Ingrid Vogl

A educação integral é o tema da Meta 6 do Plano Municipal de Educação de Campinas (PME) e prevê o oferecimento de educação integral com a ampliação da jornada escolar do aluno em pelo menos 50% das escolas públicas, de forma a atender no mínimo 25% dos alunos da educação básica.

Atualmente, a rede pública de ensino de Campinas, que inclui escolas municipais e estaduais, possui 221 escolas de ensino fundamental e médio, das quais 17 são escolas de educação integral, sendo 12 na rede estadual e outras cinco na rede municipal de ensino. Todas essas instituições de ensino integral juntas atendem cerca de 6.400 alunos.

Segundo informações dos dirigentes de ensino responsáveis pelas escolas estaduais de Campinas, não há previsão de que novas escolas se tornem de ensino integral no próximo ano. Já na rede municipal de ensino, a previsão é que mais uma escola de ensino fundamental se torne integral em 2017.

Para que as escolas se transformem em integrais, as comunidades escolares devem passar por um processo que envolve o atendimento de diversos critérios propostos pelos programas de educação integral oferecidos pelas Secretarias Municipal e Estadual de Educação.

Quantidade x qualidade

Segundo Ismael Bravo, membro do Comitê Deliberativo do Observatório da Educação do Compromisso Campinas pela Educação (CCE); especialista em política pública voltada ao projeto pedagógico e diretor de políticas públicas da ETI Brasil, o que se tem observado atualmente é que em escolas integrais o foco é principalmente no tempo estendido e não na qualidade do que se faz nesse tempo. “É comum encontrar escolas que oferecem em seu contraturno reforço escolar ou atividades que não tem consistência”, afirmou.

Para o especialista, a educação integral acontece na escola quando existe um grupo gestor comprometido com o trabalho a ser desenvolvido, que promove uma escola transformadora e educadora. “Sem uma equipe fortalecida com o conceito de educação integral, o trabalho tende a acontecer forçadamente. É preciso que o docente esteja junto com o aluno com o objetivo de quebra de barreiras, focado para realizar projetos. Para isso, é preciso que as redes de ensino invistam nos grupos gestores e em condições humanas, oferecendo bons projetos pedagógicos e formações continuadas para docentes e não docentes”, disse Ismael.

Outro ponto importante destacado por Ismael Bravo é a necessidade da comunidade escolar conhecer o entorno da escola, inclusive para que a questão da infraestrutura seja suprida. “A equipe precisa entender o bairro, inclusive para que se possa explorar os espaços públicos, como praças, quadras esportivas e outros equipamentos urbanos, entendendo assim a realidade de seu entorno”, ressaltou.

A integração entre as disciplinas, prevista em Projeto Político Pedagógico (PPP), também é outro ponto que garante a qualidade do ensino e aprendizagem. “Neste sentido, o coordenador pedagógico tem papel primordial para ajudar a promover essa integração entre as áreas de conhecimento”, opinou o especialista.

Recursos financeiros também são importantes para que a educação integral seja efetivada. “Atualmente, a educação integral representa custos com contratação de profissionais; adequações estruturais e humanas para que se aumente o tempo do aluno e de toda a equipe profissional na escola”, observou Ismael.

Mais Educação

Criado em 2007 pelo governo federal com objetivo de aumentar o tempo do aluno na escola, o programa Mais Educação era desenvolvido em muitas escolas estaduais e municipais de Campinas com sucesso. Mas desde 2014, os recursos do Mais Educação não chegam com regularidade às unidades educacionais. Este ano, foi anunciada a reformulação no programa, com a diminuição de sua abrangência para 26 mil escolas (metade das que eram atendidas), que são as consideradas com os menores Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

Na rede municipal de ensino de Campinas, 13 escolas, de um total de 35 unidades de ensino fundamental, são consideradas prioritárias para o recebimento do recurso do Mais Educação em 2016. Segundo comunicado do Ministério da Educação enviado às redes públicas de ensino, o programa está em fase de desenvolvimento e, assim que for retomado, será comunicado aos municípios e estados.

Apesar do corte do repasse nos recursos do Mais Educação, o trabalho de integralidade continua em várias escolas, segundo afirmou Elaine Cristina Vieira Ferraz, coordenadora do Comitê Metropolitano de Educação Integral da Região Metropolitana de Campinas. “Apesar da burocracia que emperra a continuidade do trabalho com o programa, muitas escolas mantêm o princípio de integralidade, de acordo com sua realidade e possibilidade. Acredito que o processo da escola integral é um caminho certeiro, irreversível e que dá certo na educação”, afirmou.

Confira a íntegra do Plano Municipal de Educação de Campinas: http://compromissocampinas.org.br/wp-content/uploads/2015/07/Plano-Municipal-de-Educacao-de-Campinas-Lei-n-15.029-24_06_2015.pdf