(Por Laura Gonçalves Sucena)

Democracia é a palavra de ordem na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira, de São Paulo-SP afinal é tempo de campanha e eleições do grêmio estudantil. Esse é o tema do documentário “Eleições” dirigido por Alice Riff e apresentado em duas sessões gratuitas a gestores das escolas estaduais de Campinas.

A iniciativa faz parte dos Programas Educação e Fortalecimento de Vínculo, por meio do projeto CinemAqui, da Fundação FEAC, que procura sensibilizar pessoas para causas e discussões sociais relevantes a partir da plataforma do cinema, e foi possível por meio de uma parceria com as Diretorias de Ensino Campinas Leste e Oeste e Secretaria Municipal de Educação de Campinas. O documentário já está liberado na plataforma online e gratuita Videocamp, possibilitando que produções de cinema que buscam impacto e transformação alcancem o maior número possível de pessoas.

Para a líder do Projeto CinemAqui da Fundação Feac, Sílnia Prado, o documentário “Eleições” mostra como o diálogo e a participação social são importantes para promover a convivência, a aceitação da diversidade e da pluralidade que, impactados pela realidade do dia a dia, precisam encontrar espaço nos sonhos, nas inquietudes dos jovens ao buscar um mundo em que acreditam ou se reconheçam. O desafio, agora, é fortalecer este espaço para ampliar a consciência e a criticidade, influenciando positivamente a participação democrática. 

As sessões também fizeram parte de uma estratégia de divulgação da 10ª Semana da Educação de Campinas, que acontece entre 16 e 23 de setembro, em diversos pontos do município.  O objetivo da iniciativa é mobilizar a sociedade para o debate sobre os diversos temas da educação, com discussões que resultem em ações que contribuam para uma educação pública cada vez melhor em Campinas.

Grêmios nas escolas

Para Raika Aquino, analista de projetos da Fundação FEAC, o grêmio estudantil é um coletivo formado por alunos e representa a voz dos estudantes nos espaços de decisões da escola, como em reuniões dos representantes de classe, do conselho escolar e da associação de pais de mestres. “É nesses momentos que eles podem levar as demandas estudantis para a comunidade escolar e participar de decisões que impactam na vida da escola. E o documentário retrata bem essa realidade”, afirmou.

A formação dos grêmios nas escolas está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado na estratégia 19.4 e na rede estadual de São Paulo, existe uma Lei específica que dispõe sobre a criação dos grêmios nas escolas.

“Diante da Lei no Estado de São Paulo a maioria das escolas públicas de Campinas tem grêmios instituídos, entretanto ainda precisamos avançar em muitas unidades em relação a qualidade de atuação desses coletivos. Por esse motivo fomentar a autonomia e o protagonismo juvenil dos estudantes é um dos desafios que o Programa Educação tem como pauta a ser evidenciada e discutida”, comentou.

Segundo Raika, abordar o  tema por meio da exibição do documentário “Eleições”, que retrata os anseios e desafios de uma escola pública estadual de São Paulo no processo de eleições do grêmio estudantil, é uma estratégia com grande poder de alcance para que os profissionais que estão na escola possam ampliar o olhar em relação à importância de garantir o espaço e as condições para atuação do grêmio estudantil.  

Protagonismo

Retratando a organização dos estudantes para a corrida eleitoral, o documentário, que se passa numa escola paulistana, apresenta quatro grupos de estudantes concorrentes. Na pauta, as opiniões e visões de mundo diferenciadas, com debates e estratégias de campanha para chegar à vitória final. 

Ao abordar o processo para a escolha da representação estudantil na escola, o filme Eleições revela aspectos da relação escola e participação, diversidade, relações étnico-raciais e de gênero. O filme auxilia a conhecer um pouco da nova geração de estudantes e a desconstruir alguns preconceitos, mostrando que os estudantes sabem identificar os limites e têm uma percepção clara dos problemas da escola. Também têm uma potencialidade de intervenção criativa e de realização quando estimulados à participação e compreendem o sentido do trabalho e da ação coletiva.

O filme também mostra conflitos entre os estudantes e tensões nos momentos da campanha e revela as diferenças políticas.  Mas também reflete os momentos de companheirismo e amizade entre os grupos e a vontade de fazer algo melhor pela escola. 

Com diferentes reivindicações, as chapas concorrentes Rosa, Mais Diversidade, PAS e Identidade tinham algo em comum: o interesse em buscar soluções para problemas da escola e também da comunidade.

Trocando experiências

Após a exibição do documentário, o CinemAqui propôs um debate entre a plateia e convidados, com a participação dos diretores Maike Miranda (Diretoria de Ensino Campinas Leste); Adson Antunes da Silva (Diretoria de Ensino Campinas Oeste) , o coordenador pedagógico Michael Ansolin (Diretoria de Ensino Campinas Oeste) e mediação do representante regional do Núcleo de Ação Descentralizada (NAED) Sul, Aziz Ramos.

Para Aziz, o documentário mostra que o protagonismo não se dá por decreto e sim por práticas democráticas. “Temos que usar essa energia juvenil para gerar aprendizagem, pois esse é o papel facilitador da escola. A escola transcende o mecanismo funcional de todos numa caixinha. É abertura, reconhecimento, estratégias e isso é aprender, e essa é a ideia”, falou.

“Temos que lembrar que a escola é um espaço de formação e é onde as pessoas se comunicam. O documentário mostrou o processo de protagonismo, que é amplo e de formação contínua, de andar junto. É uma escola de todos, com todos e para todos”, pontuou o mediador.

De acordo com o coordenador Michael, as eleições do grêmio remetem ao cotidiano da escola e evidencia questões pontuais que são de interesse de todos. “Foi muito interessante ver o processo de formação do grêmio. Temos que investir no protagonismo do aluno por meio de projetos que fazem com que o aluno se sinta pertencente à escola para que consigamos sanar alguns problemas pontuais, como a evasão e a qualidade do ensino. O aluno tem que gostar de frequentar a escola”, relatou.

Adson falou sobre a experiência do grêmio em sua escola, que conta com um grêmio muito atuante. “Adolescentes são bombas de emoções e isso incomoda, mas temos que dar vozes a eles. Quando falamos de grêmio estudantil, falamos de formação política. Com orientação, os alunos vão mostrando como são protagonistas e na nossa escola eles têm realizados várias atividades e estão mostrando que podem fazer muito”, completou.

Para Maike o documentário retrata a realidade de várias escolas. “É interessante ver a casa dos outros e reconhecer como as coisas acontecem na nossa. Sabemos que temos que incentivar o protagonismo juvenil e a proposta do grêmio é essa, mas dá trabalho e demanda muito também de nós, da nossa preparação. Então, é preciso dar voz ao grêmio e preparar o gestor para mediar conflitos”, ressaltou.

A plateia também participou ativamente do debate. Elizandra Teixeira Marcondes, vice-diretora da escola Professor Dr. Carlos Araujo Pimentel, acredita que o filme foi muito bem construído e retratou a realidade das nossas escolas. “Vejo e vivo essa realidade há anos e me identifiquei muito com esse documentário. Acredito que abriu os olhos de muitos gestores e aconselho que todos os professores possam assisti-lo. Me vi em várias situações. Não é fácil construir uma chapa, conversar com os alunos, atendê-los e ouvi-los requer tempo e trabalho, mas é o que tem que ser feito”, falou.

Alexandra de Castro Gomes, coordenadora pedagógica das Escola João Fiorello Reginato, acredita o filme deve também ser assistido pelas famílias. “Filmar o movimento dos alunos foi muito interessante e sabemos que é bem isso que acontece. Seria uma boa oportunidade para as famílias conhecerem seus filhos dentro da escola. Na nossa unidade procuramos sempre contar com a participação dos pais porque acreditamos nisso”, comentou.

Para Mônica Vidal, diretora da Escola Jamil Gadia, o filme traz diversas reflexões. “Foi um momento de parar para pensar no trabalho que estamos realizando na nossa escola. O que preciso fazer para fortalecer ainda mais nossa escola?  Acreditamos no protagonismo juvenil e nosso grêmio é bem atuante. Além disso também temos os líderes de turma e os clubes juvenis. Trabalhamos com várias ações com essas lideranças e ainda acho que temos um processo de construção de uma autonomia, então estamos sempre mostrando caminhos”, afirmou.

Fortalecimento de Vínculos

O CinemAqui faz parte do Programa Fortalecimento de Vínculos, iniciativa da Fundação FEAC que investe na qualificação de ações integradas de cultura, esportes e cidadania com o objetivo de prevenir o agravamento da vulnerabilidade social e reforçar os vínculos familiares e sociais protetivos.

Saiba mais: https://www.feac.org.br/fortalecimentodevinculos/   https://www.feac.org.br/semanaeducacao2019/