Um pacto global pelo bem-estar social foi selado em 2015, com o lançamento da Agenda 2030 pela ONU (Organização das Nações Unidas). Mais de 190 países firmaram o compromisso de erradicar a pobreza e a fome, proteger o meio ambiente e garantir qualidade de vida às pessoas. São 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que abrangem questões essenciais e interconectadas para o mundo alcançar patamares civilizatórios mínimos.

O cenário socioeconômico, que se agravou com a pandemia, tornou o desafio dos países em avançar nesta agenda ainda mais urgente. No Brasil, pesquisas recentes se esforçam em mapear o cenário de fome e múltiplas vulnerabilidades que assolam o país pós-pandemia.

Diversas redes e instituições, como o Unicef, com foco na infância e adolescência, e as redes Penssan e Ação Brasileira de Combate às Desigualdades (ABCD), que reúnem dezenas de Organizações da Sociedade Civil (OSC), divulgaram dados atualizados sobre a realidade brasileira. Afinal, é preciso conhecer o tamanho do problema para poder dimensionar ações e políticas públicas para enfrentá-lo.

Um retrato da realidade brasileira

Com esse propósito, foi lançado em 31 de agosto, no Congresso em Brasília, o Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, que reuniu representantes do poder público, empresas e sociedade civil. Na ocasião, houve a apresentação do relatório Um retrato das desigualdades no Brasil hoje,  uma potente amostra de como as desigualdades e a concentração de renda seguem crescendo no país. Sem trégua e agravadas pelo período pandêmico. O diagnóstico é mais uma contribuição importante para subsidiar as ações governamentais e das próprias organizações sociais que atuam nos territórios.

O relatório resultou de uma iniciativa coletiva, com participação de instituições públicas, empresas e OSC, coordenada pela Rede ABCD, que reúne entidades prestigiadas. Entre elas, a FGV-Social, Fundação Tide Setubal, Instituto Ethos, Instituto Pólis, Observatório das Desigualdades – Fundação João Pinheiro, Oxfam Brasil, Rede PENSANN, entre outras. A análise dos dados contou com o apoio técnico do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Entre as informações apontadas no estudo, ficamos sabendo, por exemplo, que 5% dos brasileiros auferem 95% da renda nacional. E que o morador de um bairro rico da capital paulista vive 23 anos mais do que um habitante de um bairro pobre. Como sintetiza o relatório, as desigualdades são múltiplas, se conectam e se retroalimentam. São contrastes de renda, sociais, ambientais, políticas, territoriais, culturais, de gênero e de raça.

A FEAC e o combate às desigualdades em Campinas

É o que vivenciamos também em Campinas, município que espelha muitos dos avanços e graves problemas do cenário nacional. As epidemias que impactaram a região em meados do século passado foram episódios extremos que fizeram a sociedade se organizar para superar a crise. Muitas organizações sociais surgiram nessa época, com fins filantrópicos.

Historicamente, ainda hoje, esta rede de organizações da sociedade civil atua para mitigar vulnerabilidades nos territórios. Há seis décadas, a Fundação FEAC trabalha com foco nos públicos mais vulneráveis do município, com prioridade às crianças e adolescentes, sempre em busca de uma atuação qualificada e monitorada, que tenha impacto social demonstrado pelos resultados.

Porém, a cidade, que já tem mais de um milhão de habitantes, hoje comporta em seu território padrões socioeconômicos de países como Suécia e Uganda, dado o contraste entre ricos e pobres campineiros. A desigualdade social crescente revela um desequilíbrio e exige uma correção de rota.

Para avançar, é preciso enfrentar a insegurança alimentar e a pobreza, garantir inclusão no trabalho, impulsionar o empreendedorismo e micro empreendedorismo, e focar na questão educacional, garantindo que nenhuma criança fique fora da escola. Combater a desigualdade é uma questão humanitária e independe de ideologia política. É um pacto civilizatório.

Jair Resende

Superintendente socioeducativo da Fundação FEAC

 

Revista Narrativa Social nº 31 – Pessoas com deficiência e o mercado de trabalho

Edição 31– Pessoas com deficiência e o mercado de trabalho

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