Parceria com Fundação FEAC viabilizou reforma, adequação, compra do mobiliário e
implantação do sistema informatizado para que os usuários sejam atendidos da melhor forma

Por Ingrid Vogl

Desde o fim de agosto, Campinas conta com um novo serviço do SUS (Sistema Único de
Saúde) oferecido por meio da Associação Pestalozzi de Campinas. Com uma equipe multidisciplinar formada por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo psicólogo e pedagogo, a instituição social passa a fazer atendimentos para a habilitação e reabilitação de pessoas com deficiências múltiplas e (TEA) Transtorno do Espectro Autista com comorbidades, usando a metodologia ABA*.

Para que a Pestalozzi se adequasse estruturalmente ao novo serviço, foi desenvolvido em parceria com a Fundação FEAC o projeto De Mãos Dadas, que consistiu na reforma, adequação, compra de todo o mobiliário necessário e implantação do sistema informatizado para que os usuários sejam atendidos da melhor forma.

  

A obra aconteceu em quase 95m² da instituição. Foram reformadas as salas da área da saúde, integração social, fisioterapia e recepção. Houve a troca dos pisos, feita pintura nas paredes, janelas e portas, reforma do banheiro da recepção, sala de espera, realocação da recepção, troca dos equipamentos da fisioterapia, compra de mobiliários como mesas para atendimento em grupo e doação de ares-condicionados para as salas de integração e fisioterapia, com base nos protocolos da vigilância socioassistencial.

“A FEAC teve papel importante para conseguirmos atender pelo SUS, pois adequou o espaço e mobiliário. Toda transformação foi feita para um melhor atendimento, e foi maravilhoso porque fizemos melhorias nas salas de atendimento e isso dá uma capacidade melhor para o profissional realizar o trabalho. Aumentamos uma sala de integração sensorial que é importante para público, melhoramos a sala de fisioterapia que ficou funcional e humanizada. Sem isso a gente ia prestar o serviço, mas talvez não teria a qualidade que é oferecida hoje”, disse Carolina Sellin, diretora da Pestalozzi.

Regiane Fayan, líder do programa Mobilização para Autonomia, da FEAC, ressaltou o papel da Fundação, que além de ser uma entidade de assessoramento e investimento social, também potencializa e fomenta a efetivação de políticas públicas. “Com a oportunidade de oferecer à população de Campinas um serviço que pudesse atender ao público já especificado, fizemos uma parceria com a Pestalozzi para viabilizar um espaço adequado para o atendimento, o que resulta numa melhoria dos serviços públicos de saúde às pessoas com deficiência”, explicou.

Serviço em rede

O novo serviço de saúde se soma aos que já são oferecidos em rede no município para
pessoas com deficiência, e é feito por meio de agendamentos dos Centros de Saúde de todas as regiões de Campinas. Com os novos atendimentos, a Pestalozzi passa a atuar em duas frentes: educação especial, que já acontecia e saúde.

Segundo Sara N. P. Sgobin, coordenadora de saúde mental da Secretaria Municipal de
Saúde de Campinas, o novo convênio nasceu da necessidade da Secretaria ter um serviço que reunisse todas as categorias de deficiências em um só lugar e mais voltado para crianças e adolescente entre a população com múltiplas deficiências.

“Para as crianças com múltiplas deficiências ficava difícil para o cuidador e família não ter todos os serviços de maneira centralizada. Agora estamos oferecendo um espaço de cuidados específicos para crianças e adolescentes”, explicou. Além disso, a Pestalozzi passa a atender autistas com outras deficiências associadas por meio da metodologia ABA, que trabalha no reforço dos comportamentos positivos do paciente*. “O serviço vem para nos ajudar e compor a rede de saúde e deixá-la mais completa, principalmente no que se refere a reabilitação”, frisou Sara.

Carolina Sellin contou que o processo para que a instituição fosse credenciada pelo SUS começou há anos. “Há quatro anos, sabemos da demanda e da falta de serviços adequados no serviço público para o perfil dos nossos usuários com múltiplas deficiências. A Pestalozzi tinha dois serviços de educação, e eu via necessidade de atender porque temos capacidade física e de trabalho para fazer atendimento pelo SUS. Então iniciamos a busca pelo serviço por meio de protocolos de projetos junto à Secretaria Municipal de Saúde”, contou.

Em 2018, a equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde visitou a instituição para verificar se havia condições para o desenvolvimento do serviço e se a instituição já tinha expertise na área da saúde. “Em relação ao trabalho, só tínhamos convênio com a educação. Mas a área da saúde nunca deixou de existir para atendimentos técnicos. Mostramos que a gente atendia na área da saúde, mas não éramos reconhecidos porque precisaríamos aumentar a capacidade de atendimento do público”, explicou Carolina.

A partir daí começaram as adequações junto à Secretaria Municipal de Saúde. Segundo Carolina, às demandas do convênio foram atendidas, mas sempre com um olhar muito voltado para as necessidades dos usuários.

Adequar é preciso

Com o novo serviço, que aumenta a capacidade de atendimento de 190 para cerca de 400 usuários mensalmente, veio o desafio de iniciar os atendimentos em saúde em plena pandemia. Os atendimentos que a princípio seriam duplos precisaram ser readequados para cada usuário e passaram a ser individuais, porém reduzidos a uma vez por semana para cada usuário. Toda a equipe foi preparada para os cuidados de prevenção à Covid-19, inclusive com o uso dos equipamentos de segurança.

Para desenvolver o serviço, uma equipe multidisciplinar nova e motivada tem trabalhado intensamente. São sete profissionais das áreas de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e pedagogia, além de uma coordenadora. “A gente tem uma equipe comprometida e interessada em aprender sobre nossa demanda, porque como é um público específico, é necessário ter profissionais capacitados para esse serviço. Estamos bastante empolgados e surpresos com a boa aceitação do serviço no meio da pandemia”, afirmou Ariane Costa Monteiro Moreira, coordenadora técnica do serviço de saúde.

Segundo a coordenadora, a equipe tem se adaptado ao período pandêmico para realizar os atendimentos, uma nova situação tanto para famílias quanto para os profissionais, principalmente em relação ao uso dos equipamentos de proteção. “Temos seguido as orientações da vigilância sanitária e atendido uma criança a cada meia hora. Existe muita expectativa do novo atendimento, com relação aos cuidados, como recebemos as crianças. Mas estamos bem felizes com o resultado e com a adesão deles, que tem vindo bastante”, afirmou Ariane

Resultados à vista

Percorrendo corredores e salas da Pestalozzi, é possível notar um ambiente que além de bonito e convidativo, possui um atendimento feito com dedicação e afeto. Na sala de fisioterapia, João Pedro estava à vontade enquanto fazia os exercícios com os profissionais. “A gente percebeu que por causa da pandemia, as crianças ficaram muito tempo paradas em casa, e quando elas começaram a vir pra cá e se movimentar, brincar nesse espaço, já fez uma diferença absurda na qualidade de vida delas. Muitas crianças que antes estavam completamente imóveis, em duas semanas já começaram a ter resultados surpreendentes pelo pouco tempo de tratamento”, explicou Pedro Salmar de Paula Taveira, fisioterapeuta.

“Mesmo com o atendimento reduzido por causa da pandemia, dá para dizer que o atendimento é super favorável, porque nosso público está há cerca de seis meses com atendimento só online com a educação especial, e para ele é importante o atendimento presencial. Muitos ficaram com a coordenação motora e musculatura comprometidos. Agora estão tendo a oportunidade de voltar”, complementou Carolina.

Sobre o novo serviço, os retornos dos usuários têm sido positivos. “Eles têm trazido que a mudança na estrutura foi positiva, o ambiente está mais adequado. O fato deles serem atendidos individualmente, com um olhar mais voltado para a habilitação e reabilitação, já tem surtido efeito nessas primeiras semanas, e eles têm a oportunidade de conversar mais com o terapeuta e pegar orientações mais específicas”, explicou.

Enquanto os usuários estão em atendimento, os responsáveis pelas crianças e adolescentes aguardam na recepção da instituição. Elaine Cristina Vieira é mãe do João, e toda semana aguarda com satisfação o filho ser atendido. “Este serviço tem sido maravilhoso para o João. Por causa da pandemia, ele ficou muito tempo dentro de casa e quando me ligaram para vir fazer o tratamento fiquei muito feliz. Ele está se adaptando bem e em apenas três sessões já notei que o desenvolvimento dele está melhorando cada dia mais”, disse.

“Pelo ambiente e dedicação dos profissionais, isso aqui é um serviço que ajuda muito no desenvolvimento das crianças e de forma gratuita. O ganho é muito grande. Tudo que vier somar para eles é importante, porque é muito gratificante ver cada passo do desenvolvimento”, disse Alexsandro dos Santos, pai do João Pedro Coelho dos Santos.
MOB

De mãos dadas é uma iniciativa que faz parte do programa Mobilização para Autonomia
(MOB) da Fundação FEAC, que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência, e se dedica a romper barreiras para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos.

Saiba mais: https://www.feac.org.br/mobilizacaoparaautonomia/

* ABA significa Applied Behavior Analysis, em português, Análise do Comportamento Aplicada. O método é indicado para crianças com TEA e trabalha no reforço dos comportamentos positivos. A metodologia ABA busca trabalhar o impacto da condição autista em situações reais com o objetivo de fazer os comportamentos desejáveis e úteis serem ampliados e diminuir aqueles que são prejudiciais ou que estão afetando negativamente o processo de aprendizagem.