Foi com o dinheiro do trabalho de carteiro na cidade de São Paulo que surgiu o primeiro investimento fotográfico: uma Zenit de 35mm. Apesar de ser a mais barata do mercado na época, a câmera russa chegou para selar a paixão pela imagem estática. Aos 28 anos, porém, João Maia foi baqueado pela realidade quando uma inflamação no centro dos olhos tirou-lhe a visão. Aposentado por invalidez, o piauiense radicado em São Paulo começou a correr. Literalmente. O atletismo, além de proporcionar uma bolsa integral na faculdade, onde graduou-se em história, conduziu João novamente à fotografia. Agora, aos 41 anos, ele irá cobrir as Paralimpíadas, que começam no dia 7 de setembro.
“Já fui questionado por amigos do por que eu gostava de fotografia se não poderia vê-las. Mas a fotografia não é só pra ser vista, é pra ser sentida. Fotografia é memória”, pondera o ex-atleta, que desde 2008 faz cursos direcionados à deficientes visuais em instituições renomadas como Senac, MAM (Museu de Arte Moderna) e Pinacoteca. Maia usa a palavra “privilegiado” para definir sua situação atual. A convite do Projeto Superação 2016, ele e um time de sete profissionais, inclusive um fotógrafo cadeirante, irão lançar um documentário, um livro e uma exposição com o material coletado durante o evento.
Saber a raia onde o atleta a ser clicado está também é importante. Depois disso, os sentidos e a experiência coordenam o trabalho. “Fui atleta. Conheço cada prova. Sei como o competidor se comporta”, pontua o profissional.
“Tenho resíduo visual. Vejo vultos e cores. Percebo uma mancha colorida lá na frente, e é assim que me guio. Mas não sei a expressão do atleta, se ele está sorrindo, se está estressado. Preciso dessas parcerias para saber se o competidor está vestido de vermelho, de amarelo. Assim, consigo distingui-lo dos outros.”
O apoio é necessário também no momento de selecionar e tratar as fotos. “Não sei se estão borradas, desfocadas. Preciso sentar com alguém e ir discutindo. Sou muito exigente. Sempre pergunto se está borrada, torta”, dispara.
“Não quero que as pessoas gostem das minhas fotos só porque sou deficiente. Quero que gostem pela técnica, pela qualidade, pelo enquadramento. Tenho toda a preocupação com essa questão”, revela o piauiense nascido numa família de 10 irmãos.
A história de Maia, que acredita ser o primeiro fotógrafo deficiente visual brasileiro a cobrir as Paralimpíadas, transborda bravura, mas os percalços ainda são muitos. A falta de preocupação da indústria fotográfica em tornar seus equipamentos mais acessíveis ainda é um obstáculo na raia de quem quer correr até o pódio e ser reconhecido como profissional competente. “Nós, deficientes, só queremos a possibilidade de trabalhar, mas precisamos da sensibilidade. Quando uma empresa não se preocupa com isso, ficamos em desvantagem.”
Fonte: Portal de A a Z
Hoje, suas lentes e foco estão voltados para o atletismo. Para cobrir as competições, ele precisa sempre de alguém para fazer a assistência, principalmente na hora de fotometrar. “Falo o ajuste da câmera, se quero uma velocidade alta, uma abertura de diafragma menor, o ISO.”