Evento aborda a temática com foco nas possibilidades de abordagens e práticas na escola

(Por Ariany Ferraz)

A dificuldade enfrentada de fortalecer  a temática ambiental nos ambientes formais de educação foi a abordagem de Alciana Paulino, gestora de educação do Instituto Estre, que abriu o Conecta Educação do mês de abril, na noite da última quinta (26). Com uma vivência ampla em projetos de educação ambiental em diversas escolas, Alciana explanou sobre os grandes desafios para integrar a temática no dia a dia escolar e não somente inseri-la no currículo.

Um tema que precisa ganhar visibilidade e ter o debate ampliado na sociedade e na comunidade escolar, segundo apontou a convidada. “A falta de diálogo é um fator limitante, pois a escola se distancia das discussões sobre educação ambiental, que ficam restritas apenas aos acadêmicos. Precisa existir uma interlocução entre as pessoas que estão construindo conhecimento através da prática ambiental”, pontuou Alciana.

A palestrante indicou que existe um desconhecimento sobre o que é educação ambiental e seu potencial. Muitas vezes o senso comum da temática fica restrito ao viés da natureza e a abordagem das disciplinas de ciências. Para ela “a indicação é que a educação ambiental seja vivida de modo transversal e interdisciplinar”.

A dificuldade de diálogo e integração entre as diferentes áreas de conhecimentos precisa ser superada, de acordo com a educadora. Além disso, elencou a falta de referência e destacou a necessidade de se ter “multiplicidade de vozes”, pois é preciso ter referências locais, do próprio meio, da escola e da sociedade. “Espaços como esse hoje são raros e me sinto privilegiada de estar aqui”, observou Alciana sobre o Conecta.

Para surpresa do público a gestora do Estre trouxe um dado chamativo: “a educação ambiental brasileira é modelo para outros países”, revelou. De acordo com Alciana, apesar de 90% das escolas no Brasil trabalharem a temática, a forma acaba sendo pontual uma vez que a grande maioria apenas dedica espaço a datas comemorativas ou projetos que se perdem.

Por fim, foi evidenciado um fator crítico relacionado às condições de desenvolvimento do tema na escola, que permeiam recursos, tempo, espaços de troca, reconhecimento, entre outros. Apesar de todos os obstáculos a serem superados, os questionamentos foram importantes para apontar caminhos existentes. “Os desafios são muitos, complexos e profundos. Mas é preciso trazer a pauta da educação ambiental como uma escolha ética e contribuir para transformação da educação de forma mais ampla”, afirmou Alciana.

Fazer acontecer

Depois da fundamentação teórica junto à experiência compartilhada por Alciana, a aplicação prática ficou por conta das docentes da EE Culto à Ciência, Aloísia Laura Moretto e Cláudia Carla Caniati. Com um caso prático de sucesso, o destaque da apresentação foi para o projeto, reconhecido e premiado, ‘Da Nascente, Água Corrente: a História e Destino de uma Mina’.

Tudo começou quando as professoras instigaram seus alunos a utilizarem técnicas de observação para identificarem problemas e soluções no próprio ambiente escolar. Assim, os estudantes perceberam uma nascente de água localizada no subsolo do auditório da escola que descartava milhões de litros de água. Por meio de uma disciplina, os jovens buscaram alternativas para a água, com ideias sustentáveis de armazenamento, preservação e uso racional.

No palco, os alunos Ana Julia Quintanilha e Matheus Viana de Andrade, contribuíram com o relato das experiências. “Nossos passos foram todos dados pensando na comunidade”, ressaltou Ana. Estudar o lençol freático, o ambiente,  socializar descobertas com pais, professores, funcionários, e descobrir juntos uma solução. Foram muitos passos envolvendo áreas de conhecimento diversas, desde a geografia, química, biologia, matemática e produção textual.

A experiência também abriu caminho para outros projetos. Com um olhar apurado, perceberam folhas de árvores acumuladas e descartadas no pátio da escola e daí surgiu também a disciplina “Folhas ao vento”, onde os alunos começaram o desenvolvimento de um briquete (carvão ecológico) com reaproveitamento das folhas. A ideia chegou a renomados concursos, inclusive fora do Brasil, também sendo premiada.

“O primeiro desafio quem tem que vencer é o professor. Ele tem que sair da mesmice da sala de aula. O segundo é que você precisa envolver a comunidade escolar, funcionários, gestão, professor, entendendo que é um trabalho da escola como um todo”, analisou Aloísia. Além da importância do trabalho em equipe, o papel do professor deve ser apenas  de orientador para deixar o aluno ir atrás do conhecimento e experienciar. Por isso, o protagonismo juvenil é peça chave para ações de impacto significativas. Conscientes de sua autonomia, os alunos são os responsáveis pelas soluções. “O grande objetivo é despertar o aluno para os problemas que estão ao redor dele, pensando no outro e buscando soluções. Existe um despertar da consciência. Os alunos replicam algumas ações que aprendem na escola dentro de casa”, avaliou a professora.

Para Cláudia Carla Caniati, o diferencial está em trabalhar a educação ambiental dentro do contexto e realidade escolar. “A gente consegue trabalhar o currículo interferindo no ambiente onde o aluno está. O estudante precisa trabalhar aquilo que é palpável no mundo dele. Precisa encontrar um problema que ele está vivendo para poder ter um olhar crítico”, destacou.

Para o aluno Matheus, estar no Conecta foi uma oportunidade de contar a experiência do projeto e ainda “mostrar que não é impossível de realizar”. Responsável pela criação da mascote Mina para o projeto, Ana contou também que se descobriu, se interessou pela questão ambiental mais do que imaginava e compartilhou a intenção de seguir um caminho profissional que esteja alinhado com a temática. “Esse projeto deu sentido para nossas vidas e nos direcionou”.

Feitas as apresentações, a plateia pode contribuir com indagações e discussão de soluções junto aos convidados. Acostumada a acompanhar muitos debates pela internet, Laura Saraiva, professora da rede particular, participou da oportunidade e evidenciou a satisfação de poder marcar presença no evento, destacando o formato interativo como um diferencial da proposta. “As experiências e a roda de conversa foram muito boas. Principalmente porque os alunos aqui mostraram que podem fazer, que se sentem mais valorizados e importantes na Educação com esses projetos”, disse.

“O Conecta Educação do mês de abril propiciou um momento de ampliação do debate sobre o tema educação ambiental e  evidenciou a urgência de busca de soluções conjuntas e inovadoras para os complexos desafios socioambientais. Os relatos das práticas do  Instituto Estre e da EE Culto à Ciência nos mostraram que a partir de experiências práticas, engajamento de alunos, professores e comunidade, a educação ambiental vai muito além de ser um tema transversal presente no currículo e sim a possibilidade de construção de projetos com resultados efetivos. As experiências compartilhadas estão alinhadas com os objetivos dos programas e projetos da Fundação FEAC, que buscam contribuir com uma sociedade justa e sustentável com igualdade de oportunidades a todos”, concluiu Thaís Speranza Righetto, técnica de referência do Departamento de Educação da FEAC e membro do Programa Educação.

Conecta

Com apoios da Fundação Educar DPaschoal e Iguatemi Campinas, o Conecta Educação faz parte do projeto Semana da Educação, que compõe o Programa Educação da Fundação FEAC.  O Conecta Educação tem como objetivo discutir assuntos relevantes do atual cenário educacional com temas que devem nortear os eventos da 9ª Semana da Educação de Campinas, que está planejada para acontecer de 22 a 29 de setembro de 2018.

O Programa Educação é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em projetos que contribuem para uma educação pública cada vez melhor, como pilar fundamental para o desenvolvimento da sociedade.