etapas são realizadas individualmente. Primeiro, a descoberta do perfil profissional, identificação de interesses e habilidades da pessoa, além de orientações sobre o mundo do trabalho. Na sequência vem a busca pela vaga, com a elaboração do currículo e vivência dos processos seletivos. Depois, a fase de desenvolvimento do emprego, com adaptações necessárias para execução das tarefas na empresa – processo contínuo com o acompanhamento pós-colocação para verificação da efetividade dos apoios e desempenho.

A equipe faz um trabalho multidisciplinar integrado para apoiar a pessoa com deficiência que intenciona colocação e recolocação. Livia conta que como psicóloga procura auxiliar na identificação do perfil profissional. Já Rafaella, como terapeuta ocupacional, busca fazer uma análise do tipo de cargo pretendido e da função dentro da empresa. “A gente busca adaptar as tarefas para que eles consigam realizar com autonomia e que não tenha uma pessoa que fique fiscalizando se o que eles estão fazendo está certo ou não”, apontou Rafaella.

São muitos os aspectos trabalhados ao longo da assessoria, desde noções comportamentais, de responsabilidade, regras, como pontualidade no trabalho, vestimenta e também  comunicação. “Comunicação faz parte de tudo e no ambiente de trabalho é fundamental. Há usuários que conseguem se expor mais e quando têm dificuldades a gente vai dando o apoio de articulação da fala e outros instrumentos. Também para a equipe, de como falar com ele e fazer as perguntas, se direcionar para dar uma ordem, pois não adianta dar várias ordens de uma vez”, esclareceu Ana Laura Zacharias, fonoaudióloga.

Em seu primeiro emprego, Gustavo Borges, 21 anos, trabalha na recepção do Hotel Vitória em Paulínia. Lá ele guarda malas, organiza pedidos dos quartos e na loja da recepção ajuda a arrumar o estoque. Já Giuliano Piccolo, 22 anos, trabalha como auxiliar de escritório no próprio Ceesd. “Eu ajudo o dia inteiro e estou muito feliz!”, disse o jovem que maneja documentos, organiza cartões de ponto, coleta assinaturas, faz cópias e auxilia no setor financeiro também.

“Eu ajudo as pessoas. Sou auxiliar administrativo e trabalho no RH da Isoclean. Carimbo processos, faço cópias, organizo e levo documentos. Eu gosto muito”, aponta Carlos Henrique de Melo, 25 anos. Ele conta que já trabalhou em uma rede de fast food, depois passou por um escritório de advocacia e agora está no terceiro emprego. Um caso de readequação de perfil profissional, Carlos recebeu orientação da equipe da Assessoria, que após uma avaliação identificou a afinidade com a área administrativa. E sobre o salário ele revela ainda que usa para comprar roupas, transporte e também para sair com os amigos nos finais de semana.

A pessoa com deficiência tem direito a oportunidades iguais de trabalho, em ambiente acessível e inclusivo, assim enfatiza a Lei Brasileira de Inclusão. Porém, uma das maiores dificuldades é romper a barreira do preconceito. “Quando a empresa dá condição para que nosso trabalho seja feito a chance do sucesso é muito maior. Sempre trabalhamos em parceria. As empresas realizam dinâmicas de integração e palestras de sensibilização para tirar dúvidas e preparar os colaboradores ”, comentou Lívia.

“A parceria estabelecida com a FEAC, por meio do Programa MOB, tem como objetivo qualificar ainda mais a Assessoria para o trabalho. Levar às empresas que as pessoas com Síndrome de Down podem ocupar cargos e se desenvolver enquanto profissionais é extremamente importante. E garantir  o necessário apoio no início é a proposta do projeto”, disse Regiane Fayan, líder do MOB.

Sobre o Programa MOB

O Programa Mobilização para Autonomia (MOB) é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência. Se dedica a romper barreiras para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos.