(Por Laura Gonçalves Sucena)
Contribuir com boas práticas de gestão para ampliar os impactos das Organizações da Sociedade Civil (OSC). Desta forma, o Gerir, projeto do Programa Qualificação da Gestão da Fundação FEAC, vem atuando para qualificar o trabalho das instituições que, adotando ferramentas e processos eficazes, capacitam suas práticas no terceiro setor.
Este ano, além dos encontros que abordaram a gestão administrativa-financeira, o Gerir 2019 propôs aos participantes um exercício de ir a campo e conhecer a realidade de outras instituições, a partir da temática sobre Políticas Públicas. A agenda contou com visita ao território do Campo Belo, nas instituições Amigos da Criança (AMIC) e Instituto Padre Haroldo (IPH), ambas com unidades na região.
Com o objetivo de refletir, discutir, debater e apresentar soluções que contribuam com desafios encontrados no território a partir das políticas, o grupo conheceu a AMIC e teve um bate-papo com a coordenadora pedagógica da instituição. No local, puderam saber o que no âmbito da educação é oferecido às 238 crianças atendidas em tempo integral.
“Trabalhamos com as crianças enfatizando o lado pedagógico uma vez que estamos num território de alta vulnerabilidade social. Nosso projeto está focado em atividades lúdicas e na sustentabilidade, além disso utilizamos muitos materiais não estruturados nas brincadeiras”, contou a coordenadora pedagógica Amanda de Oliveira Leite Saturnino.
Entre os desafios da instituição, o espaço físico foi citado com prioridade. “Temos muitas crianças para um local reduzido, mas nossa previsão é aumentar nosso prédio no terreno ao lado. Nosso projeto, que está sendo realizado em parceria com a Fundação FEAC, é levar o berçário para esse espaço no próximo ano”, contou Amanda. Atualmente, o terreno é utilizado para a distribuição de cestas básicas à população e para as crianças brincarem.
Outros desafios citados são com relação à lista de espera de matrícula, que supera 400 crianças, e a captação de recursos. “Temos grandes parceiros que nos auxiliam com a arrecadação de materiais e ainda promovemos festas e outras ações para aumentar as doações”, garantiu Amanda.
Mais uma visita
“Vivemos num território que a ausência da política pública, do Estado, é um problema. Temos instituições que não dão conta da demanda. Temos um território com muitas violações.” Assim começou o bate-papo com a coordenadora da unidade Campo Belo do instituto Padre Haroldo, Vanessa Aguiar.
Vanessa contou que a equipe da OSC frequentemente discute temas pertinentes relacionados ao território. “Outro dia discutimos o trabalho infantil. Como vamos tratar a temática num território com tanta violação. Qual alternativa que o Estado oferece a essas famílias para que elas não mandem seus filhos menores de 18 anos para o trabalho?”, indagou.
Para a coordenadora, uma pauta que está muito presente nas instituições é a questão da religião. “A política pública não pode estar atrelada à religião. Isso pode ser uma violação para alguém. Repensarmos nosso trabalho diariamente. Tiramos a religião e construímos metodologia de trabalho e fazemos essa reflexão diariamente”, comentou.
Com 180 crianças atendidas em dois turnos, o IPH, também realiza um trabalho em rede com outras OSC locais, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Saúde. “Discutimos casos, falamos de enfrentamento de violências e procuramos atuar em conjunto. Ainda há uma grande dificuldade de se trabalhar em conjunto com as escolas estaduais do território, mas seguimos tentando porque essa integração é necessária. Hoje chamamos as famílias aqui para conversas e não para acusações. Aqui queremos nos perceber e perceber o outro”, falou Vanessa.
Além das visitas às instituições, o grupo do Gerir ainda teve a oportunidade de conhecer dois líderes comunitários da região: Paulo Alberto, presidente da Associação de Moradores dos bairros Jardim Dom Gilberto e Jardim Puccamp; e o ‘seo’ Peninha, presidente da Associação do Jd. Itaguaçu. Há mais 20 anos na região, os líderes falaram sobre a história dos bairros e dos desafios.
“Temos 17 bairros na região do Campo Belo e uma grande população que necessita da regularização fundiária e do asfalto. O resto vamos conseguindo aos poucos, trabalhando e fazendo melhorias, como esta praça”, contou Paulo Alberto.
Para Peninha, a união dos moradores é essencial. “Nesses 22 anos aqui, aprendemos muito, temos que nos unir para conseguirmos as melhorias que os bairros e as pessoas necessitam. Todos precisam de uma moradia decente e digna”, falou.
Discussão de grupo
Após as visitas, o grupo discutiu sobre os desafios do território e pensou em soluções para a política macroeconômica da região. O objetivo foi a apresentação de ideias que pudessem fomentar na comunidade uma boa compreensão e entendimento das políticas públicas.
“A proposta dos facilitadores Lincoln Moreira e Cláudia Chebabi, para esta atividade em campo, foi alinhar o conceito e refletir sobre a teoria versus a prática na execução das políticas públicas em Campinas. Visitamos duas instituições, realizamos um bate-papo com os líderes comunitários em uma praça pública da região do Campo Belo e, posteriormente, fomos até a instituição Cidade dos Meninos. Lá, foi realizada uma discussão em grupos, sempre com o olhar voltado à execução dos serviços e visando a compreensão dos desafios de cada OSC. Percebemos que houveram muitas ideias cheias de propósito pela turma, principalmente no que tange à articulação do trabalho em rede e nas propostas de ação de advocacy. Foi um dia muito especial”, comentou Nathália Garcia, líder do programa Qualificação da Gestão de Organizações da Sociedade Civil.
A atividade em campo foi aprovada pelo grupo do Gerir. Carla Linarelli, coordenadora do Cândido Ferreira, acredita que a estratégia de conhecer outro território e instituições foi excelente. “Podemos enxergar na prática questões que são discutidas durante na teoria. Foi um momento para ampliar nosso saber por meio do contato com a realidade de outras instituições que trabalham com diferentes questões de vulnerabilidade e projetos”, relatou.
“Estamos muito acostumados com nossa realidade e do nosso público. Por mais que saibamos que em outras instituições existam os mesmos problemas de assistência e saúde pública, ir a campo e vivenciar essa experiência realmente nos faz parar para pensar e formular a qualidade do nosso atendimento. É enriquecedor”’, comentou Sílvia Simões, coordenadora técnica da Apascamp.
Qualificação da Gestão das OSC
O Programa Qualificação da Gestão é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe para que Organizações da Sociedade Civil adotem boas práticas com objetivo de operarem de forma autônoma, com processos de gestão eficientes, conformidade, regularidade e, principalmente, impacto social significativo.
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