Aulas presenciais passaram a ser online. Houve empréstimo e doação de notebooks para que os jovens pudessem fazer as aulas de casa
Por Ingrid Vogl
A pandemia da Covid-19 e consequente necessidade de isolamento social causou inúmeras suspensões e cancelamentos de ações nas mais diversas áreas. Mas para quem tem ferramentas tecnológicas e vontade de se reinventar, continuar é preciso. Assim aconteceu com o projeto Categoria de Base, que forma jovens de 15 a 18 anos da região do São Marcos para atuarem na área de desenvolvimento de softwares e os prepara para o mercado de trabalho.
O curso, com duração de dois anos, é presencial desde que foi iniciado no segundo semestre de 2019. São três turmas que se reúnem uma vez por semana, por duas horas, para aprender sobre a criação de softwares; sistemas para processos organizacionais; manutenção e correção de possíveis erros de programas e plataformas e outros conteúdos relacionados ao tema.
“Com o início da pandemia, percebemos a necessidade de repensar o desenvolvimento do curso, já que queríamos continuar”, afirmou Renata Mendonça, coordenadora de projetos sociais da Associação Beneficente Direito de Ser. A partir daí aconteceu uma mobilização que contou com o engajamento de diversas pessoas da instituição, da comunidade e de conhecidos. Foi feito um levantamento para saber quais jovens do curso não tinham computador em casa, e notebooks e acessórios, que estavam sem uso na instituição ou em casa, foram emprestados ou doados para que os participantes pudessem acompanhar o curso à distância.
A partir daí as aulas passaram a ser feitas em um ambiente virtual que deu tão certo, que o próximo passo será a incorporação de aulas de inglês para os jovens que participam do Categoria de Base. A previsão é que até o fim de abril a professora voluntária comece as aulas.
Desafio virtual
Lucas dos Santos Ramos, professor do curso e engenheiro de software, destacou os desafios da adaptação para as aulas online e a ressignificação da relação com as turmas para que o aprendizado continuasse a ser instigante para os jovens. “No começo tivemos algumas dificuldades. Além do grande esforço da instituição para conseguir os computadores para os jovens que ainda não tinham, algumas conexões de internet não eram boas, então precisamos nos adaptar. Tem jovem que está compartilhando a internet de casa com outro que é vizinho, para que todos consigam participar das aulas”, disse.
Com uma turma focada, interessada e com bom desempenho, Lucas teve o cuidado de manter os alunos motivados durante as aulas à distância. Para isso ele mudou a metodologia de ensino para que todos sempre acompanhem as tarefas juntos e lançou um novo desafio para os jovens: a criação de jogos. “Cada um tem o projeto de desenvolver um jogo, e isso acaba animando os jovens porque é algo pelo qual eles têm interesse”, explicou.
Para Rayra Vitória do Carmo Maximiliano Mendes, 16 anos, as aulas online não estão sendo tão diferentes das presenciais, exceto em alguns pontos. “É uma nova experiência no sentido de não ter o professor ajudando presencialmente e individualmente. O que mais sinto falta é do contato físico, de trocar com a turma para resolver determinada questão. Mas por outro lado, as aulas a distância fazem com que a gente aprenda a se virar sozinho, ir atrás das informações, fazer pesquisas, para pensar em como resolver ou descobrir alguma coisa. Então está sendo muito legal por esse lado”, contou.
Atualmente, os jovens estão trabalhando com a criação dos jogos e no desenvolvimento de um site para a Direito de Ser. Os dois projetos são desafios encarados com seriedade. “Com o curso, descobri minha paixão pela programação. São conhecimentos que me fazem ter um diferencial e uma base para o que quero fazer, que é a faculdade de engenharia da computação ou ciência da computação. Estou aprendendo muito”, ressaltou Rayra.
Bryan Matheus dos Santos Mota, 15 anos, também quer seguir carreira na área de desenvolvimento de software. “O curso nos ajuda a aprender coisas difíceis de se aprender sozinho, porque a linguagem de programação é algo complexo. Espero que esta seja minha base para ingressar no mercado de trabalho”, apostou o jovem, que após as aulas online, gosta de aprofundar os conteúdos abordados na aula fazendo pesquisas na internet.
Segundo Tatiane Zamai, líder do programa Juventudes, da Fundação FEAC, promover acesso das mais diversas formas é um dos grandes desafios do Juventudes, e com a chegada da Covid-19 esse desafio só aumentou. “O programa tem buscado encontrar alternativas junto aos parceiros e jovens para que as ações não sejam integralmente paralisadas, o que ocasionaria uma possível desmotivação e dispersão das atividades que vinham sendo desenvolvidas. Toda mobilização ocorrida para que os jovens pudessem continuar o curso nos faz acreditar que os abismos são grandes, mas é possível construir pontes e caminhar um pouco mais”, afirmou.
Juventudes
O projeto Categoria de Base é realizado em parceria pela Fundação FEAC e a Associação Beneficente Direito de Ser. O projeto faz parte do programa Juventudes, iniciativa que que investe na criação de espaços de participação e aprendizado social, autogeridos por jovens, com o intuito de incentivar a participação das juventudes em todas as instâncias decisórias de maneira propositiva, engajada e em prol do desenvolvimento humano.
Saiba mais: https://www.feac.org.br/juventudes/