(Por Laura Gonçalves Sucena)
Incentivar o processo criativo por meio da imagem. Assim estão sendo as oficinas do projeto CinemAQUI que acontecem em quatro regiões de Campinas, e têm como objetivo a produção de curtas metragem a serem exibidos antes de uma sessão de cinema. Até o final do ano, as exibições acontecem nos bairros Jd. São Fernando, Jd, Santa Rosa e Guanabara.
A próxima sessão, que é gratuita e aberta ao público, será realizada no dia 8 de novembro, na Praça de Esportes – Maria Conselheiro da Silva , e contará com um curta-metragem sobre a depressão. Este tema foi escolhido pelos participantes da oficina por ser um ponto de destaque entre os jovens do território. Para elaborar o filme, jovens e adolescentes das instituições Semente Esperança e Anhumas Quero Quero precisam de cinco encontros, totalizando 15h de oficina teórica e prática sobre audiovisual, onde a moçada colocou a mão na massa.
O projeto acontece de forma participativa e com estratégias ajustadas para cada grupo e cada território onde acontece. “O tema nasce do grupo e deve ser um aspecto observado no território. A forma de abordar também nasce de reflexões feitas de forma coletiva. A partir daí, roteiro, imagens e textos são cuidadosamente trabalhados. Este processo é muito rico e oportuniza um olhar, um diálogo e uma forma de influenciar sobre o território onde moram”, informa Sílnia Prado, líder do programa Fortalecimento de Vínculos da Fundação FEAC.
Uma câmera na mão
Doze jovens aderiram às oficinas do CinemAQUI e participaram da produção, orientada pela produtora de audiovisual Juliana Bronbim. Com a ideia na cabeça, a moçada pegou o celular e partiu para as filmagens.
De acordo com Juliana, o trabalho ocorreu em dois campos do audiovisual: o teórico e o prático. Primeiro foi passado conhecimentos sobre as características da produção de vídeo com dispositivos móveis, destacando as discussões sobre os vídeos que antecedem e influenciam o cinema feito com celular e colocando ênfase nas características mais específicas do celular.
Já a prática e a produção se deram pela experiência de sair em campo com a câmera na mão. “Essa câmera-mão é o traço de um cinema em que o corpo do participante está diretamente implicado não apenas com uma câmera que passa pelos olhos, mas que se ocupa de um corpo inteiro, variavelmente. Assim, com as imagens registradas partimos para a montagem porque é nessa etapa que todos os que realizaram os vídeos opinam, criticam e os analisam para criar e definir uma estética a partir do que conseguiram e sentiram no processo”, explicou Juliana.
“Ainda que essa oficina tenha uma base de conteúdo consolidada, ela se ajusta a dinâmica de cada território. Além disso, é uma oficina concebida para pensar e produzir vídeos com os recursos dos dispositivos móveis e para refletir e questionar sobre a reprodução de filmes feitos com este tipo de suporte, mas que imita uma câmera de vídeo/filmadora padrão”, acrescentou Juliana.
A produtora conta que o mais importante no processo é a criatividade. “Os jovens devem ser criativos e ter uma relação crítica e reflexiva com o espaço onde convivem e com a curiosidade sobre questões técnicas do cinema. A partir disso, o grupo escolhe a narrativa, no caso foi a sobre o tema depressão entre jovens e a autoestima”, completou.
Mão na massa
Para realizar o filme, os jovens conheceram técnicas de como produzir um roteiro, viram os tipos de planos de filmagem, escolheram a locação e outras técnicas de audiovisual. “Coloquei para eles formas de se elaborar um roteiro, aberto ou fechado, mas tomando o cuidado de não se engessar em uma estrutura. É preciso imaginar e planejar, mas sem anular o fator surpresa e as experimentações espontâneas da gravação. Do mesmo modo que não se pode cair na dispersão. Então, os jovens são impulsados a esboçar um texto-guia descrevendo o que imaginam ou supõem ser esse vídeo em imagem e som, junto com explorar os lugares e situações para gravar sobre o tema escolhido”, explicou Juliana.
Segundo a produtora, quando os jovens vão a campo para as filmagens é que eles experimentam as diversas formas de gravação com os dispositivos, encontrando assim um ponto de equilíbrio entre o roteiro aberto e o fechado. “Essa é a grande chave da oficina de produção de um filme com celular em que se produz uma gama de materiais imagéticos e sonoros que, logo em seguida, se utilizam para “re-escrever” um roteiro. Nessa última etapa, não menos importante que as anteriores, se define e se chega à conclusão que a edição não só pressupõe juntar os planos, mas concluir o trabalho de roteiro escrito no princípio de uma maneira prospectiva”, comentou.
A estudante Jenifer Balbino, de 15 anos, ficou sabendo da oficina e logo se interessou. “Adoro fotografia e acho que isso tem tudo a ver com o cinema. Assistimos vários filmes e conhecemos diversas linguagens do cinema. Também fizemos um plano de gravação, roteiro e escolhemos uma ideia para filmar. Agora é fazer o nosso melhor e esperar o dia da exibição”, comentou.
Elizabete da Rocha, de 13 anos, também aprovou a oficina. “Fiquei muito curiosa e queria saber o que a gente ia aprender. Estamos conhecendo muitas coisas e tivemos várias ideias e escolhemos a melhor”, disse.
Para o já Youtuber João Marcos Jesus do Carmo, de 21 anos, a oficina foi um caminho para novos conhecimentos. “Queria ver uma outra visão sobre imagem e aprender mais. Estamos improvisando e espero que nosso filme fique muito bom! Nossa ideia é passar emoções através de uma história simples”, concluiu.
Fortalecimento de Vínculos
O CinemAqui faz parte do Programa Fortalecimento de Vínculos, iniciativa da Fundação FEAC que investe na qualificação de ações integradas de cultura, esportes e cidadania com o objetivo de prevenir o agravamento da vulnerabilidade social e reforçar os vínculos familiares e sociais protetivos.
Saiba mais: https://www.feac.org.br/fortalecimentodevinculos/