(Por Ingrid Vogl)
“Lugar de gente com deficiência é em todos os espaços, porque é assim que podemos mostrar e cobrar o que precisa ser melhorado em termos de acessibilidade e no âmbito da comunidade”. A fala de Deisiana Campos, assistente social da APAE de São Paulo/SP, demonstrou a tônica do ciclo de workshops “Inclusão e garantia dos direitos da pessoa com deficiência”, promovido pelo programa Mobilização pela Autonomia (MOB). Com diversas abordagens, as discussões foram encerradas nesta terça-feira, dia 12 de dezembro, com o tema “ Troca de experiências para a efetivação da inclusão da pessoa com deficiência”, que aconteceu no auditório da Fundação FEAC.
No último dos cinco encontros que ocorreram desde agosto de 2017 e reuniram 360 pessoas entre profissionais da área social, de saúde, educação, além de interessados nos temas, estiveram presentes representantes da Sorri Bauru/SP. Eles apresentaram o trabalho da entidade e, especificamente, do Centro Especializado em Reabilitação (CER), que é referência no município e atende pessoas com deficiências físicas, intelectuais e auditivas, além do atendimento no setor ortopédico. Durante a apresentação, foi abordado o processo de implantação do Centro, seu funcionamento, além dos desafios e avanços do serviço ao longo dos anos.
Em seguida, representantes da APAE de São Paulo/SP apresentaram o trabalho que a instituição desenvolve no eixo de defesa e garantia de direitos da pessoa com deficiência, com o programa Todos pelos Direitos. Segundo Aracélia Costa, superintendente da unidade paulistana, o programa foi implantado há seis anos em diversos municípios do estado de São Paulo, cuja porta de entrada, em sua maioria, era via APAEs. A ação visa fortalecer a rede socioassistencial, garantindo assim os direitos, a inclusão, além de mapear e prevenir a violência contra pessoas com deficiência.
A última apresentação foi do Instituto Meta Social, do Rio de Janeiro/RJ. Helena Werneck, presidente, explicou que o instituto trabalha com foco na comunicação, com o intuito de voltar o olhar da sociedade para as pessoas com deficiência. O Meta Social atualmente também trabalha com a questão da empregabilidade por meio de parcerias com outras instituições. “Por meio do cinema, televisão e outros meios de comunicação, nosso foco é atingir o público não relacionado à causa da deficiência, para que a sociedade tenha informação, conhecimento e consciência sobre essa questão e receba e acolha melhor as pessoas com deficiência”, explicou.
Inspiração
Ao longo dos workshops oferecidos, houve muita troca de experiências e compartilhamento de boas práticas desenvolvidas por diversas instituições de Campinas e outra localidades. “Essa iniciativa da FEAC é importante porque une diversas entidades e ainda nos dá a oportunidade de passar um pouco da nossa experiência, incentivar e inspirar novas práticas, mostrando que é possível e que é preciso ter garra para isso”, afirmou Helena.
Na opinião da superintendente da APAE São Paulo/SP, ações colaborativas são fundamentais para mudar um país. “A troca possibilita que a gente se reinvente, e mais do que divulgar questões técnicas, podemos unir os esforços dos serviços que lutam pela causa da deficiência num momento importante em que precisamos estar mais unidos do que nunca”, complementou Maria Estela Bandeira Moreira Rueda, diretora administrativa da Sorri Bauru/SP.
Para quem participou dos workshops, a troca de saberes e o conhecimento adquirido inspira o trabalho diário desenvolvido nos serviços socioassistenciais existentes em Campinas e região. “Os workshops trouxeram muito conhecimento e aplicabilidade na minha atuação como psicólogo e agregou muito em relação às informações sobre acessibilidade, inclusão da pessoa com deficiência e o foco no social. Tenho a oportunidade de colocar isso em prática, buscando e informando sobre os direitos dessas pessoas assistidas e seus familiares, tanto nas instituições ou em outros equipamentos da rede ligados à educação, assistência social e trabalho. Além disso, também levo esse conhecimento adquirido aqui para outros lugares que frequento”, disse Reinaldo Roberto, psicólogo do Centro Educacional Integrado Padre Santi Capriotti (CEI), entidade parceira da FEAC.
Cristina Andrade Ferreira Silveira, psicopedagoga da rede municipal de ensino de Valinhos/SP, veio especialmente para participar dos encontros promovidos pelo MOB. “Gostei bastante dos dois últimos encontros que participei e acredito que as trocas de experiências agregam muito em nosso trabalho que é de inclusão pela educação. Não trabalhamos especificamente com o atendimento educacional especializado, mas como professoras da rede regular de ensino, tudo o que foi falado aqui deu um norte diferente para esse olhar das pessoas com deficiência. Acredito que valeu muito a pena participar e gostaríamos que outros encontros como esse tivessem continuidade”, frisou.
Mobilização
Os cinco wokshops oferecidos por meio do MOB em 2017 abordaram os temas: capacidade legal e tomada de decisão apoiada, pertencimento ao território, direito ao trabalho, possíveis práticas pedagógicas para incluir alunos com deficiência na escola e a troca de experiências para a inclusão (saiba mais sobre os encontros).
Segundo Regiane Fayan, assessora técnica do Departamento de Assistência Social da FEAC e responsável pelo MOB, os encontros oferecidos este ano foram uma continuidade de um trabalho iniciado em 2015, quando houve a publicação do “Panorama da pessoa com deficiência no município de Campinas”, que reúne diversos dados sobre o tema.
Em seguida, em 2016, houve a publicação da “Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência Comentada”, que já teve mais de 1,7 mil exemplares distribuídos.
“Na publicação sobre o panorama da pessoa com deficiência, há recomendações para ações a serem promovidas por pessoas com deficiência, entidades, poder público e também pela FEAC, especificamente, para o desenvolvimento de atividades com foco nesse público em Campinas, já que compartilhar informações visando aprimorar a rede socioassistencial da cidade era uma necessidade”, explicou Regiane. A partir daí, foram realizados 15 workshops em 2016, e com base na opinião dos mais de 970 participantes desses eventos, foram definidos os cinco encontros que ocorreram no segundo semestre de 2017.
“Por meio desses workshops, o que pretendemos é desmistificar o tema e trazer experiências inovadoras dessa área para inspirar o trabalho da rede de atendimento socioassistencial de Campinas, sempre com o objetivo de incluir a pessoa com deficiência”, concluiu Regiane.
Segundo Lincoln Moreira, gerente do Departamento de Assistência Social da FEAC, para 2018, o programa Mobilização pela Autonomia continua e terá sua atuação ampliada. “O trabalho junto às instituições será ainda mais intenso por meio de desenvolvimento de projetos que permitirão um impacto social ainda mais efetivo”, afirmou.
Saiba mais sobre o MOB: https://www.feac.org.br/mobilizacao-para-autonomia/