Instituições investem em planos de ações e adequações de espaços
(Por Laura Gonçalves Sucena)
Quais devem ser as prioridades da escola na pós-pandemia? Como garantir medidas de distanciamento social com as crianças pequenas? Como promover um ambiente escolar seguro para evitar contaminação? As perguntas são muitas e todas levam à reflexão para atitudes que nunca foram pensadas. Afinal, a volta às aulas para a Educação Infantil é uma questão que está em pauta nas instituições.
Neste cenário de incertezas, a equipe do Programa Primeira Infância em Foco (PIF) propôs um encontro para a troca de experiências com as diretoras educacionais e os dirigentes das Organizações da Sociedade Civil (OSC) de Educação Infantil para o entendimento e identificação das ações e estratégias que estão sendo utilizadas, tanto para enfrentar a situação atual como para preparar a retomada de suas atividades. Outra intenção do encontro foi colher informações de como o PIF poderia contribuir com as OSC.
Segundo Adriana Nunes Silva, analista de projetos do PIF, tantas incertezas sobre o retorno das crianças às creches vem gerando inseguranças e angústias nos profissionais e até mesmo nas famílias. “Este cenário emergencial e completamente novo, certamente, deixará marcas a médio e longo prazos e exigirá cuidados inéditos. Por isso a importância de se escutar e colaborar com as escolas de educação infantil”.
No processo de escutatória realizado pelo PIF, uma das questões abordadas era com relação à preparação das unidades para a retomada das aulas e se elas estavam seguras com a atitude.
Adriana explica que a grande maioria relatou preocupação com a adequação da estrutura física da escola às novas realidades normativas e também com relação às regras sanitárias preventivas, como utilização de bebedouros e lixeiras com acionamento por pedal, compra de máscaras e outros itens.
As dúvidas também pairam sobre os Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Quantas máscaras devem ser usadas por dia, qual a periodicidade de higienização das máscaras e quais as normativas de utilização dessas para crianças.
Outro item que gera apreensão é o transporte escolar que muitas crianças utilizam. “Por ser considerado um potencial transmissor do novo vírus, é importante avaliar o número de usuários para que se preserve a distância recomendável no veículo. Como uma das formas de transmissão da doença é por meio de contato direto com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada (fala, tosse e espirros), os transportes escolares devem estar muito bem preparados para receber os pequenos e mantê-los afastados”, concluiu Adriana.
A seleção das crianças no regime escalonado, pensando em como operacionalizar essa demanda considerando a realidade de cada comunidade, também gera incertezas nas unidades de ensino. Afinal, será necessário limitar a quantidade de alunos à metragem da sala, revezar horários de entrada, saída e recreação, sinalização de rotas dentro da escola para minimizar as chances de contato entre alunos e criar rotina de triagem e higienização na entrada das escolas, entre outras.
O retorno seguro da equipe educacional, como lidar com o estresse sofrido pelas crianças, (o que pode causar algum tipo de retrocesso no desenvolvimento), e questões relacionada com o vínculo familiar, também foram apontados como pontos que geram apreensão.
E nada causa mais apreensão do que a saúde das crianças e da equipe educacional, afinal estamos falando de crianças de 0 a 6 anos, faixa etária que tem mais dificuldades de distanciamento porque elas não são colocadas sentadas esperando uma atividade, com colegas distantes entre si.
Estratégias e desafios
Mas afinal qual é a hora certa de reabrir? Segundo documento da ONU, o momento de reabertura de escolas deve ser guiado pelo melhor interesse das crianças e por preocupações gerais de saúde pública, com base na avaliação dos riscos e benefícios e das evidências (locais). Por isso, mesmo com tantas dúvidas, algumas unidades escolares já estão colocando em prática algumas medidas que visam a segurança dos pequenos e das equipes.
Para o presidente da Casa da Criança de Sousas, Marco Caporali, é preciso investir na creche como um todo tendo como foco a educação com qualidade. A instituição que atende 100 crianças, realizou uma avaliação para descobrir as fragilidades para o retorno das atividades presenciais com as crianças.
“Esse novo normal implica em novas rotinas, uso de máscaras, lavagem frequente das mãos, uso do álcool e distanciamento. Identificamos que a contaminação cruzada, com o contato das mãos tanto das crianças quantos dos colaboradores, é um dos pontos mais preocupante”, relatou o presidente.
Segundo Marco, a equipe pensou em como simplificar a rotina de abrir e fechar torneiras, pegar papel toalha e outras coisas comuns do dia a dia. “Tudo parece simples, mas as atividades diárias com 100 crianças e mais 30 colaboradores e voluntários acaba se complicando”, disse.
Para isso a proposta da instituição é investir na modificação da infraestrutura da creche visando mais segurança. A adequação, focada na sustentabilidade, prevê a instalação de filtro central de água na entrada da creche, com água filtrada em todas as torneiras da instituição, eliminando galões de água, garrafas etc.; disponibilização de dispenser de sabão líquido e toalhas de papel em diversos pontos da instituição; e torneira com sensores para eliminar o contato físico com os dispositivos.
“Também vamos desativar os bebedouros e iremos substituir por pontos de higienização. Haverá álcool gel em diversos pontos da creche e ainda vamos atuar no fluxo de pessoas e de mercadorias que entram na creche. Pretendemos utilizar um sistema de troca de sapatos na entrada da instituição e sinalizar nova entrada para colaboradores”, comentou Marco.
Planejando e executando
Um plano pensado e pactuado com toda a equipe. Assim a Creche Menino Jesus de Praga está atuando frente à pandemia. Para isso, a instituição pensou no dia a dia da criança, quais os desafios do retorno e os desdobramentos e a conciliação com os protocolos oficiais.
Segundo o diretor voluntário da creche, Carlos Lopes, a criança faz parte de um contexto maior, por isso é preciso pensar grande. “Nosso compromisso é com a criança como um todo, então fizemos um Guia com quatro pontos: o Estado (executar determinações oficiais); a Família (aprender, estar habilitada, decidir e agir); a Entidade (estar habilitada nas instalações e profissionalmente e ter amparo legal e respaldo financeiro); e o Transporte.
Segundo o diretor, as educadoras também fizeram uma cartilha a partir de estudos de outras experiências (inclusive internacional). “Todas as dúvidas e desafios foram discutidos. A cartilha foi feita a partir da nossa realidade e provavelmente sirva para nós. Mas o caminho que usamos, isso sim pode auxiliar outras instituições. Pontuamos cada ação e desafios, quem decide e o tipo de decisão a ser tomada”, relatou.
Para Carlos, os encontros regulares entre toda a equipe e diretoria são fundamentais, uma vez que é preciso fortalecer as pessoas nesse momento para que elas estejam aptas a reconhecerem os desafios e preverem soluções. “Temos que estar habilitados a compreender os protocolos quando estes estiverem mais bem definidos”, pontuou.
A nova escola no cenário pós-pandemia terá que ser mais humana e mesmo que não haja previsão clara para o retorno das atividades presenciais, é necessário que as unidades escolares se preparem. “Independentemente da situação de cada instituição, elas estão mostrando que é possível com um planejamento bem estruturado, preparar o ambiente escolar da melhor forma possível, com responsabilidade e sustentabilidade, para acolher com segurança profissionais, famílias e crianças para o novo recomeço”, finalizou Adriana.
Primeira Infância em Foco
A Casa da Criança de Sousas e a Creche Menino Jesus de Praga fazem parte do Programa Primeira Infância em Foco, iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.
Saiba mais: https://www.feac.org.br/primeirainfanciaemfoco/