(Por Claudia Corbett)
O esporte é uma das alternativas para inclusão e autonomia de pessoas com deficiência visual. Às melhorias da condição física, equilíbrio e coordenação motora somam-se ainda o aumento da autoestima e o fortalecimento do posicionamento na sociedade.
Há seis anos, o Taekwondo é um dos esportes oferecidos no Instituto dos Cegos Trabalhadores de Campinas (ICTC), entidade parceira da Fundação FEAC. Foi implantado pelo professor voluntário Fábio Antonio Ferreira da Silva, faixa preta internacional na modalidade.
Especializado em Parataekwondo, o educador ensina o Poomse, uma espécie de luta imaginária dentro deste esporte oriental. Trabalha com seus alunos uma série de movimentos com técnicas de defesa e ataque padronizados. A dinâmica ajuda na concentração, equilíbrio e coordenação motora.
“Eles chegam de cabeça baixa e estressados. Logo no primeiro contato com as regras desta arte marcial começam a mudar a postura. Muitos entram descrentes. Foram tolhidos de atividades físicas por causa da deficiência. Nas aulas de educação física eram colocados para fazer trabalhos escritos sobre esportes,”, relatou.
“A prática esportiva realizada por qualquer pessoa traz melhorias físicas, emocionais e psicológicas. Esta ação, quando executada por instituições que atendem pessoas com deficiência, deve alinhar a qualidade de vida aos objetivos dos serviços ofertados. Só assim, o esporte contribuirá de maneira mais assertiva para o desenvolvimento pleno da pessoa”, complementou Alann Scheffer Oliveira, assessor social do Departamento de Assistência Social, da Fundação FEAC.
Fábio faz o trabalho com as equipes em dois momentos. O primeiro é Taekwondo adaptado. Nesta fase, o deficiente visual conhece e se adapta ao Dojang, espaço onde as aulas acontecem. A segunda etapa é quando, já familiarizado com o esporte, escolhe se quer somente praticar a arte marcial ou se está em busca de um esporte de competição.
O local onde as aulas acontecem, três vezes por semana, em nada precisou de adaptação. “Somente quando estou ensinando o “Poomse” coloco uma fita adesiva no chão, para marcar a posição dos pés e a direção dos movimentos. Mas a adaptação deles é rápida e logo não há necessidade do uso”, enalteceu.
De seis em seis meses, os alunos mudam de faixa, que ao todo são 11. Partem do branco, passando pelo amarelo, verde, vermelho e azul até chegar ao preto. Uma vez ao ano, os alunos têm a oportunidade de fazer aula com o mestre da Federação do Estado de São Paulo de Taekwondo, Wilson Lopes. O treino junto a este especialista traz melhorias nos movimentos propostos pelo esporte.
Paratletas
Três dos alunos da Oficina de Taekwondo do Instituto dos Cegos Trabalhadores de Campinas irão mais uma vez participar do Campeonato Estadual de Para-Taekwondo, na categoria Poomse, em maio deste ano.
Adriana Gualhardo Pereira, 29 anos, coleciona medalhas. “Tenho oito e estou indo em busca de mais uma neste campeonato”. Junto com Ivaiton de Souza Andrade (Tom), 24 anos, a paratleta conquistou medalha de ouro, na mesma competição em 2015.
Para Adriana, o desafio do esporte diminui o seu estresse. “Gosto de aprender coisas novas. A energia que se gasta com os movimentos, seguidos dos gritos ao término de cada sequência, alivia as tensões”, destaca.
Jaqueline Silva dos Santos, 27 anos, é a terceira paratleta que se une com a dupla para a disputa do estadual que acontece este ano no Centro Paralímpico de São Paulo/SP. Há dois anos na Oficina de Taekwondo do ICTC, a garota conta que está realizando um sonho. “Eu tinha baixa visão e assistia filmes de pessoas fazendo este esporte e achava interessante. Queria fazer, mas encontrava uma barreira nas academias”, conta Jaqueline que hoje está na faixa branca ponta amarela, a segunda na classificação do Taekwondo.
Aulas abertas
O ICTC também ministra aulas de Taekwondo para a comunidade, mediante pagamento. “Esta verba é revertida para compras de equipamentos ou no auxílio do transporte para os locais de competição”, disse o educador.
Uma vez por mês há uma aula interativa entre cegos e videntes, uma maneira de convivência dentro do esporte e trocas de experiências.
A oficina também é aberta para todas as pessoas com deficiência visual que desejarem praticar o Taekwondo. Mesmo para as que não são atendidas pelo Instituto. “A ideia é propagar o bem que essa atividade física proporciona e a diferença que ela traz para a vida de quem não enxerga”, finalizou Fábio.
Saiba mais: www.icct.org.br