Multidisciplinar, Atendimento Terapêutico da Pestalozzi prevê participação familiar

(Por Ingrid Vogl)

Stefani, 14 anos, possui múltiplas deficiências. Desde que começou a frequentar a Associação Pestalozzi de Campinas, ela vem avançando em vários aspectos, como ficar mais tempo acordada durante o dia, virar na cama e firmar o pescoço. Para muita gente, podem parecer coisas simples, mas para essa jovem, sua família e a equipe que a acompanha, são grandes conquistas. Por trás desse desenvolvimento, está a ação conjunta entre profissionais da saúde, que dão orientação de como desenvolver ações com os atendidos, e as famílias, que dão continuidade a esse trabalho terapêutico em casa.

O desenvolvimento da autonomia dentro das potencialidades e possibilidades individuais é o foco do projeto Atendimento Terapêutico: um olhar diferenciado, oferecido na Pestalozzi, e que conta com apoio do Programa Mobilização pela Autonomia (MOB), iniciativa da Fundação FEAC que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência e se dedica a romper barreiras para que possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos. “O projeto vai ao encontro da proposta do MOB no que tange a incentivar a autonomia das pessoas com deficiência”, afirmou Regiane Fayan, líder do programa da FEAC.

O Atendimento Terapêutico é uma iniciativa que complementa as aulas de educação especial, focadas nas inteligências múltiplas, baseada na teoria do psicólogo Howard Gardner, que defende a educação que favoreça o potencial individual. Ao todo, a Pestalozzi atende 80 usuários de até 30 anos.

O serviço é oferecido uma vez por semana aos usuários da Pestalozzi, no contraturno escolar, e acontece sempre às terças, quartas e quintas-feiras, sendo desenvolvido por uma equipe de profissionais de fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia e educação física.

Incentivo à autonomia

O trabalho inter e multidisciplinar do Atendimento Terapêutico visa a autonomia e qualidade de vida dos atendidos, a partir do desenvolvimento de habilidades para tarefas básicas do dia a dia, como escovar os dentes, se alimentar, se vestir e andar. Para definir qual a meta de evolução de cada aluno, as profissionais do atendimento terapêutico fazem uma avaliação e conversam com os pais, para saber quais são as principais necessidades do cotidiano de cuidados em casa.

Segundo Carolina Sellin, diretora da Pestalozzi, o trabalho do Atendimento Terapêutico começa com a avaliação que a equipe de profissionais faz dos usuários. A partir daí é traçado o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), com as metas a serem alcançadas com cada um dos alunos. No PDI, há o alinhamento das necessidades do dia a dia do aluno em casa com o olhar profissional da equipe, sempre com foco nas potencialidades de cada atendido e onde cada um pode chegar. “Procuramos orientar e conscientizar as famílias de que o Atendimento Terapêutico só tem sucesso se acontece a extensão dele em casa”, explicou Carolina.

Segundo Patrícia Tamburo, terapeuta ocupacional, o trabalho integrado da terapia com a família é o que dá resultados positivos no desenvolvimento dos atendidos. “A família conhece as crianças como ninguém, e como ficamos um tempo relativamente curto com elas, esta aproximação com os familiares é muito importante, principalmente para saber quais são as principais dificuldades que a família tem. Dentro do horário da educação especial, podemos acompanhar a rotina deles e observar o que é possível melhorar sempre”, comentou.

Satisfação

Entrar na Sala de Integração Sensorial, onde o Atendimento Terapêutico é desenvolvido, revela a seriedade do trabalho e o resultado nos atendidos, que expressam prazer em estarem no espaço todo equipado e sob cuidados da equipe de terapeutas.

“Aqui ou na sala de atendimento individual trabalhamos as atividades diárias, como a prática de algumas questões relacionadas com a imagem e consciência corporal, como segurar objetos, fazer adaptações de mobiliário ou de talheres, copos, garfos, altura de mesa. Tudo para incentivar a autonomia deles”, disse Patrícia.

A qualidade de vida é outro objetivo do Atendimento Terapêutico. Para isso, a equipe trabalha a prevenção de deformidades articulares, já que muitos atendidos têm articulação reduzida, o que propicia complicações futuras.  “Trabalhamos alongamento e procuramos também orientar os pais ou responsáveis como fazer os exercícios em casa, com objetivo de tentar estimular ao máximo a mobilidade”, contou Francini Bertolais Basilio, fisioterapeuta. 

No momento em que estava na Sala de Integração Sensorial, a fonoaudióloga Ariane Costa Monteiro Moreira trabalhava movimentos e exercícios com Stefani. Com um sorriso no rosto, a profissional revelou a satisfação dos resultados que o trabalho multidisciplinar traz para os atendidos.

“É uma delícia trabalhar com esse público. A gente vai descobrindo nos detalhes como podemos ser múltiplos e globais, trabalhando com questões da vida diária, postural e de comunicação. Assim é possível desenvolver o todo, como se não existisse diferença nem deficiência”, concluiu.

Para as famílias dos usuários da Pestalozzi, o acompanhamento do Atendimento Terapêutico e as orientações da equipe geram um constante aprendizado. “Antes de chegar aqui, não tinha informações para ajudar a desenvolver a autonomia da minha filha. Ao longo das sessões, as terapeutas vão nos ensinando a como lidar e como incentivar a independência dela, dentro de seus limites. As orientações mudaram a dinâmica dos cuidados com minha filha em casa, porque eu fazia algumas coisas que não eram as mais adequadas. Cada pequeno avanço é uma vitória”, disse Francisca Maria Lopes Martins, mãe de Stefani.

Mais informações sobre o MOB: https://www.feac.org.br/mobilizacaoparaautonomia/