(Por Ingrid Vogl)
O mercado de trabalho exige cada vez mais escolaridade e qualificação em diferentes níveis e modalidades. Em países ricos, mais de 50% dos estudantes cursam educação profissional. No Brasil, o percentual é de cerca de 20% entre jovens de 15 a 19 anos. Este fator aponta que o país precisa avançar muito na oferta de qualidade da educação profissional, que é tema da Meta 11 dos Planos de Educação Nacional, Estadual e Municipal de Educação.
A meta estipula que as matrículas na educação profissional técnica de nível médio sejam garantidas com qualidade da oferta, além de um aumento de pelo menos 50% na demanda de vagas gratuitas. De acordo com dados do Observatório do Plano Nacional de Educação (PNE), em 2015, o Brasil tinha 1.787.229 matrículas na educação profissional técnica, sendo que a meta para 2024 é chegar a 5.224.584 jovens em cursos técnicos. Há nove anos do prazo final, 34% da meta foi cumprida.
Apesar de tímido, o número de vagas ofertadas na educação profissional em Campinas vem aumentando. Segundo dados do Observatório do PNE, extraídos do Ministério da Educação, em 2015, foram feitas 14.305 matrículas em cursos profissionalizantes no município, contra 11.033 em 2007, um crescimento que representa quase 30%.
Para João Henrique de Freitas Alves, gerente do Senac (Unidade Campinas/SP), o fato da educação profissional não ser prioridade no país está relacionado a questões culturais. “O assunto ainda gera muito preconceito no Brasil porque o que tem valor é o ensino superior. Hoje, escolher a educação profissional ainda é um demérito. O próprio Ministério da Educação dá menos atenção à educação profissional do que à educação superior”, afirmou.
Outro desafio da educação profissional apontado pelo gerente do Senac é oferecer uma formação menos tecnicista e mais focada no desenvolvimento do indivíduo e da sua criatividade, autonomia e relações interpessoais. Segundo ele, algumas áreas como a de prestação de serviços permitem que temas transversais sejam mais trabalhados. Já em outras, como a da indústria e saúde, há um rigor maior e continuam sendo essencialmente tecnicistas.
Mas para o especialista, o maior desafio ainda é oferecer uma educação profissional que seja atrativa para o jovem, em sintonia com anseios e exigências do mercado de trabalho atual. “O modelo de escola nos últimos anos vem sendo questionado e para a sociedade moderna já não é tão eficaz. O desafio da educação é encontrar uma forma de continuar compartilhando os conhecimentos que a humanidade conseguiu conquistar de forma que as pessoas tenham interesse em obtê-los”, avaliou.
Segundo João Henrique, a metodologia ativa é uma tendência mundial e um dos caminhos para que alunos se engajem no processo educacional. A metodologia ativa possui como principal característica a inserção do estudante como agente principal responsável pela sua aprendizagem. Neste processo, vários métodos podem ser usados, como a busca de soluções para problematizações, aulas ambientes que tiram o aluno da sala de aula e ainda o contato com a comunidade onde o estudante está inserido para o desenvolvimento de projetos conectados com suas vivências.
Procura
Em Campinas, a procura por cursos profissionalizantes e técnicos vem crescendo gradualmente. No último processo seletivo do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), instituição ligada à Unicamp, cerca de 5 mil jovens concorreram a 815 vagas ofertadas em 17 cursos técnicos e quatro cursos de especialização técnica. O curso mais concorrido em 2017 foi Enfermagem, com 26,5 candidatos/vaga.
Já as duas unidades da Escola Técnica Estadual (Etec) de Campinas, Bento Quirino e Conselheiro Antonio Prado, registraram no segundo semestre do ano passado 2.752 matrículas nos cursos técnicos. Na Etec Bento Quirino, a maior concorrência no início de 2017 foi no curso de Informática, integrado ao ensino médio, com 11,3 candidatos por vaga. Já na unidade Conselheiro Antonio Prado, a maior concorrência foi no curso técnico de Química, com 8,59 candidatos/vaga. A alta concorrência nos cursos públicos e gratuitos do Cotuca e das Etecs é justificada pelo grande número de egressos que garantem ingresso no mercado de trabalho, em estágios e também em universidades. Dados recentes indicam que a empregabilidade para os egressos das Etecs é de 77%, ou seja, pelo menos 7 em cada 10 formandos conseguem emprego.
No Centro de Educação Profissional de Campinas “Prefeito Antonio da Costa Santos” (Ceprocamp), ligado à Fundação Municipal para Educação Comunitária (Fumec), o oferecimento de cursos vem aumentando nos últimos anos. O número de alunos matriculados passou de 8.585 em 2015 para 9.802 em 2016.
Com a ampliação de vagas e matrículas, o número de concluintes de 2.069 em 2015 subiu para 3.626 em 2016. Nos cursos técnicos, a taxa de evasão é de 12% e nos de qualificação profissional e EJA Profissões esse número chega a 40%. Segundo Darci Silva, diretora da Fumec, os altos índices de evasão estão principalmente ligados aos desligamentos por mudança de cidade, doença própria ou familiar e também ao acesso ao mercado de trabalho em horário conflitante com o da jornada escolar. São oferecidos no Ceprocamp – que possui duas unidades: no Centro e no Satélite Íris – seis cursos técnicos e outros 18 profissionalizantes em diversas áreas.
Mesmo em escolas que oferecem cursos pagos, como o Senac, a procura vem aumentando anualmente, inclusive entre jovens que já possuem ensino superior. “Isto é uma tendência e chamamos de sobrequalificação. A pessoa que já possui uma profissão, mas busca uma outra como alternativa de qualificação”, explicou João Henrique.
O perfil de quem procura a educação profissional também muda constantemente, e apesar da crise e em função dela, houve um aumento significativo de jovens procurando por qualificação profissional. Em 2015, o Senac Campinas teve 20.219 matrículas e foram ministradas 3 milhões de horas/aula. Já em 2016, a unidade registrou 23.193 matrículas e 2,5 milhões de horas/aula.
“No ano passado, tivemos mais alunos em cursos mais curtos, provavelmente porque a maioria buscou qualificação concomitantemente a outras atividades que não permitiam tanto investimento em tempo. Já em 2017, temos a previsão de realizar 941 cursos com até 25h/aula em 13 áreas de negócios educacionais”, afirmou João Henrique.
A inserção da mulher no mercado de trabalho também é refletida nos cursos do Senac, onde ocupam 61% das vagas. Do total de alunos, 29,3% são jovens de 26 a 35 anos; 24,9% possuem menos de 20 anos e 22,7% possuem de 20 a 25 anos. Em sua maioria, são jovens já inseridos no mercado de trabalho, mas em busca de qualificação para uma possível promoção.
Escolas e mercado de trabalho ainda precisam de sintonia, apesar do aumento de matrículas na educação profissional registrado nos últimos anos. As transformações que ocorrem devido às novas tecnologias e os novos perfis profissionais – que valorizam muito mais a criatividade e a capacidade de relacionar conhecimentos para a resolução de problemas- ainda são características pouco valorizadas nos cursos de formação profissional. Além disso, as disciplinas obrigatórias sobrecarregam o ensino médio profissionalizante, já que o aluno é obrigado a cumprir não apenas as disciplinas relacionadas ao curso como também toda a carga do ensino médio regular.
Saiba mais sobre o Cotuca: cotuca.unicamp.br
Saiba mais sobre as Etecs: www.cps.sp.gov.br
Saiba mais sobre o Senac: www.sp.senac.br
Saiba mais sobre o Ceprocamp: www.ceprocamp.sp.gov.br