A vocação e a vontade de ensinar um aluno com deficiência visual fez com que um professor de matemática desenvolvesse métodos diferentes dos tradicionalmente utilizados em sala de aula. A primeira ideia foi balas que contribuíram para o aprendizado da adição, subtração, multiplicação e divisão.
As guloseimas se espalharam pela classe quando ele percebeu que a nova estratégia poderia elevar o nível de aprendizado de todos os alunos da turma. Com o retorno que obteve, o professor Rubens Ferranato – docente na disciplina de matemática no ensino fundamental, médio, educação superior e especialização e palestrante na área da matemática com ênfase na educação inclusiva – pode confirmar que a maior barreira do ensino está na linguagem e não nos estudantes. “Todos os alunos têm suas dificuldades de aprendizado e quando utilizamos ferramentas simples conseguimos igualar o nível de entendimento da classe”, concluiu ao dizer que todo professor precisa saber a realidade de cada aluno.
Segundo Rubens, que participou de um dos eventos da 7ª Semana da Educação de Campinas, a matemática é a disciplina que menos muda, então o que tem que mudar é a forma de ensiná-la. “Se as pessoas com deficiência não forem para a escola, ela nunca estará preparada para recebê-las”, assegurou. E ainda com foco no ensino aos alunos deficientes visuais, o professor criou uma ferramenta que se tornou um método usado pelos outros alunos, assim como as balas com grande eficácia de aprendizado.
O Multiplano, nada mais é que um tabuleiro com furos nos quais são anexados pinos, fixadores, elástico, hastes e outros dispositivos, que faz com que os alunos entendam de maneira mais fácil as operações matemáticas. “Ensinamos a operar simbologia sem ensinar para o que serve o símbolo e para que serve aquele cálculo”, concluiu.
E este é um exemplo de ferramenta da tecnologia assistiva, recursos que vão desde uma simples bengala até um sistema de computador; além disso, que também inclui serviços transdisciplinares e envolve profissões de diversas áreas como fisioterapia, terapia ocupacional (TO), fonoaudiologia, educação, psicologia, enfermagem, medicina, engenharia, arquitetura, design, entre outras especialidades que contribuem para proporcionar ou ampliar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência e promover a inclusão.
O objetivo desta tecnologia é proporcionar às pessoas com deficiência qualidade de vida e inclusão social por meio do aumento da comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e integração com a família, amigos e sociedade.
A tecnologia assistiva também compactua do Desenho Universal, conceito que parte do princípio que espaços, meios de comunicação, tecnologia e serviços devem ser concebidos com foco na utilização, de forma autônoma, pelo maior número de pessoas.
Neste sentido, Campinas possui o Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA) http://www.cti.gov.br/cnrta Seu papel é articular uma rede formada por outras instituições e pelo setor industrial para mobilizar e fomentar pesquisas e o desenvolvimento de tecnologia assistiva, para que ferramentas e serviços tecnológicos sejam distribuídos ao mercado, com custos acessíveis para contribuir de forma efetiva para a inserção das pessoas com deficiência na sociedade.
Palestra
O professor Rubens Ferrato foi um dos palestrantes do tema “Educação Inclusiva: Práticas e Tecnologias”, que fez parte da programação da 7ª edição da Semana de Educação de Campinas, ocorrida no último mês de outubro.
No mesmo evento, a disciplina educação física foi enfatizada como uma das práticas de inclusão pela educadora Aline Santos, do Instituto Rodrigo Mendes.
A educadora apresentou dois projetos do Instituto, o “Portas Abertas para a Inclusão – Esporte para todos” e o Diversa .
O “Portas Abertas para a Inclusão – Esporte para Todos” foi desenvolvido no período de 2012 a 2014 para formar educadores de diversas regiões do Brasil a fim de promover a inclusão escolar de crianças com deficiência por meio das práticas esportivas seguras e inclusivas. O projeto foi inspirado nos grandes eventos esportivos que aconteceram no Brasil ultimamente, como a Copa do Mundo de 2014 e as Paralimpíadas de 2016, por acreditar que o esporte pode ser uma ferramenta que complementa a educação, com potencial de aumentar o interesse dos alunos pela escola.
Já na plataforma Diversa, o foco é apoiar redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência em escolas comuns. O investimento para a realização deste é focado em três estratégicas voltadas à troca de experiências e à construção de conhecimento. O Portal Diversa tem uma plataforma na web que oferece conteúdos teóricos e práticos sobre educação inclusiva e ainda disponibiliza serviços de atendimento, estudos, entre outros.
Interesse
Atenta à palestra, Silmara Santos, que além de professora de educação infantil é mãe de duas crianças com deficiência, ficou animada com as perspectivas de inclusão com base em materiais simples, boa vontade e sensibilidade. “É muito bom saber que existem pessoas que nos ajudam a abrir nosso horizonte, com o simples fato de ouvir a criança e ver o que ela precisa, principalmente em disciplinas como a matemática que, ao meu ver, é muito mais difícil” exaltou.
Já a professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE), Divânia Pereira do Carmo, se surpreendeu com o interesse dos professores de escolas comuns. “Se os alunos estão chegando nas escolas e os professores estão se movendo na busca pela inclusão, quer dizer que alguma coisa está funcionando, devagar, mas está”, comemorou.
Lei Brasileira de Inclusão
As práticas e tecnologias da educação inclusiva discutidas durante a Semana da Educação vão ao encontro da Meta 4 do Plano Municipal de Educação de Campinas, que dispõe sobre a educação inclusiva. O assunto também está alinhado com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), em vigor desde janeiro de 2016 e também é conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). A Lei propõe a mudança do olhar para cerca de 45 milhões de brasileiros com algum grau de deficiência e afirma a autonomia e a capacidade destas pessoas viverem em condições de igualdade com os demais cidadãos.
No item que trata sobre a inclusão escolar, a lei assegura a oferta de sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino. Estabelece ainda a adoção de um projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, com fornecimento de profissionais de apoio. E proíbe que as escolas particulares cobrem valores adicionais por esses serviços.
Saiba mais sobre a Lei Brasileira de Inclusão:
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/01/21/lei-brasileira-de-inclusao-entra-em-vigor-e-beneficia-45-milhoes-de-brasileiros