A meta de acabar com a fome no mundo até 2030, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, parece estar um pouco mais distante. Um relatório divulgado nesta segunda (12/7) pela ONU mostra que, após cinco anos de relativa estabilidade, a fome no mundo passou por um aumento significativo em 2020, primeiro ano sob a pandemia de Covid-19.

Segundo o documento O estado da insegurança alimentar e nutrição no mundo (SOFI) 2020, elaborado por cinco agências da ONU, no ano passado até 811 milhões de pessoas sofreram com a fome, um aumento de cerca de 161 milhões em relação a 2019. De acordo com o relatório, se nada de novo for efeito, a estimativa é que ainda haja 660 milhões de pessoas passando fome em 2030.

Veja abaixo alguns dos principais destaques do relatório.

A América Latina chega a 60 milhões de pessoas com fome

Mais da metade das pessoas com fome no mundo em 2020 vivia na Ásia (418 milhões) e um terço, na África (282 milhões). Já a América Latina e o Caribe viram aumentar em 14 milhões o número de pessoas com fome, chegando no ano passado a um total de 60 milhões.

Mesmo quando não há fome, há precariedade na alimentação

Não foi apenas a fome que teve aumento significativo com a pandemia. Estima-se que mais de 2,3 bilhões de pessoas, ou 30% da população mundial, não tiveram acesso à alimentação adequada em 2020, um aumento de 320 milhões em relação a 2019.

Esse fenômeno, conhecido como insegurança alimentar moderada ou severa, também pode trazer consequências graves para o desenvolvimento infantil e para a saúde da população em geral.

A fome é cada vez mais feminina

O aumento das restrições ao acesso à alimentação saudável tem um fator de gênero. Mulheres experimentaram um índice de insegurança alimentar moderada ou severa 10% maior do que homens em 2020.

No ano anterior, essa diferença era de 6%.

As crianças sofrem com má nutrição

Dentre os 135 países pesquisados, 90% relataram mudanças na cobertura de serviços básicos de nutrição para crianças. Estima-se que os efeitos da pandemia podem levar a um aumento de até 16,3 milhões de crianças com menos de 5 anos em situação de má nutrição e 3,4 milhões apresentarão problemas de crescimento.

No Brasil, a qualidade da alimentação piorou

No país, 49% das pessoas relataram mudanças nos hábitos alimentares durante a pandemia, deixando de lado alimentos saudáveis pelos processados, mais baratos, porém menos nutritivos.

Cerca de 30% dos lares com crianças aumentaram consumo de comidas processadas contra 18% nos lares sem crianças.

A FEAC e o combate à fome

Logo nas primeiras semanas da pandemia, a Fundação FEAC percebeu o aumento da insegurança alimentar entre a população vulnerável de Campinas. Os relatos chegavam por meio das organizações parceiras, que atuam diretamente do atendimento das populações. Esse cenário levou à criação da campanha Mobiliza Campinas. Em 2020, a iniciativa entregou cartões alimentação para 6.300 famílias. A persistência da pandemia fez com que fosse realizada uma segunda edição em 2021, dessa vez com o objetivo de atender outras 8 mil famílias.

A campanha busca abordar diversas questões relatadas também no documento da ONU. A opção por entregar cartões alimentação, por exemplo (e não cestas básicas), permite às famílias mais diversidade na escolha dos produtos alimentares. Além disso, a presença de crianças nos lares foi um dos principais critérios para a escolha dos beneficiários, e 93% dos cartões foram emitidos em nome de mulheres, combatendo os efeitos da desigualdade de gênero no acesso à alimentação.

   • Leia mais sobre a campanha Mobiliza Campinas.

 

Por Frederico Kling