(Por Laura Gonçalves Sucena)
Fator essencial no processo de inclusão, a acessibilidade não se resume a rampas e vagas de estacionamento. A adequação do espaço é um conjunto de condições e possibilidades de alcance a todas as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida para que possam ter segurança e autonomia.
Visando essa mudança no espaço físico do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para oportunizar o acesso e a participação de cidadãos, o Projeto Igual, do Programa Mobilização para a Autonomia (MOB) da Fundação FEAC, promoveu uma série de intervenções no Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia (CCJSL), instituição localizada na região Sudoeste de Campinas/SP.
A ideia foi envolver os projetos Igual e Território de Todos (TdT), executado pelo parceiro técnico Fundação Síndrome de Down (FSD) –e que realiza o acompanhamento de pessoas com deficiência intelectual no domicílio e em seu território na região Sudoeste, contribuindo para a inclusão social. Nasceu aí uma parceria que faz da sede do CCJSL o espaço da intervenção e que se apoia na expertise da FSD que teve a oportunidade de executar seu serviço no local e ainda apoiar tecnicamente a equipe do Centro Comunitário.
Para que tudo isso desse certo, o Igual atuou na perspectiva de tornar mais acessível o espaço físico do CCJSL, realizando adaptações no equipamento. Após execução das rampas de acesso, instalação de piso tátil, abertura e alargamento de portas, o prédio ampliou de 20% para 80% o grau de acessibilidade.
Mudanças e melhorias
Direitos referentes à acessibilidade foram garantidos no Brasil especialmente a partir da Constituição Federal de 1988. Desde então, foram promulgadas diversas leis e normas para garantir acessibilidade e inclusão, tais como Lei de Cotas, a 10.098 e Decreto nº 5296 (que reforçou a lei 10.098).
Saiba mais sobre o Direito à Acessibilidade na Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência Comentada, organizada pela Fundação FEAC.
“Infelizmente sabemos que apesar de haver amparo legal, até hoje este direito não é garantido para a maioria das pessoas que possuem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida, que ainda encontram diversas barreiras físicas e atitudinais, limitando ainda mais sua condição”, contou Regiane Fayan, líder do MOB.
Neste sentido, o projeto Igual durante 6 meses realizou as transformações arquitetônicas no CCJSL. Após a reforma, 100% das salas destinadas às atividades socioeducativas, banheiros, cozinha, refeitório, salas de reunião e de atendimento individual estão acessíveis.
De acordo com o coordenador da instituição, Ricardo Leite de Moraes, muitos desafios foram superados durante o período de reforma. “Uma reforma sempre é difícil, mas no fim foi mais rápido do que o esperado. Tivemos que alinhar o cronograma das obras com o setor pedagógico porque precisávamos cuidar dos nossos atendidos e isso foi uma das dificuldades, mas no final tudo deu certo, principalmente porque atingimos o objetivo de tornar nosso espaço acessível”, garantiu.
O projeto foi estruturado com base na ABNT NBR 9050 de 2015 que trata sobre acessibilidade as edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos. “O grande desafio foi promover as adequações de forma razoável num edifício construído na década passada, além de administrar o cronograma da obra conforme necessidades do calendário de execução dos serviços da instituição para que o impacto fosse o mínimo possível. O resultado foi além do esperado e que venham os próximos projetos!”, garantiu Viviane Nale, gerente do Departamento de Arquitetura da Fundação FEAC.
A instituição ganhou a ampliação do refeitório, reforma e adaptação dos banheiros, execução de rampas de acesso, abertura de portões, colocação de piso tátil, nivelamento das salas, pintura externa e interna e reforma da parte elétrica.
“Eu gostei muito da reforma e acho que tudo ficou muito bonito, principalmente o refeitório e as rampas, que é bom para o cadeirante. Mas ainda quero que o banheiro fique maior”, falou a pequena Tainá da Cruz. “O espaço está muito melhor e a locomoção está mais fácil. O prédio está mais bonito e colorido”, garantiu Vinícius Camargo. Eles são deficientes e diretamente impactados pelo projeto?
Transformando a realidade
Com o aumento no atendimento de pessoas com deficiência que começaram a frequentar o CCJSL por meio do projeto Território de Todos a adaptação do espaço foi essencial. “Já atendemos esse público que chega até nós através de encaminhamentos da rede socioassistencial, como Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centros de Saúde, mas o trabalho realizado pela FSD no território, com o atendimento domiciliar, potencializou essa demanda”, explicou Ricardo.
“Com a reforma, o espaço ficou mais acolhedor e notamos isso logo no primeiro dia de evento realizado na instituição. As crianças perceberam que o ambiente ficou mais confortável. O refeitório estava subdimensionado, porque aumentamos nosso público nos últimos anos e precisava de uma ampliação. Agora, nossas salas de atividades são de fácil acesso. Enfim, tudo melhorou”, garantiu Ricardo.
Outro benefício foi o sentimento de pertencimento. “Como o prédio está repaginado, pintado e com novos ares, as pessoas tomam mais conta. Isso é fazer parte do local, cuidar do que é seu. Além disso, a convivência entre pessoas com e sem deficiência está mais integrada, devido ao trabalho das equipes da FDS”, completou.
Ana Julia Meire, usuária do CCJSL, aprovou a reforma. “Amei as novas cores do prédio e o piso facilitou porque é acessível. Até o refeitório melhorou porque está mais claro. O acesso do deficiente está muito melhor”, contou. “Eu também gostei muito do refeitório, que está mais amplo e as mudanças realmente ajudam as pessoas com deficiência”, completou Jean Pereira.
Para a psicóloga do CCJSL, Mariana Akioma, os transtornos da reforma não prejudicaram o atendimento e valeu muito a pena. “Acabamos tirando de letra esse período de obras e o que ficou foi muito positivo. A acessibilidade facilita muito para todos e o espaço está muito melhor, sendo utilizado em sua totalidade”, resumiu.
“Os resultados justificam qualquer dificuldade que tivemos durante a reforma. E o que importa é que aumentamos 362% o número de atendimento à pessoa com deficiência. Passamos de oito para 39 PCD se esse aumento contou com esforços das equipes e mérito do projeto Território de Todos. Isso faz valer todas as dificuldades”, finalizou.
O Programa Mobilização para Autonomia (MOB) é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em soluções com o objetivo de assegurar a inclusão efetiva das pessoas com deficiência. Se dedica a romper barreiras para que as pessoas com deficiência possam participar da sociedade e exercer plenamente seus direitos.