A Black Friday todo mundo conhece. Será que um dia Campinas poderá ter uma data tão conhecida, mas para celebrar a solidariedade? A Fundação FEAC aposta que sim. Por isso, está se dedicando a construir ações para o Dia de Doar, movimento internacional para fortalecer a cultura de doação, e que esse ano será em 30 de novembro. 

“Nós estamos trabalhando com estabelecimentos para que eles escolham organizações da sociedade civil para beneficiar e se tornem pontos de doação de recursos e bens, como alimentos”, explica Camila Stefanelli, líder do Programa Cidadania Ativa, da FEAC. 

A iniciativa da fundação, que tem como nome #DoeCampinas, irá distribuir aos estabelecimentos parceiros cartazes e caixas para receber doações customizadas com a identidade da campanha. 

Outra frente de trabalho da FEAC será divulgar a recém-lançada Janela do Bem, plataforma de transparência com mais de 40 organizações cadastradas, e que tem como objetivo estimular a doação permitindo o acesso a informações detalhadas de cada uma delas. A iniciativa será divulgada em estações locais de rádio. 

A FEAC também acertou uma parceria com a filial de Campinas da Câmara Americana de Comércio (Amcham) para a divulgação entre seus membros de informações sobre como fazer doações usando a declaração do imposto de renda. 

“Assim como acontece com a Black Friday, queremos que um dia as pessoas saibam com semanas de antecedência que o Dia de Doar vai acontecer”, ressalta Marcela Doni, analista do Programa Cidadania Ativa. 

Contraponto solidário 

Não são por acaso as menções a uma das principais datas de consumo do varejo. O Dia de Doar surgiu nos Estados Unidos em 2012 com o nome de #GivingTuesday (terça-feira da doação, em português), justamente como um contraponto solidário à Black Friday, também criada naquele país. Por isso, o Dia de Doar acontece sempre na terça seguinte à sexta-feira do consumo. 

O Dia de Doar chegou ao Brasil em 2013 pelas mãos do Movimento por uma Cultura de Doação, coalizão da sociedade civil que tem como objetivo promover esse comportamento. Desde o início, a data é organizada por um dos membros do grupo, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR). No mundo todo, 85 países participam de um movimento global em torno do #GivingTuesday. 

Apesar de haver responsáveis pela sua organização, o espírito do Dia de Doar é o da liberdade para que cada pessoa ou organização crie livremente ações em torno da data. Tanto que, no site da campanha, qualquer um pode acessar e usar as artes oficiais, e também pode encontrar ideias de mobilizações. 

Um dos tipos de campanha que tem sido feitas ao longo da história do Dia de Doar são as chamadas comunitárias. “A ideia é mobilizar uma comunidade – pode ser um bairro ou até uma cidade inteira – em torno da data, engajando as pessoas de uma região para doarem localmente”, explica João Paulo Vergueiro, diretor-executivo da ABCR. 

Desde 2015, a associação já contabilizou 40 iniciativas desse tipo, 13 delas apenas em 2021. A iniciativa da Fundação FEAC é uma dessas campanhas comunitárias da próxima edição. 

“Em 2020, nossa primeira participação no Dia de Doar, focamos em ajudar organizações parceiras a se planejarem para a data. Esse ano, decidimos ir pelo caminho de mobilizar toda a cidade para buscar fortalecer no longo prazo a cultura de doação”, conta Camila. 

Brasil solidário? 

João Paulo destaca que não existem dados históricos precisos sobre doação no país, mas já se sabe que a pandemia deu impulso ao comportamento solidário.  

A ABCR, por exemplo, lançou em março do ano passado o Monitor das Doações COVID-19, que mostrou que, em apenas dois meses, mais de R$ 5 bilhões já haviam sido doados para iniciativas relacionadas à pandemia. Além disso, o Dia de Doar movimentou no ano passado R$ 2 milhões em doações, volume cerca de 40% maior do que em 2019. 

A FEAC também percebeu na prática o impulso da crise sanitária na solidariedade com a campanha Mobiliza Campinas, lançada em 2020 para combater a insegurança alimentar na cidade. Em 2021, houve um aumento de 20% no número de doadores em relação ao ano passado. 

O desafio é transformar essa doação episódica em recorrente. “Há um público engajado, que precisa de um empurrãozinho”, diz Marcela. 

Camila espera que a edição desse ano do Dia de Doar seja o começo desse “empurrãozinho”. Uma maneira de, segundo ela, as “pessoas contribuírem para combater a desigualdade escancarada pela pandemia, ajudando aqueles que não vão participar da Black Friday”. 

Por Frederico Kling