Ateliê de Artes oferece experiência artística para pessoas com deficiência intelectual e síndrome de down

(Por Ariany Ferraz)

Os adultos com deficiência intelectual e síndrome de down enfrentam diversas limitações socialmente impostas. Uma delas é a inclusão relacionada ao acesso à bens e produções culturais. Para enriquecer repertórios e proporcionar vivências que gerem conhecimento artístico, cultural e social surge o projeto Ateliê de Artes’. A iniciativa integra o Serviço de Apoio a Vida Adulta da Fundação Síndrome de Down (FSD). Apoiado pela Fundação FEAC por meio do Programa Mobilização para Autonomia (MOB), o projeto tem como  objetivo promover a inclusão social, qualidade de vida, autonomia e desenvolvimento pessoal por meio da arte.

A arte abre caminhos para autoestima, confiança e autonomia. O contato com as diversas linguagens artísticas permite canalizar criativamente o potencial e as habilidades dos participantes.“Trazer a possibilidade de expressão às pessoas com deficiência, por meio do uso da arte, e aumentar seu repertório cultural são essenciais também para a construção da autonomia dos indivíduos”, comentou Regiane Fayan, líder do MOB. 

Escultura e modelagem com argila, desenho, crochê, pintura acrílica, guache e tridimensional. Essa são algumas das modalidades artísticas disponibilizadas no ateliê. As oficinas são destinadas a jovens e adultos a partir dos 16 anos que sejam atendidos pela instituição. Atualmente são 15 participantes divididos em três grupos com frequência às   terças e quartas-feiras das 14h30 às 16h30e também na quarta das 9h30 às 11h30.

“É um movimento de entrar em contato com a subjetividade, com o olhar integral. É um espaço onde os usuários podem explorar seus mundos, ampliar o olhar artístico e repertórios”, afirma Ana Carolina de Freitas, coordenadora do projeto. Nas atividades são trabalhadas as potencialidades de organização de pensamento e das emoções a fim de facilitar a elaboração de sentimentos e sensações por meio das linguagens artísticas.

Com foco no desenvolvimento individual, o projeto tem um conteúdo referencial, sem ser inflexível. “É um lugar de escuta. Em primeiro lugar chegar com afeto antes da pedagogia. Eu não sou um professor regular que chega com uma aula específica e um conteúdo pronto. Estou aqui para receber a individualidade, entender as necessidades e o potencial de cada um”, pontuou Rodrigo Faria, arte educador. 

Ele explica que os níveis de deficiência são variados e diferentes e que o repertório de cada pessoa influencia no que vai ser ensinado. Rodrigo conta que busca explorar o próprio universo da pessoa, porque existem referenciais artísticos que são pontos de partida para o trabalho a ser desenvolvido. “Geralmente eles têm familiaridade com o lápis de cor e começam pelo desenho, que é uma coisa que já fizeram na infância. É entender o repertório que cada pessoa traz e ir complementando, ensinando”, revelou. Ana Carolina completa, “É a importância da experiência e dos olhares que cada um traz”. Assim, os participantes ficam livres para escolherem e criarem à vontade, cada um no seu ritmo, contando com uma orientação individual.

Concentrada, Ivanete Goze, 53 anos, modela cuidadosamente um vaso de argila. No ateliê há três anos ela conta que se descobriu na arte, já fez pintura, desenho e agora está adorando fazer modelagem em argila. “Eu me sinto bem melhor mesmo! Estou aprendendo um monte de coisas novas”, contou.

As atividades auxiliam em aspectos cognitivos, psicomotores, de linguagem, afetividade, entre outros. “O desenho de um participante com mobilidade reduzida costuma ser contido e minucioso, que dá certo com a pintura de cubos, já que o material é pequeno e tem vários lados, o que exige um cuidado maior. Outros alunos que são mais agitados não conseguem. Outra participante que tem um perfil mais agitado e acelerado, por exemplo, prefere a pintura em grande formatos, em tela com colher e massa acrílica. Assim ela extravasa o que está sentindo!”, comentou Rodrigo.

Já Júlio César, 37 anos não gosta de desenhar, mas tem uma paixão especial: moda. Na turma ele traz um talento único, fazer crochê. “Gosto muito de arte. Meu sonho é ser estilista e modelo”, disse com cachecóis em mãos. 

Apesar do espaço ser de muita liberdade, é possível trabalhar a questão de lidar com o novo, responsabilidade, regras e tarefas. “Eu avalio se eles conseguem realizar tarefas com autonomia para, por exemplo, buscar e guardar os materiais. Eles lidam muito com a frustração também, às vezes uma cor não saiu como deveria ou se revela uma mancha. E arte é isso, é lidar com o acaso e ir improvisando”, indicou o arte educador que também avalia a aptidão para encaminhamentos ao mercado de trabalho.

Mas não é só abstração em momentos individuais, existem também as atividades em grupo. O processo  é  natural para que todos se sintam à vontade e construam algo juntos. Assim, as oficinas permitem o estabelecimento de vínculos, além da qualificação do repertório cultural de todos graças a passeios e visitas técnicas a espaços culturais que também se tornam oportunidades de inclusão social. A expectativa é que os participantes sejam capazes de apresentar vernissages e exposições dos seus trabalhos. Para o mês de dezembro está prevista mais uma exposição, para compartilhar os resultados do ano de trabalho.

Sobre o Programa MOB

O Programa Mobilização para Autonomia (MOB) é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência. Se dedica a romper barreiras para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos.

Informações: [email protected]

(19) 3790-2818