(Por Claudia Corbett)
Localizada em Campinas, no maior assentamento urbano da América Latina, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Oziel Alves Pereira tem um papel importante na história desta ocupação. Foi almejada pela comunidade para fortalecer a permanência no local conquistado.
E conquistar é o verbo que tem permeado a trajetória do diretor Aziz Júlio Salles Ramos, 33 anos. Desde que chegou à Oziel, percebeu que não estava ali por acaso. Seu primeiro desafio foi conquistar não só alunos, professores e funcionários, mas ganhar a confiança de uma comunidade inteira, que hoje contabiliza cerca de 30 mil pessoas.
“A característica do bairro é de comunidade flutuante. A escola estava desestruturada. Não era respeitada pelos moradores. A evasão era considerável. Havia uma defasagem de profissionais em todos os setores. Os conflitos dentro da escola precisavam de interferência da polícia. Faltavam professores em algumas disciplinas. Não havia alinhamento entre os períodos. Os horários não eram cumpridos. O modo de gestão era baseado na imposição de um para o coletivo”, relatou Aziz.
A mudança teve como seu primeiro foco a reunião de pais. A equipe gestora queria ouvir as demandas das famílias. “Era importante naquele momento atraí-los para a escola. Havia uma descrença”, comentou o diretor. A cada reunião crescia o número de familiares. Todas as necessidades eram expostas e as ações começaram a ser discutidas e decididas por todos.
Este modelo se mantem até hoje, com participação efetiva dos pais. Existe um canal aberto permanente com alunos, pais, docentes e comunidade. “No começo estávamos desconfiados. Muitos diretores passaram rapidamente pela escola. Pensamos que com essa gestão não seria diferente. Mas vendo nossos filhos motivados, percebemos que desta vez valia a pena acreditar e participar ativamente”, defendeu Francisca Pereira, mãe de dois alunos da escola.
O novo momento, representado pela adesão de todos, foi ainda marcado por um processo coletivo. A almejada mudança dos alunos do 6º ao 9º ano para o período da tarde foi resolvida em votação. Com isso, os 500 alunos que antes tinham 15 minutos de intervalo para o lanche foram divididos em turmas menores para facilitar o fluxo e se alimentarem melhor. “O foco é cuidar do bem-estar, em todos os aspectos, para que o aluno se sinta respeitado e pertencente ao espaço”, assegurou o diretor.
Nestes últimos anos, o perfil da escola Oziel Alves Pereira mudou. Os pais têm proximidade com a equipe gestora. As portas estão sempre abertas. Há respeito da comunidade. As crianças e adolescentes estão motivados a aprender. Utilizam e cuidam do patrimônio escolar. E nos fins de semana a escola tem atividades comunitárias. “Tivemos erros e acertos. Ações permanentes são pensadas para que haja uma crescente evolução. Com isto, estamos construindo uma identidade para que a escola caminhe e que atenda cada vez melhor a comunidade”, comemorou Aziz.
Alunos envolvidos
Estimular o envolvimento e a participação dos alunos foi fundamental. E a criação de um jornal mural foi o que primeiro possibilitou trazê-los para perto. O intuito, naquele momento, era oportunizar um canal para que pudessem se expressar. Foi o primeiro passo que antecedeu uma série de outras conquistas que ilustram o vínculo dos estudantes com a escola. Entre elas, a Feira de Africanidades.
A Oziel Alves Pereira tem cerca de 1200 alunos. E considerando que aprender a conviver é um dos pilares da educação, o relacionamento entre os alunos também precisava ser trabalhado. A partir de um projeto de etnias que já existia, ainda que de maneira isolada, foi criada a Feira. De maneira produtiva, os alunos passaram a discutir as relações. Entender o outro ao mesmo tempo que se sentiam acolhidos.
Outra ação que demonstra a realidade do envolvimento de todos é a Semana da Criança. Sua programação passou a incluir os alunos do 6º ao 9º ano. “Entendemos que esta seria mais uma maneira de envolver todos os alunos com uma programação descontraída e ao mesmo tempo de aprendizado da convivência”, enfatizou Aziz. A princípio os mais velhos resistiram. Hoje, há uma expectativa geral para a chegada do mês de outubro.
Atualmente, a escola tem ainda dois veículos de comunicação. O informe Informafricativo e o Jornal Oziel. O primeiro é uma produção mensal com relatos e textos dos alunos. Eles criam as pautas, discutem e escrevem. “Assim demostram o aprendizado, manifestam seus sentimentos e trabalham assuntos de interesse como o preconceito, por exemplo”, esclareceu o gestor.
Já o Jornal é trimestral e divulga as ações que envolvem funcionários, professores, alunos e comunidade. Os veículos intencionalmente envolvem todos e estreitam vínculos dos estudantes com a escola.
Professores engajados
Sem uma gestão organizada, os professores faziam tudo sozinhos, desde cuidar da chegada dos alunos a resolução de conflitos. A situação dos alunos é de vulnerabilidade social e a maioria tem dificuldades para aprender. Por isso, uma equipe docente coesa e engajada passou a ser almejada. “Com o tempo, graças ao apoio da gestão, o nosso trabalho ficou mais eficiente e qualificado. Temos combinados coletivos, inclusive com os pais e alunos”, constatou Adriana Maria Sartori, professora de Ciências.
Assim, com clareza dos papeis, atribuições definidas e processos democráticos, o engajamento dos professores se tornou uma realidade.
Conquistas
Muitos foram os avanços mediante ações realizadas pelos próprios alunos. Eles começaram a gostar e querer estar na escola. Aumentaram as frequências nas aulas. Criaram um Grêmio.
E para marcar em definitivo o momento de conquistas, ganharam o Prêmio Atitude Educação.
“O Prêmio Atitude Educação foi uma das conquistas mais importantes de 2016 para a escola”, comemorou Miriam Cristina, 15 anos, uma das protagonistas da Oziel. A proposta do vídeo, idealizada pelos alunos do 6º ao 9º ano e encabeçada pelo Grêmio, fortaleceu ainda mais o projeto institucional Gaia (confira o vídeo aqui). Já existente, visa revitalizar alguns ambientes da escola. Vencedor, o projeto saiu vitorioso graças a mobilizou de toda a comunidade que se empenhou na fase de votação popular. Com isso, o sonho de se ter um parque na escola será realizado e beneficiará não só os 1,2 mil alunos. Será um espaço de convivência também para a comunidade do bairro onde a escola está inserida.
O Prêmio Atitude Educação é uma ação da Fundação FEAC, promovida pelo projeto Compromisso Campinas pela Educação (CCE). O intuito da premiação é reconhecer e destacar iniciativas desenvolvidas para a melhoria da qualidade da educação pública em Campinas. Na edição de 2016 o tema proposto foi “Alunos Protagonistas”.