(Por Laura Gonçalves Sucena)
Idelma, mãe de dois filhos biológicos e um adotado, estava inquieta porque achava que deveria fazer alguma coisa para ajudar o próximo. Os dias se passavam e sua angústia só aumentava, até que recebeu um e-mail falando sobre o serviço de Acolhimento Familiar – Família Acolhedora.
A funcionária pública e seu marido, o engenheiro Kleber Oliveira, logo se interessaram e foram buscar mais informações. Conheceram o Sapeca, um dos serviços de acolhimento do município, e após as entrevistas fizeram as formações. A partir daí, passaram a ser uma Família Acolhedora e já estão no sexto acolhimento, com duas crianças.
Para Idelma, acolher uma criança é uma forma de amor. “É um amor desinteressado, onde você dá e não espera nada em troca. Na primeira visita ao serviço estava acompanhada da minha filha, na época com 15 anos, e saímos de lá apaixonadas. Voltei com meu marido e aconteceu a mesma coisa, daí não teve jeito, tivemos que acolher as crianças”, exclamou.
Idelma e seu marido fazem parte de um grupo de pessoas altruístas, que pensam no bem e na felicidade dos outros. “Essas crianças precisam de nós. Claro que é difícil no momento que elas vão embora, afinal quando estão conosco são parte da nossa família. Mas pensamos em todas as coisas boas que acontecem e as que estão por vir e é vida que segue, porque outras crianças também vão precisar do nosso amor”, garantiu.
Muito mais para doar
A história de Idelma e Kleber Oliveira é marcada de amor. E esse verbo intransitivo é o ponto em comum das famílias que foram homenageadas pelos serviços de Acolhimento Familiar – Sapeca e Conviver, e pela Fundação FEAC, por meio do Programa de Acolhimento Afetivo, no último 08 de dezembro. Num buffet infantil, pais, filhos biológicos e crianças acolhidas se divertiram e tiveram mais um momento de confraternização.
De acordo com Ana Lídia Puccini, líder do Programa Acolhimento Afetivo, a iniciativa de promover esse momento foi uma forma de reconhecimento e valorização dessas famílias, que se propõem a acolher e cuidar de crianças nos primeiros anos de suas vidas, período essencial para seu desenvolvimento. “Todo o carinho e cuidado dispensado por eles para essa causa precisa ser amplamente divulgado, reconhecido e valorizado, para toda a sociedade”, comentou.
“Esse momento foi o início do que pretendemos para o Projeto Famílias Acolhedoras em 2019: reconhecimento pela sociedade dessas famílias para formalização de parcerias que possam contribuir para a manutenção das que já acolhem, e para ampliação das que tenham interesse em acolher e doar carinho e proteção”, falou Ana Lídia.
No encontro as histórias se repetiam, mas cada uma com sua peculiaridade. O engenheiro Robert de Sousas Santos e sua mulher Crislaine Paixão ficaram sabendo sobre as Famílias Acolhedoras através de uma reportagem. “Me bateu a vontade de fazer alguma coisa relacionada ao social e fui pesquisar. Logo apareceu o Sapeca e fui obter mais informações. Na hora eu me apaixonei e o mesmo aconteceu com meu marido. Nossa mente se abriu conforme fomos participando das reuniões e quando chegou o momento da nossa acolhida foi incrível. A bebê veio com 7 meses e ela é muito tranquila e sorridente. Está sendo maravilhoso ver sua transformação. Sabemos que ela vai partir e, por isso, vivemos cada dia de uma vez”, falaram.
Marjory Santa Maria e seu marido Miguel, do Conviver, estão acolhendo há pouco mais de 1 ano e recomendam a experiência. “Meus filhos estão crescidos e estava tudo muito sossegado, sem choro e sem agitação. Falei com meu marido e com os meninos e resolvemos conhecer o serviço e saber do que se tratava. Nos apaixonamos e fomos fazer a capacitação”, disse.
“Eu não via a hora de receber uma criança. Sou muito ansiosa e logo comprei berço e um enxoval de menina. Mas na primeira acolhida veio uma criança de 6 anos!”, contou com bom humor. Atualmente, eles acolhem duas meninas e nem pensam em parar.
O casal Paula Cristina e Osmael Breda cuidam de uma menina de 4 meses que chegou com apenas 8 dias. “Eu não posso ter filhos e resolvemos ser uma Família Acolhedora. Nossa primeira acolhida foi com uma criança de 6 meses e tivemos que nos adaptar. Temos contato com ela até hoje, porque conhecemos os pais biológicos e sabemos que ela está bem. Depois recebemos um menino lindo. Acho que agora pegamos o ritmo e estamos muito felizes. Claro que é dolorido quando eles vão embora, mas temos muito amor para dar. Um amor desinteressado”, comentaram.
No município
Em Campinas, o Acolhimento Familiar é de responsabilidade de dois serviços: o Sapeca, vinculado à Secretaria de Assistência Social e Segurança Alimentar da Prefeitura Municipal de Campinas e o Conviver, vinculado à instituição Associação de Educação do Homem de Amanhã (AEDHA) – Guardinha, que recebe apoio institucional da Fundação FEAC.
Segundo a coordenadora do Conviver, Érica Ferraz, o maior desafio é conseguir mais famílias para que todas as crianças de 0 a 6 anos possam deixar o acolhimento institucional. “Atualmente temos 18 famílias acolhendo e isso é pouco se comparado com o tamanho do nosso município. É importante que as famílias saibam que acolher é dar amor. Essa dedicação a uma criança faz toda a diferença em sua vida. É a ressignificação através da dinâmica familiar”, falou.
A chefe de setor do Sapeca, Ana Carolina Pereira, explica que o cuidado individualizado para a criança é garantia de um desenvolvimento global. “Pesquisas apontam como é importante esse cuidado individualizado, especialmente na Primeira Infância. Então, é preciso focar no benefício que elas estão fazendo na vida da criança e isso torna a despedida uma pequena parte de um todo. Doar cuidado, afeto e proteção é muito mais do que a despedida”, completou.
Eliane Jocelaine Pereira, secretária municipal de Assistência Social e Segurança Alimentar, conta que é necessário se evitar o acolhimento institucional para as crianças devido aos prejuízos para o desenvolvimento infantil. “A interação familiar é muito importante e apesar de contarmos com serviços de qualidade, nada substitui uma família. Campinas é referência no Acolhimento Familiar e nossa intenção é ampliar o serviço que de forma individualizada assegura carinho, amor e cuidado”, garantiu.
Como funciona
Por meio do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, famílias cadastradas acolhem, em suas residências, crianças de 0 a 6 anos afastadas do convívio familiar por medida de proteção ou pelo fato de a família se encontrar temporariamente impossibilitada de cumprir suas funções de cuidado e proteção. Nesse período, são realizados esforços visando o retorno das crianças ao convívio com a família de origem, extensa ou com pessoas significativas e, na impossibilidade, o encaminhamento para adoção.
As famílias que atendem aos requisitos iniciais podem se inscrever para participar do serviço, são avaliadas por uma equipe de profissionais e devidamente capacitadas para acolher a criança. As famílias habilitadas recebem acompanhamento da equipe técnica do Serviço de Acolhimento, antes de iniciar o acolhimento, durante e no processo de desacolhimento. “O fundamental é ter disposição afetiva e emocional para participar de uma ação que pode mudar a vida de uma criança e de sua família”, explicou a secretária municipal.
Acolhimento Afetivo
O Programa Acolhimento Afetivo é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe no bem-estar e proteção das crianças, adolescentes, adultos e idosos em situação de acolhimento. Tem como objetivo garantir espaços de construção de identidade e cidadania plena, ampliando as redes individuais de vínculos familiares e sociais protetivos.