Hoje, segunda-feira (21), comemora-se o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data escolhida pela organização britânica Down Syndrome International faz alusão à triplicação do cromossomo 21 que causa a síndrome, e seu principal objetivo é conscientizar a população sobre a necessidade de inclusão.

Apesar dos avanços, as pessoas com síndrome de Down ainda enfrentam diversas barreiras, como o preconceito, especialmente no mercado de trabalho. “Duvidarem da capacidade e do potencial delas é a atitude mais comum por parte de quem não tem conhecimento ou nunca conviveu com alguém com essa característica”, conta Viviane Machado, líder do Programa Mobilização Para Autonomia da Fundação FEAC.

Como consequência da falta de conhecimento das empresas, o desafio de conquistar um emprego acaba, segundo ela, sendo maior para quem tem síndrome de Down. “Uma das dificuldades que observamos foi essa barreira da empresa em contratar a pessoa com deficiência. E quando ocorre a contratação, normalmente gira em torno de pessoas com as mesmas deficiências que a empresa já está habituada. As pessoas com deficiência visual e intelectual, por exemplo, estão entre as que mais enfrentam barreiras para ingressarem no mundo do trabalho”, explica Viviane.

Falta de informação nas empresas

As OSC descobriram que a falta de informação sobre deficiências ocorre até mesmo no departamento médico de companhias. “Percebemos que em algumas empresas, que precisam cumprir a ei de Cotas, falta conhecimento a respeito de algumas deficiências, como a síndrome de Down, no próprio departamento médico da companhia”, conta a líder da FEAC.

Não há números específicos sobre a inclusão de pessoas com síndrome de Down no mercado de trabalho, apenas dados relativos às pessoas com deficiência intelectual em geral. “O Censo no Brasil não diferencia a síndrome de Down de outras deficiências. Isto prejudica o trabalho das OSC”, conta Livia Rech, consultora do Programa Emprego Apoiado do Centro Síndrome de Down (CESD).

Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2020, em Campinas, as pessoas com deficiência intelectual que possuem vínculos trabalhistas são 14,19%. Um número baixo comparado às outras deficiências: física 43,84%, auditiva 15,64% e visual 15,05%.

Tecnologia social: Hub Inclusivo

Para enfrentar estas e outras dificuldades, a FEAC desenvolveu junto a organizações parceiras o Hub Inclusivo. O projeto fará o mapeamento do cenário de diversidade e inclusão e levará conhecimento (materiais e treinamento) para os setores que são decisivos na hora da contratação, como o RH, o departamento jurídico e a equipe gestora, além de formular um protocolo de inclusão personalizado. 

A ideia do Hub Inclusivo nasceu em Campinas, por meio de um edital do Programa Mobilização para Autonomia, e tem a OSC Sorri Campinas como a executora principal e o CESD como parceiro técnico. A Sorri e o CESD irão acompanhar passo a passo todo o processo até o momento da contratação.

Apesar de as organizações sociais parceiras não terem contabilizado o número de pessoas com síndrome de Down que já incluíram no mercado de trabalho, há muitas histórias de sucesso para serem comemoradas neste Dia Internacional da Síndrome de Down.

Um sonho realizado

Foi por intermédio do CESD, por exemplo, que Bruna Giovanna Oliveira de Lana, de 22 anos, teve a oportunidade de conseguir o primeiro emprego. Ela trabalha como secretária e almoxarife, responsável pelo controle de estoque de uma empresa há três anos.

“Fui eu mesma que falei: ‘quero um emprego’. Era o meu sonho. Aí todo mundo me ajudou. Eu e a minha família choramos de felicidade. Até hoje eu estou lá”, comemora Bruna.

O papel das OSC é desmistificar a imagem das deficiências e preparar a equipe da empresa para receber a pessoa. “Algo que nós trabalhamos muito nas OSC é a importância de que o contratado trabalhe de fato, que exista este acompanhamento. Quando esse processo de inclusão é bem feito, há benefícios para os dois lados, pois a pessoa com deficiência produz resultados como qualquer outro funcionário e se sente produtiva e parte da equipe”, diz Viviane, da FEAC.

Programa Emprego Apoiado

Bruna entrou em contato com o CESD para participar do Programa Emprego Apoiado. Lá, ela aprendeu a montar o currículo, recebeu orientação para tirar a carteira profissional e teve aulas de computação, uma das atividades de que mais gosta e que faz parte do seu dia a dia. 

O programa Emprego Apoiado auxilia o candidato com deficiência a encontrar uma ocupação que se encaixe com a sua personalidade, com seus interesses e suas habilidades. A metodologia busca ampliar a compreensão do participante em relação às oportunidades profissionais e trabalhar o potencial da pessoa com deficiência a fim de gerar uma adesão efetiva e duradoura no mercado de trabalho, beneficiando tanto o usuário quanto a empresa que está contratando.

Viviane conta o exemplo de uma profissional com síndrome de Down que conseguiu uma vaga pelo programa: “Durante o atendimento no domicílio, os profissionais da OSC identificaram que ela gostava muito de maquiagem. Resultado, ela foi contratada para trabalhar na área de cosméticos de uma farmácia dentro do shopping. Funcionou perfeitamente. Ela possui essa habilidade de atender os clientes, explicar para que servem os produtos e arrumar as prateleiras dos cosméticos. Ela ficou feliz.”

Quando não está trabalhando, Bruna gosta de se dedicar aos seus passatempos. Ela possui um canal no YouTube chamado “Bastidores Bru”, no qual posta vídeos mostrando a sua rotina. Além disso, ela também participa dos desafios de dança no TikTok. Mas o trabalho é a sua grande paixão. Ao falar dele, ela se emociona. “O emprego da gente é o primeiro passo. Eu gosto muito do meu serviço. Foi uma vitória. Não tem como agradecer. Eu sou muito feliz”, comemora.

Por Pietra Bastos

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