Pensar na relação família e escola e a responsabilidade de educar nos dias atuais foram alguns pontos abordados na palestra “Família e Escola: a escola que temos e a escola que queremos”, ministrada pela pedagoga e mestre em Educação Luciene Tognetta durante a 7ª Semana da Educação de Campinas. Com a presença de professores e educadores da rede estadual do município, o evento, realizado pela Fundação FEAC no âmbito do Compromisso Campinas pela Educação (CCE), foi uma reflexão sobre as dificuldades e desafios para a participação efetiva das famílias na vida escolar dos filhos.
Para a pedagoga, um dos grandes problemas enfrentados pelos professores e também pelos pais é a responsabilidade de educar. Com a ausência de alguns valores, os problemas familiares se tornaram mais próximos da escola. “Há um caminho para a superação desses conflitos e os educadores não podem mais fechar os olhos para essas situações cotidianas”, falou Luciene.
“Não podemos nos queixar dos problemas que chegam na escola ou apenas discutir a quem cabe o papel de educar. Temos que pensar em como a família e a escola podem juntas assumir uma responsabilidade que é da formação humana dessas crianças. É preciso conversar sobre um dos aspectos mais vulneráveis da escola atualmente, que é sua responsabilidade de educar, compartilhando isso com a família”, refletiu.
De acordo com Luciene, a solução não está em acusar ou definir de quem é a culpa ou a responsabilidade dos conflitos familiares e escolares. “É preciso um trabalho conjunto porque muitas vezes os pais não sabem o que fazer e o docente não pode se livrar do problema por meio de uma transferência de responsabilidade. Nós professores passamos mais tempo com as crianças e temos o dever de auxiliar a família”, afirmou.
Essa via de mão dupla, com a colaboração entre a escola e a família, de acordo com a pedagoga, tem que ser contínua. “Temos que pensar em maneiras de contribuirmos com as crianças e os adolescentes porque não se separa mais o educar e o ensinar. Essa separação não cabe mais nos dias de hoje, pois a menina que aprende matemática é a mesma que chora e briga”, frisou.
Luciene continuou falando da necessidade de uma escola em que a informação seja organizada e não adquirida, porque hoje existem tutoriais disponíveis na Internet que são melhores que algumas aulas. “Essa ideia de que ensinar conteúdo é apenas tarefa da escola não existe mais. A tarefa da escola é organizar, sistematizar e ordenar esse conteúdo. E o mesmo acontece com o educar, que também não é mais exclusivo da família”, completou.
Comportamento
Conforme alertou a pedagoga, há pesquisas que apontam que problemas práticos da vida cotidiana afetam o desempenho escolar. “Mais de 60% dos professores pesquisados acreditam que os problemas de aprendizado das crianças têm causa na relação familiar. Alguns colocam a culpa na família, mas eles também não sabem como lidar, pois os pais dizem que fazem seu papel e há a intenção de resolver o problema. As famílias acreditam que estão tomando providências, estão agindo, mas esse agir nem sempre dá resultado”, salientou.
“Muitos pais chegam na escola e falam que não sabem o que fazer com seus filhos. Isso é verdade e é angustiante. A família não conhece o cotidiano da escola e isso não ajuda na relação de comportamento dos adolescentes. Os pais esgotam seus recursos, que já são poucos”, ressaltou.
De acordo com a pedagoga, temos nas escolas uma nova geração que sabe argumentar e por isso é necessária uma mudança de visão. É preciso que haja a participação dos alunos na formulação das regras da escola e a organização de espaços e assembleias para a discussão de problemas, inclusive com a participação dos pais. “Família e escola são lugares diferentes com pontos de vista diferentes, mas com o mesmo objetivo.Com a participação da família na vida escolar dos filhos, no cotidiano escolar, o aprender e o educar ficam mais tangíveis”, finalizou.
Gestão democrática
Na linha de envolver os membros da comunidade escolar nas discussões e decisões dentro da escola, a gestão democrática da educação foi tema de debate ocorrido na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas (STMC) em mais um evento realizado dentro da programação da 7ª Semana da Educação de Campinas.
“Existem várias dimensões para que a gestão democrática ocorra. Institucionalmente tem que haver uma legislação, e Campinas já caminha com este documento. E mais do que isso, a gestão democrática se dá por atitudes e por isso é uma questão cultural: é preciso desenvolver uma cultura na prática, no dia a dia da escola, nas reações interpessoais, na organização curricular, que envolve desde o conselho de educação até a sala de aula”, explicou Pedro Ganzeli, professor do Departamento de Políticas, Administração e Sistemas de Educação da Faculdade de Educação da Unicamp.
Na opinião de Ganzeli, a gestão democrática não ocorre somente na esfera da educação, mas sim em toda a sociedade, incluindo organizações da sociedade civil. “A construção se dá em todos esses níveis e é um desafio. Muitas vezes falamos que somos democráticos, mas nossa atitude ou é centralizadora ou chega até a ser autoritária. Este é um desafio para o povo brasileiro: aprender a construir formas de relações democráticas. Estamos neste caminho e estamos bem. Acho que os planos de educação, apesar de todas as controvérsias, são passos importantes para essa construção. O caminho está sendo trilhado”, avaliou.
Por outro lado, o professor promoveu uma discussão conceitual sobre como a cidadania é pensada na perspectiva da gestão democrática. Também abordou a legislação que trata da gestão democrática na educação e fez um paralelo do assunto com os Planos de Educação em vigência, nos quais a implantação da gestão democrática nas escolas está inserido.
Ganzeli chamou a atenção para recentes reformas na educação nacional, citando a Medida Provisória 746 do Ensino Médio e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241. “Estas reformas que impactam no financiamento da educação brasileira afetam qualquer projeto de gestão democrática. Com elas, haverá o congelamento de investimentos por 20 anos no setor educacional e isso fará com que o poder público deixe de ter dinheiro para investir e, consequentemente, ampliar o controle de uma determinada classe social sobre as demais”, opinou.
Saiba mais sobre gestão democrática na educação: http://www.educacao.sp.gov.br/gestaodemocratica
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad5.pdf
http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/19-gestao-democratica