(Por Laura Gonçalves Sucena)

Potencializar e desenvolver ações preventivas que conscientizem e fortaleçam crianças, adolescentes, jovens e adultos sobre o enfrentamento a violência sexual. Assim o projeto Novo Amanhecer, desenvolvido por meio da parceria entre o Centro Promocional Tia Ileide (CPTI) e o programa Enfrentamento a Violências da Fundação FEAC, vem atuando na região Norte de Campinas.  

Desde o início do ano, diversas atividades, oficinas e encontros foram propostos pelos profissionais da rede local do Distrito de Nova Aparecida a alunos das escolas públicas e ao público atendido pelo CPTI. A intenção é ampliar conhecimentos e fortalecer a rede socioassistencial no que se refere ao enfrentamento das violências.

Para a coordenadora do Novo Amanhecer, Fabiana Taioli,  o projeto surgiu da necessidade de se cuidar de casos de violências. ”As equipes perceberam que havia uma lacuna entre a proteção básica e a média complexidade, então os casos de violência e violação de direitos não conseguiam ser cuidados de uma forma mais sistemática na proteção básica e, também, não eram encaminhados ao serviço da média complexidade. Com a realização do projeto, esse hiato teve fim”, contou.

De acordo com Natália Valente, líder do Programa Enfrentamento a Violências, o Projeto Novo Amanhecer desenvolve uma metodologia de intervenções grupais que oportuniza momentos de reflexões sobre a temática e as formas de combate a violência sexual contra crianças e adolescentes, atuando em ações para ressignificar as relações com o outro, incentivar o autocuidado, além de sensibilizar e mobilizar a sociedade para o enfrentamento dessa violação de direitos.

Conversando e debatendo

Entre as atividades realizadas com os adolescente e jovens, o Novo Amanhecer promoveu ações e oficinas que culminaram num encontro em abril. “Foi uma preparação para o dia 17 de maio, quando realizamos uma passeata em alusão ao dia 18, data marcada pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, contou Fabiana.

“Foi um dia de diversas oficinas e todos foram convidados a fazer uma viagem para uma sociedade não violenta, inclusive com direito a um passaporte com informações sobre o projeto. Além disso, os adolescentes e jovens confeccionaram uma série de produtos a serem utilizados na passeata, como botons e folderes”, informou a coordenadora.

Tudo foi pensado na perspectiva de se realizar uma construção coletiva com o pessoal que participou das oficinas, não esquecendo da mensagem e da história do dia 18 de maio. “Falamos da importância da data, conceitos e reflexões sobre as diversas formas de violências sexuais nas quais as crianças e adolescente estão expostos diariamente”, contou.

Os profissionais também participam de atividades e debates. “As ações do projeto buscam criar uma rede protetiva capaz de identificar e encaminhar os casos e investir em processos preventivos, com a ampliação de conhecimentos e fortalecimento da rede local”, explicou Natália.

Neste sentido, a próxima ação dirigida à rede de garantia de direitos acontecerá no dia 28 de junho, com o seminário Violências em Debate. Promovido pelo projeto Novo Amanhecer, o encontro  acontece a partir das 8h, na PUC Campinas (PUCC – campus I). Além de diversas oficinas, o Seminário trará os temas ‘Enfrentamento ao racismo e promoção de direitos de crianças e adolescentes’ e ‘O machismo e a intersecção entre raça, gênero e classe’. Inscrições AQUI.

Encontro 8 Sentidos

Outro trabalho realizado com os jovens foi o “Encontro com os 8 sentidos”, que levou os participantes a fazerem uma reflexão e autocrítica sobre a percepção sobre si mesmo, o outros e o mundo, a partir dos sentidos. “Além dos cinco sentidos que conhecemos, chegamos à conclusão que deveríamos adicionar a pele, o equilíbrio e a intuição. Afinal, nossa relação com o mundo é construída por meio de nossos sentidos e podemos fazer uma releitura para ressignificar nossas relações de forma não violenta”, informou Fabiana.

Nessa releitura, os adolescentes e jovens aprenderam a se questionar nos 8 sentidos. Como você se vê, qual sua visão de mundo? Como você costuma ouvir o outro e a si mesmo? Que sabor a vida tem para você? Quais suas aspirações e o que você inspira no outro? Como você se toca e como toca o mundo? O que te toca (pele)? Quem ou o que você culpa para justificar seu desequilíbrio? Qual espaço você tem dado para sua intuição?

Na onda dos 8 sentidos, os alunos do ensino médio da Escola Estadual Roberto Marinho conheceram o projeto e, durante oito semanas, tiveram uma formação sobre cada um dos sentidos. Após esse período, dois grupos se formaram e fizeram Clubes Juvenis, onde prepararam aulas sobre o tema da não violência.

A apresentação dos clubes foi realizada no último 11 de junho, na Culminância dos Clubes. “Esse é um momento em que os alunos mostram para toda a escola e também para a comunidade, tudo o que eles produziram durante o semestre letivo nos Clubes Juvenis. A proposta do modelo de Tempo Integral é estimular o protagonismo juvenil e formar jovens autônomos. Por isso, os próprios estudantes escolhem e montam os Clubes Juvenis que querem formar e o tema das violências foi tão marcante que foi escolhido por dois grupos”, contou a coordenadora de ciências da natureza e matemática da escola, Juliana Munhoz.

Para a coordenadora, trabalhar a temática na escola é essencial. “Toda a comunidade escolar se beneficiou com o Novo Amanhecer. Estamos numa comunidade machista e acredito que muitas dúvidas foram sanadas após todos os encontros e oficinas que recebemos. Muitos temas surgiram e os questionamentos continuam e estão borbulhando. Os adolescentes ficaram empolgados e querem fazer mais, querem continuar discutindo e realizando ações”, explicou.

Giovana Quenello e Kevin Veloso, alunos do 3º ano do ensino médio, afirmam que aprenderam muito com os encontros dos 8 sentidos. “Tem muita gente que não tem com quem falar num caso de violência, muitas situações que nem enxergávamos como violentas, então valeu muito participar. E temos que passar essas informações para nossos colegas”, afirmaram.

A assistente social do Novo Amanhecer, Caroline Viel, conta que o projeto foi muito bem recebido na escola. “Além do trabalho com os alunos, também tivemos rodas de conversa com os profissionais da escola para falar sobre a violência sexual. O mundo tem caminhado para violência e para relações abusivas, então temos que trabalhar com esses jovens e prepará-los para um tipo de relação saudável. É um trabalho preventivo e percebemos que eles com seus pares começam a se tornar agentess de proteção. Quando identificam a violência eles a sinalizam para um adulto protetor, denunciam e conseguem gerar um ciclo de proteção no lugar onde circulam”, finalizou.

Enfrentamento a Violências

O programa Enfrentamento a Violências é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na mitigação dos impactos das violências e no enfrentamento para romper os ciclos que as perpetuam com objetivo de promover o bem-estar e a cultura de respeito, empatia, tolerância e paz.

Mais informações: https://www.feac.org.br/enfrentamentoaviolencias/