(Por Camila Mazin)
A escola possui um importante papel no desenvolvimento infantil, mas não é a única instituição responsável. Por ser um processo infinito e que ocorre em diferentes ambientes e contextos, as famílias também possuem capacidade de protagonismo em relação às demandas e desafios do desenvolvimento e, a seu modo, vão se instrumentalizando para saber como lidar em cada situação que se apresenta no cotidiano da vida de uma criança.
Em 2020 a educação foi um dos setores mais atingidos pela pandemia do Coronavírus. Pais, crianças e professores se depararam com um cenário completamente novo e incerto, sendo que o que já era um processo complexo se tornou um grande desafio para todos.
Diante disso, o programa Primeira Infância em Foco (PIF) da Fundação FEAC, em parceria com o Instituto Arcor, possibilitou uma formação inicial em Desenvolvimento Infantil para as equipes gestoras (diretoras e orientadoras/coordenadoras pedagógicas) que atuam direta e indiretamente com crianças de 0 a 6 anos, nas Organizações da Sociedade Civil de Educação Infantil, participantes do Programa PIF, além de outros profissionais e famílias acolhedoras que atuam no Programa de Acolhimento Afetivo. A segunda etapa da formação contemplou 220 professores e a terceira etapa, a ser desenvolvida em 2021, contará com os monitores que atuam diretamente com as crianças nas creches e pré-escolas municipais que fazem parte deste segmento de atuação.
A formação aconteceu nos meses de outubro a dezembro, por meio de encontros online semanais com carga horária total de 18 horas. O grande objetivo era assegurar que as equipes gestoras e pedagógicas tivessem clareza na importância do desenvolvimento infantil e seu impacto na primeiríssima e primeira infância. Além de possibilitar às famílias acolhedoras e profissionais da área conhecerem mais sobre os processos do desenvolvimento infantil.
Para desenvolver uma formação assertiva foi realizada uma escuta com gestores e professores das instituições da educação infantil para identificar e entender as necessidades apresentadas por eles: a garantia do desenvolvimento infantil pleno e o trabalho em parceria com as famílias. “A formação priorizou esses dois elementos tão essenciais no trabalho das escolas de educação infantil. Afinal, garantir o desenvolvimento é garantir a aprendizagem plena da criança e ter a parceria com as famílias, para caminharem juntos neste processo é dar realmente o direito à educação para todos”, comentou Roberta Borges, coordenadora do Programa de Estudos de Política Pública para a educação infantil e pesquisadora do Núcleo de Políticas Públicas da Unicamp, umas das profissionais que ministrou a formação.
Segundo a coordenadora do PIF, Juliana Di Thomazo, o desenvolvimento infantil consiste em um processo complexo que exige um olhar amplo e cuidadoso. Além de conhecimento técnico e prático sobre como ocorre e quais intervenções educativas podem ser efetivas, é preciso um constante aprimorar e muito afeto para sermos capazes de oferecer a melhor condição para o desenvolvimento das crianças pequenas.
Por isso, o tema precisa ser pauta recorrente no cotidiano escolar, alinhado pela equipe gestora de forma democrática e participativa, por meio da liderança cooperativa da coordenação pedagógica, envolvendo todos os professores e demais profissionais que atuam direta ou indiretamente com a criança. “A família é fundamental na promoção do desenvolvimento de seus filhos. Para que o desenvolvimento seja integral e integrado é preciso apoiá-las no cuidado responsivo e protetivo de seus filhos. A escola tem um papel muito importante”, comentou Juliana.
Essa questão é reforçada por Evelyn Eisenstein, professora e especialista, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, da Rede Nacional da Primeira Infância e da Rede Universitária de Telemedicina. “Crianças são frutos da vida. Precisam ser queridas, cuidadas, protegidas do excesso ou da falta de condições de segurança ou adversas para o seu crescimento e desenvolvimento”. Evelyn foi uma das profissionais que ministrou a formação, na área da Saúde.
À medida que uma criança cresce e se desenvolve, a escola e as redes de relacionamento se tornam cada vez mais influentes em seu desenvolvimento, por isso é tão importante todos estarem alinhados para proporcionar um desenvolvimento pleno e eficaz. “Quanto mais a gente conhece, investiga e amplia o nosso olhar a respeito da vida da criança, mais insumos a gente tem para qualificar nossas práticas e relações com elas. Isso é fundamental porque não há qualidade de trabalho educativo sem estudo e investigação, tanto na teoria quanto na prática, quando a gente observa e acompanha o crescimento e desenvolvimento das crianças”, reforça a educadora Raquel Franzim.
Segundo Aline Fernandes, uma das educadoras que participou da formação, “o professor deve desconstruir, ter incertezas e sentidos apurados para o trabalho com a criança pequena”. Crianças estão sedentas por novas descobertas e cabe aos educadores e à família estarem atentos.
Mais do que formação, acreditamos em um processo de “transformação continuada”. O percurso vivido nos últimos meses de 2020 é o início de um percurso que se seguirá no próximo ano. O que se pretende é envolver a todos, inspirar e encantar. Desejamos, juntos, rever práticas e reafirmar a importância de uma escola da infância, onde a criança seja feliz, respeitada e acolhida afetivamente. Queremos uma escola que pratique a escuta ativa da criança e assegure os seus direitos fundantes. Um espaço que garanta o direito ao brincar, ao exercício do universo lúdico, o direito ao aprendizado rico e contextualizado, o direito aos desafios e descobertas que toda criança busca e explora incansavelmente.