(Por Laura Gonçalves Sucena)
Fortalecer vínculos familiares e de convívio e promover a autonomia e a sociabilidade são alguns dos objetivos do Balaio de Memórias. O projeto desenvolvido pelo Crami com idosos atendidos pelo serviço de média complexidade, que atende vítimas de violência, acolhe e resgata as lembranças dos participantes.
Com uma câmera na mão, a equipe do Crami, instituição parceira da Fundação FEAC, entra em contato com os idosos e propõe a elaboração de um documentário. “Propomos um bate-papo para que seja realizado uma escuta terapêutica. O projeto consiste na produção de um material audiovisual, em que os educadores entrevistam os idosos e juntos vão relembrando histórias e memórias de vida”, explicou o educador social Alexandre Alves.
“A intenção é acessar as memórias da infância desses idosos e resgatar as suas histórias por meio de conversas. Criamos um vínculo com eles e mostramos que é importante que sejam protagonistas de suas vidas, de suas histórias”, explicou o educador.
De acordo com Alexandre, o Balaio teve início com o diagnóstico dos profissionais do Crami que identificaram a necessidade de se dar voz aos idosos. “Durante os atendimentos, as duplas de psicólogo e assistente social perceberam que muitos idosos precisavam ser ouvidos e daí começamos o projeto. Logo surgiu a ideia de se fazer os documentários e colocamos a mão na massa”, falou.
Para a educadora social Thais Mello, a gravação do vídeo traz ao idoso a experiência de contar sua vivência. “Isso contribui para que ele seja o protagonista de sua história, afirmando a sua importância como ator da cultura oral na sociedade e contribuindo também para a melhora na qualidade de vida dessa população”.
“Nossa ideia foi muito bem aceita e os participantes gostaram de aparecer no documentário. É nítido que há o resgate da autoestima, um cuidado com imagem. E isso é muito bom para eles”, garantiu Thaís.
As lembranças e recordações vividas contribuem também para a capacidade de raciocínio, atenção e percepção. Além disso, o projeto acabou ainda auxiliando os idosos que apresentavam sinais de depressão. “Trabalhamos na perspectiva de que eles consigam se reestabelecer para que possam falar de suas vidas com prazer. Houve casos que nem filmamos. Acabamos somente conversando, acolhendo e conversando”, disse Alexandre.
O olhar mais sensível e empático, incentivando os idosos a criarem novos laços sociais e a relembrarem de suas vidas, agradou os participantes da primeira edição do projeto. Dona Cleusa, de 65 anos, adorou a experiência. “O bom de participar do projeto foi poder recordar histórias que eu já nem me lembrava mais. Isso foi gratificante”, pontuou.
Para a assessora social do Departamento de Assistência Social (DAS) da Fundação FEAC, Aline Figueiredo, o Balaio de Memórias é um dos potenciais projetos que o CRAMI desenvolve para conhecer e ressignificar as histórias vivenciadas pelos idosos ao longo de suas vidas. “A atividade proporciona a estimulação cognitiva através da memória, oralidade e raciocínio, além de questões emocionais e relacionais como a troca de sentimentos, a escuta, o cuidado, o afeto e o respeito a diversidade”, complementou.
Filmagens
Durante as gravações, a emoção tomou conta das muitas histórias contadas. Os idosos falam de suas infâncias, da época da escola, dos trabalhos, namoros, casamentos e filhos. “Quando eles se olham no vídeo acabam se enxergando de forma diferenciada, é um novo olhar para eles mesmos”, resumiu Thais.
‘Seo’ Milton, de 66 anos, que adquiriu deficiência visual, lembrou da época em que jogava futebol com os amigos e era empacotador de uma loja. Emocionado, ele falou da perda da visão e contou que o que mais queria era poder enxergar novamente.
Dona Teresinha, de 66 anos, se surpreendeu com o resultado do documentário. “Nossa, foi uma surpresa me ver no vídeo. Eu sou muito parecida com minha irmã mesmo”, disse com surpresa. A lembrança fez com que ela fosse resgatar o contato com a irmã que mora em outra cidade.
Com todas as histórias, a primeira edição do Balaio de Memórias já tem seu documentário pronto. “Foi o primeiro de muitos porque o projeto não vai parar e já iniciamos as filmagens para a segunda edição. Estamos aprendendo as técnicas de filmagens, elaborando roteiros, fazendo a edição das imagens e melhorando a cada dia. A ideia é que futuramente a gente inscreva nosso documentário em algum concurso ou projeto”, garantiram os educadores.
Saiba mais: www.cramicampinas.org.br