A partir deste mês, o Boletim Eletrônico do CCE divulga a seção Nossa Escola, que irá trazer mensalmente uma matéria sobre escolas da rede pública de Campinas. O objetivo é traçar um breve perfil sobre as unidades e mostrar suas principais características e os desafios a serem enfrentados pela comunidade escolar.
Ingrid Vogl
Nos cumprimentos e abraços logo na entrada, na relação entre a equipe de profissionais e até mesmo nos cuidados com o que faz parte do ambiente escolar, tudo remete a uma atmosfera de respeito, tranquilidade e harmonia na Escola Estadual Professor Roque de Magalhães Barros, localizada no bairro Real Parque, no distrito de Barão Geraldo – Campinas/SP.
A pequena escola dos anos iniciais do ensino fundamental, onde os alunos são sempre chamados pelo nome, insiste em comprovar que a educação é o melhor investimento para a vida das crianças e deve ser valorizada, mesmo em meio à realidade de um dos bairros mais carentes da região que convive com problemas como a violência, drogas e desemprego.
“Quando matriculei meu filho aqui no 1º ano, por causa da proximidade com minha casa, vim com o pé atrás, porque o bairro tem uma fama ruim. Mas em pouco tempo essa má impressão foi desfeita e percebi que a escola é um oásis no meio dessa realidade de violência e drogas. É uma esperança na educação das crianças que estudam aqui”, disse a jornalista Cinthia Maria Dias Lourenço, mãe de aluno da escola, que também aponta alguns obstáculos a serem enfrentados.
“A troca constante de professores que leva à falta de continuidade dos trabalhos em sala de aula e a necessidade de professores estarem mais preparados para lidar com os alunos são desafios a serem vencidos”, analisou.
O filho, Diogo Lourenço Andrade, que hoje está no 5º ano, sente-se à vontade no ambiente escolar onde tem vários amigos e feliz com a nova professora. “Ela ensina bem, gosto das lições que ela passa”, disse o bom aluno que tem sua preferência pelo português.
E é exatamente esse clima familiar que o diretor da escola, Oséias Batista dos Santos, faz questão de manter e fortalecer. “Procuramos fazer um trabalho afetivo para que a comunidade e os alunos sintam que a escola é a extensão de suas casas, mas fazendo-os entender que o professor deve ser respeitado, pois ele (respeito) é fundamental para a troca de conhecimentos”, disse.
Para reforçar o sentimento de pertencimento dos alunos com a escola, a equipe de educadores procura estreitar cada vez mais a relação com a comunidade. Além da unidade permanecer aberta aos sábados e domingos, das 9h às 17h oferecendo atividades variadas que vão desde culinária, artesanato, panificação até informática; a gestão da escola sempre busca apoio em ações como a pintura interna das salas de aula em que moradores participaram.
“Queremos cada vez mais a comunidade próxima da escola e, em pouco mais de um ano que estou aqui, estamos conseguindo cada vez mais fazer esse trabalho”, afirmou o diretor.
Mas esta aproximação deve ser cada vez maior e ainda enfrenta alguns desafios, como destacaram algumas professoras. “É preciso um maior comprometimento dos pais com a educação de seus filhos”, ressaltou a professora orientadora Rosemary Monteiro Brollo. “A escola precisa ser mais valorizada pelos alunos e seus pais”, complementou Neyde Elizabeth Alves, professora há 22 anos.
Infraestrutura
Antes de se tornar uma escola em 1982, o prédio da E.E. Roque Magalhães funcionava como um posto de saúde. Por esse motivo, várias adaptações foram necessárias, e até hoje a infraestrutura é um dos maiores desafios que a gestão enfrenta. A quadra para as aulas de educação física é pequena e descoberta, o teto das salas requer reparos e não existem banheiros específicos para os profissionais.
Mas a equipe escolar sempre busca formas de driblar os problemas. Cortinas, carteiras e cadeiras de algumas salas de aula, além de outras peças do mobiliário foram doados por outras escolas e alguns serviços estruturais também tiveram o apoio da comunidade. “Como a verba repassada pelo Estado não é suficiente para todas as necessidades estruturais da nossa unidade, sempre estamos em busca de parceiros, seja membros da comunidade ou empresas disposta a ajudar”, afirmou o diretor, que além da função administrativa, também coloca a mão na massa literalmente e realiza alguns serviços como pedreiro, eletricista e jardineiro.
“Aqui, cuidamos de tudo um pouco e isso me ajuda inclusive a relaxar, eu me realizo. Se não fosse diretor, seria jardineiro”, concluiu o gestor nada convencional que demonstra o carinho pelo cotidiano escolar não só com a atenção a cada um dos alunos, mas também nas plantas bem cuidadas por toda a escola e em pequenas obras realizadas, como uma rampa de acessibilidade e um muro entre a entrada e o estacionamento para garantir mais segurança.
Unidade
Apesar das dificuldades com a infraestrutura do local, a equipe de educadores está sempre unida e faz questão de acolher bem toda a comunidade escolar. “Tenho 32 anos de carreira e acabei de chegar nesta escola onde fui acolhida pelos meus colegas e me sinto muito bem, como em casa”, disse a professora Márcia da Silva Oliveira.
“Nossa escola é pequena e é muito importante que estejamos unidos para trabalhar”, acrescentou a professora Maria de Fátima Bina Zeferino. A união dos educadores é reforçada por Oséias, que já atuou como professor mediador e aposta em decisões conjuntas para uma boa convivência e um trabalho pedagógico de qualidade.
Se por um lado o número pequeno de alunos é visto como um ponto positivo da escola, pelo fato do professor conseguir ser mais atencioso com cada um dos alunos e ter a possibilidade de trabalhar de forma adequada os projetos educacionais e não existir a superlotação de classes, por outro, traz a preocupação com o esvaziamento da escola.
“Com nosso trabalho de cuidado com as crianças e sua escolarização, estamos construindo o nome da Roque Magalhães na comunidade, sempre preocupados em crescer mas com qualidade”, explicou o diretor, que comemora a abertura de mais uma sala de aula para o ano letivo de 2016.
E depois de um dia de novos conhecimentos, Oséias coloca para tocar em seu computador “Aquarela”, de Toquinho, que as caixas de som instaladas no pátio levam para as salas de aula. “Sempre coloco uma música nos 10 minutos finais das aulas para que as professoras comecem a preparar a saída dos alunos e tudo aconteça com calma”, explicou. E que essa tranquilidade e determinação sempre estejam presentes na pequena e persistente escola de Barão Geraldo.