A partir de participação em projeto da FEAC, jovens tiveram a oportunidade de desenvolver potencialidades de liderança

(Por Ingrid Vogl)

Quando a oportunidade surge para quem tem vontade, potencialidades são reveladas e novas possibilidades surgem. Foi assim com Iorrana, Beatriz e Miriã, que fazem parte do Movimento das Minas, coletivo de garotas da região do Jardim São Marcos que trabalha temas ligados ao feminismo e a prevenção da violência contra a mulher com outros jovens da comunidade. 

Elas participaram do projeto Caminhos da Escola, que a Fundação FEAC, Acupuntura Urbana e Rede Abraço fizeram juntos entre o final de 2018 e início de 2019 com a parceria da comunidade da região e a partir daí, um mundo de conhecimentos e possibilidades se abriu para elas.

Foi Renata Laurentino, facilitadora do processo desenvolvido no Caminhos da Escola e membro da Acupuntura Urbana, quem enxergou nas minas o potencial de jovens líderes comunitárias. “Logo no começo do projeto, a gente percebeu que elas tinham muito conhecimento da comunidade e potencial de mobilização comunitária.  Muitas coisas que precisavam do engajamento da comunidade quando não estávamos em campo, elas acabavam fazendo. Durante o processo, o Movimento das Minas fez uma articulação grande que transformou um beco da comunidade com um mural de grafite, envolvendo os meninos, grafiteiros e moradores do entorno, criando relações afetivas com a vizinhança”, contou.

A partir daí, Renata sugeriu a participação das minas no Guerreiro Sem Armas, curso do Instituto Elos que reúne pessoas de diferentes países que buscam transformação no mundo a partir da Filosofia Elos, criando um cenário de abundância e reconhecendo os talentos e recursos disponíveis para transformar sonhos coletivos em realidade. 

Após uma seleção que escolhe 60 pessoas, os participantes aprendem – por meio da interação com uma comunidade – que o saber compartilhado é a base para a construção de sonhos coletivos. A filosofia Elos é usada como guia que se baseia na transformação de pessoas e relações em qualquer contexto social.

“Eu já tinha participado do curso em 2012 e reconheci nas minas um potencial para um grande aprendizado para elas.  O que eu vi foram jovens com uma energia ativa de mobilização e curiosidade para trabalhar com a comunidade, e achei que uma experiência como essa poderia potencializar e abrir algumas perspectivas”, justificou Renata.

Mudando a visão de mundo

As meninas aceitaram a sugestão de Renata e toparam o desafio, que a princípio, foi arrecadar dinheiro para a participação no curso. Para isso, elas promoveram bazares e venderam pão de mel na comunidade e conseguiram parcerias que as ajudaram a fazer o curso, que aconteceu durante todo o mês de julho, na cidade de Santos-SP.

“Assim que cheguei vi pessoas de diversos países lá dentro, com diferentes visões de mundo, mas com a mesma vontade: de transformar e ter empatia pelo outro. Nem imaginava que tanta gente poderia ter os mesmos desejos e objetivos. E você fica totalmente envolvida: foi como ter uma sementinha dentro de mim que foi germinada e floresceu.  A gente passa a ver coisas boas em situações que normalmente a maioria das pessoas só vê aspectos ruins. E isso te dá esperança no mundo”, contou Iorrana Rodrigues de Almeida.

Para Miriã Pereira dos Santos, mais conhecida como Aisha, o curso foi como um tratamento interno. “Passei a cuidar e me entender mais para poder cuidar das outras pessoas, como um processo de autoconhecimento, de saber meus limites, saber que sou capaz de fazer coisas diferentes, pensar de outra maneira e sentir outras conexões”, contou.

Inspiradas e energizadas com os novos conhecimentos, as minas voltaram para casa com muitos planos em mente e portas abertas para novas possibilidades. Iorrana foi prontamente convidada a participar da edição do projeto #Com_Unidade, que acontece no Conjunto Mauro Marcondes desde o início de setembro. Junto com a equipe do Acupuntura Urbana, ela media com a comunidade a ação que está sonhando, planejando e que colocará a mão na massa para construir uma praça.

O #Com_Unidade é uma iniciativa do programa Desenvolvimento Local, da Fundação FEAC, que busca a ressignificação de um espaço público por meio do protagonismo comunitário, estimulando a cidadania, o fortalecimento dos vínculos, convivência, participação e o pertencimento, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida das famílias, fortalecendo o potencial de realização coletiva.

“Quando recebi o convite para ser facilitadora do projeto fiquei surpresa porque não estava nos meus planos. Colocar em prática tudo que aprendi é uma super experiência, porque é o que gosto e quero fazer”, disse Iorrana.

Aisha e Beatriz dos Santos Alves também já colocam em prática suas potencialidades de jovens líderes comunitárias. A primeira ampliando e potencializando as ações da escolinha comunitária pan-africana, da qual faz parte e que funciona na Vila Industrial. “Meu desafio é captar recursos para as atividades que acontecem nos fins de semana para as crianças”, disse.

Já Beatriz está focada no Movimento das Minas, pensando e planejando ações que fortaleçam ainda mais a atuação do grupo na região do São Marcos, envolvendo ações que tratam de feminismo, bullying e outros assuntos de interesse das jovens. “Me sinto energizada e muito inspirada para envolver ainda mais outras jovens”, contou.

Futuramente, as minas poderão ter  outras oportunidades de trabalhar em novos projetos, já que pretendem continuar a participar de ações sociais. “Fiquei muito feliz em encontrar a Iorrana atuando com a equipe da Acupuntura Urbana no Mauro Marcondes e mais feliz ainda em saber que a Beatriz e a Miriã poderão atuar outras ações pela cidade. Isso é resultado de um trabalho apurado de escuta e olhar afetivo para as pessoas do território. Só assim talentos e potencialidades serão aproveitadas efetivamente para transformar a sociedade”, analisou Dione Barbieri, líder do projeto #Com_Unidade.

O movimento é protagonista

O Movimento das Minas surgiu em 2017, quando Giovana Ferreira Paulino, psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), localizado no São Marcos, pensou em um grupo para dialogar com outros jovens sobre a prevenção de violências recorrentes no bairro. Aos poucos, o grupo foi se expandindo, sempre focando em levar informações e trazer garotas para dialogar sobre violência e empoderamento feminino. Hoje o Movimento tem 14 minas que costumam se reunir frequentemente para planejar atividades na comunidade.

“A gente aprendeu a caminhar e sonhar juntas, e hoje ver essa realização delas, pra mim é motivo de orgulho e satisfação. Elas chegaram meninas, e todas cresceram muito dentro do potencial que elas têm, tanto como indivíduos quanto no coletivo. Essa possibilidade de transformação e de poder retornar para a comunidade todo o aprendizado que elas tiveram é impagável. Hoje elas são reconhecidas como lideranças e são capazes de correr atrás de sonhos individuais e coletivos”, disse Giovana.

Beatriz aproveitou para deixar claro o que pensa sobre seu aprendizado e sua inspiração para outros jovens. “Nossa experiência não é maluquice, ela é possível. Quem tem vontade pode fazer e transformar também”. Está dado o recado.

Saiba mais sobre o programa Desenvolvimento Local: https://www.feac.org.br/desenvolvimentolocal/