Atividade que contou com a imersão de cinco grupos durante 12h pensando em projetos inovadores para a educação fez parte da 10ª Semana da Educação 

(Por Ingrid Vogl e Laura Gonçalves Sucena)

Você já trocou conhecimento durante 12 horas seguidas? Um grupo de cerca de 32 pessoas fez isso e o resultado foram ideias inovadoras relacionadas à educação durante o Hackathon: Como resolver os desafios da educação. A maratona de trabalho aconteceu no último sábado, 21 de setembro, dentro da 10ª Semana da Educação de Campinas, e reuniu pessoas interessadas em modificar o cenário atual da educação, transformando desafios em oportunidades.

Na pauta do dia, todos os participantes foram instigados pelos profissionais da Weme, parceira da ação, a pensarem a educação através das lentes de vários atores do cenário da educação: pais de alunos, professores e educadores e pessoas envolvidas com o tema. Assim foram definidos cinco temas-desafios:  como podemos garantir a alfabetização na idade certa?; como valorizar a carreira do docente?; como garantir um ensino atualizado em uma era de constantes mudanças?; como superar a evasão escolar no ensino médio?; e como garantir acesso a creches de qualidade?

Para começar a olhar para os temas, todos os participantes mergulharam na primeira etapa do Design Thinking (conjunto de ideias e insights para abordar problemas, relacionados a futuras aquisições de informações, análise de conhecimento e propostas de soluções): a empatia.

Para o gerente da Weme, Erick Saito, soluções relevantes para os desafios da educação podem ser pensadas de forma colaborativa e multidisciplinar com o Hackthon. “A partir dos 5 desafios mapeados, o pessoal fez todo um processo de ideação, entendimento e aprofundamento. Foi preciso pesquisar, conversar com os usuários, com pessoas envolvidas nesses desafios. Nesse entendimento foi necessário descobrir qual é a dor do usuário. Quais as possíveis soluções que podem ser relevantes para sanar a dor do usuário”, explicou.

Saito conta que quando se trata de negócios, as pessoas tendem a começar uma solução olhando para tecnologia e viabilidade. “Nós precisamos começar pelas pessoas, saber o que elas realmente precisam e desejam. Por isso a empatia é tão necessária”, frisou.

Os cinco grupos formados começaram as pesquisas e as entrevistas de empatia, para só então chegar na fase da ideação.  “É na entrevista que conseguimos entender de fato a dor da pessoa com a qual estamos conversando. Os grupos também devem pesquisar bastante sobre o tema e conversar com pessoas que estão ligadas a ele. No caso da educação, é importante falar com pais, professores, monitores e outros envolvidos. Já na hora da ideação, procuramos seguir umas regras: não existe ideia ruim ou impossível; registrar tudo de forma objetiva; crescer sobre outras ideias; quantidade é melhor que qualidade”, explicou Saito.

 

Prototipagem

No período da tarde, foi o momento dos grupos desenvolverem a prototipagem dos projetos. Conversando, debatendo e trocando ideias, pontos de vista e conhecimentos, os participantes foram rapidamente criando soluções para os desafios postos. “Para mim foi uma experiência muito desafiadora, porque eu precisei desapegar de umas ideias e acolher outras, compreender o poder do grupo para criar algo novo. Fiquei feliz e grata porque atendi minhas necessidades de companheirismo, cooperação de comunidade  e coconstrução, e o que vale pra mim é isso: os processos criativos e humanizados”, afirmou . Lu Nunnes, socióloga, e gestora ambiental. 

No fim do dia, foi o momento dos pitchs, em que cada grupo teve 4 minutos para apresentar os projetos e convencer os jurados de que sua iniciativa atendia aos critérios avaliados: validação do problema (o desafio foi mapeado e é realmente uma dor para o usuário?); fit entre problema e solução (a solução responde o problema mapeado?); evolução (grupo evoluiu e trouxe os aprendizados com os usuários e com os testes do protótipo?); relevância do projeto (é um projeto relevante e está conectado com o tema do hackathon?) e inovação (o grupo considerou tecnologias digitais no projeto?).

Rodrigo Ruschel foi um dos participantes que ficou responsável por apresentar a solução de seu grupo para o desafio para superar a evasão escolar no ensino médio. “Foi a primeira vez que participei de um hackathon. Já conhecia a metodologia de design thinking,  e usá-la para resolver um problema real foi muito bacana. Mas pensar durante 12h em uma solução e ter 4 minutos para apresentar o que criamos foi uma doideira, mas foi muito legal a gente poder sintetizar as coisas, enxergar o que é um problema para as pessoas. Adorei  estar conectado com pessoas de diferentes áreas. Para mim foi um sabadão de 12 horas de aprendizado muito massa, disse o professor e educador. Seu grupo conquistou a primeira colocação do hackathon apresentando o projeto de um aplicativo como ferramenta de apoio a jovens que pensam em abandonar os estudos por diversos motivos. Videos aulas, frases e informações motivacionais e um grupo de apoio formado por gestores de escolas e grêmios estudantis estão entre as opções possíveis oferecidas pele aplicativo.

O segundo lugar foi conquistado pelo grupo que tinha como desafio  a garantia de acesso a creches de qualidade. A equipe pensou em uma creche sustentável desde a sua construção, focada no desenvolvimento infantil e com baixo custo para sua viabilização.

“O primeiro pensamento que tive quando houve a definição do desafio foi  desespero, porque fomos os últimos a escolher o tema e acabamos ficando com o desafio que não era a área de atuação de ninguém do grupo. Mas isso trouxe pra  gente muitas novas perspectivas e o grupo foi fundamental porque a gente tinha áreas muito diferentes: desenvolvimento, negócios, educação. Isso trouxe visões diversas de um mesmo problema para solucionar. E fizemos  entrevistas onde mães nos disseram o que sonhavam como uma creche ideal para os filhos. Tentamos juntar tudo isso: o que é viável em questões educacionais, os negócios e para que uma mãe se sinta encorajada em deixar seu filho em uma creche como a  que propomos. Me sinto realizada, porque em vários momentos achei que não ia sair nada, mas fizemos um projeto bem feito”, analisou Giulia de Andrade Marinho, neuroeducadora. 

A terceira colocação ficou com o grupo que propôs a solução para a valorização da carreira docente. Em um pitch articulado e muito bem apresentado, os participantes convenceram os jurados que o aplicativo apresentado como solução, que inclui incentivos aos professores a partir de relatos de alunos de como o ensino e o aprendizado docente transformou de alguma forma sua vida, era uma boa solução. 

A equipe vencedora ganhou campeã ganhou uma hospedagem all inclusive no The Royal Palm Plaza com direito a acompanhante e mais R$ 3 mil. O grupo que ficou com a segunda colocação recebeu R$ 2 mil e terceiro lugar com R$ 1 mil.

Soluções possíveis

O júri foi composto por representantes do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas); Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação); Unicamp e Fundação FEAC. Para Thaís Riguetto, membro do Consed, a experiência foi inspiradora. “Poder participar foi fantástico, porque tive a oportunidade de ver que tem pessoas de diferentes lugares e com experiências pessoais  e profissionais diversas, pensando soluções para educação. A educação é complexa, e por isso acredito que as soluções virão quando todos os públicos pensarem juntos e a partir do lugar de cada um, esse é um grande desafio. O que vimos aqui hoje nos motiva muito”. afirmou.

Dois aspectos que chamaram a atenção de Erika Sanchez Saez, representante do Gife.  O primeiro foi a realização de um hackathon sobre educação, e o segundo foi a colaboração entre os grupos formados. “Muito importante pensar em um espaço como esse pra gente exercitar  a cidadania e a nossa consciência de que os problemas e soluções que a gente tem hoje na sociedade são desafios de todos. E consequentemente, as soluções precisam ser pensadas por todos. Ser jurada me deu a possibilidade de olhar de fora  ver que a colaboração e a cooperação são exercícios de cidadania”, disse.

Entre os facilitadores e mediadores da jornada de 12h, o hackathon da educação era só elogios. “Já participei de vários  hackatons, mas este foi um dos que mais teve público diverso e heterogêneo, o que é muito interessante. Sem falar que foi muito bem organizado, com um prêmio bacana e bem sucedido”, analisou, Cícero Gomes Junior, educador e sócio-fundador da Virando o Jogo.

Em comum, todas as equipes tiveram a participação de jovens da Academia Educar, que contribuíram com os trabalhos e também puderam levar consigo novos conhecimentos.

“A Fundação  Educar acredita muito na energia dos jovens, no protagonismo deles. E o que a gente viu aqui foi um trabalho coletivo, rápido. Os grupos não se conheciam e rapidamente se entrosaram e focaram na solução, e nesse processo, os jovens trouxeram a visão e experiência da escola pública e deram suas contribuições nas soluções propostas. O que vimos aqui foi muita criatividade, inovação, apropriação e muita pesquisa. Os resultados estiveram acima de todas as expectativas positivas que tínhamos desde o começo”, contou Camila Figueiredo, gestora da Fundação Educar.