(Por Ingrid Vogl)
Os desafios de convivência e as relações interpessoais na escola foram discutidos em diversos momentos dentro da 8ª Semana da Educação de Campinas. O Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) que reúne especialistas da Unesp e Unicamp, debateu o tema em cinco palestras que trouxeram diversas abordagens do assunto e alternativas para que a temática, apontada como um dos principais problemas do cotidiano da escola, seja tratada junto à comunidade escolar.
Um desses momentos foi reservado à professores coordenadores e supervisores das redes públicas de ensino municipal e estadual de Campinas, quando a pedagoga e integrante do Gepem, Telma Vinha, falou sobre “Os problemas de convivência na escola e os processos de resolução”. Segundo a pedagoga, as comunidades escolares enfrentam continuamente problemas de convivência na escola, que acontecem entre docentes, entre professor e aluno, entre funcionários.
“Apesar de muitos institutos trazerem, por meio de estudos e pesquisas, o problema do desempenho como o principal desafio da escola, no cotidiano escolar e por meio de estudos temos visto que a questão dos conflitos é um tema emergente e que incomoda muito os professores. Esta questão aparece sempre em todos os estudos, já que os profissionais precisam lidar diariamente com esses conflitos e a qualidade das relações interpessoais raramente é trabalhada nos cursos de formação, tanto inicial quanto continuada”, explicou.
A palestra ministrada por Telma teve como foco os diferentes problemas de convivências, que possuem naturezas e tipologias diversas e que devem ter intervenções diferenciadas. Caso contrário, a escola não terá êxito na resolução dos conflitos.
Segundo Telma, as intervenções podem ser de três tipos: as curativas, quando se tem um problema imediato, como uma criança sofrendo bullying e é preciso intervir; a preventiva, para evitar os conflitos escolares; e por último as de fomento, que são propostas de incentivo ao diálogo, respeito e justiça. “Qualquer trabalho em uma escola que visa melhorar a qualidade da convivência vai ter que dar conta dessas três perspectivas”, frisou.
Durante o evento, Telma apresentou várias experiências com escolas públicas e privadas nas quais houve o trabalho de intervenção em relações interpessoais. Relatou ainda exemplos dos resultados de pesquisas desenvolvidas pelo Gepem, mostrando como na prática é possível lidar com estes desafios. “Escolas devem ter espaços de resolução de conflitos, de diálogo, de fomento. Todas essas ações sistêmicas e concomitantes trazem resultados positivos”, explicou.
Mobilização pela educação
Com o propósito de aproximar as redes públicas de ensino municipal e estadual de Campinas, a equipe responsável pelo planejamento da 8ª Semana da Educação ofereceu o evento aos profissionais das duas redes. Foram eles que escolheram o tema e também a especialista que ministrou a palestra.
Telma frisou que oportunidades de reflexão são essenciais para os profissionais das escolas, já que gestores e professores costumam ficar imersos nos desafios do dia a dia escolar e muitas vezes não param para pensar em outras alternativas para soluções possíveis. “Momentos como este que a Semana da Educação promove são necessários para trazer múltiplos olhares. A ideia aqui não é em nenhum momento prescrever para as escolas receitas prontas, mas mostrar que há possibilidades que podem servir de inspiração para que elas resolvam conflitos. E neste sentido, sair do cotidiano e ver outras alternativas que podem ajudá-las a superar aquilo que elas têm como desafio e dificuldade é essencial”, explicou.
A iniciativa foi muito bem recebida pelos profissionais da educação pública de Campinas, que destacaram a importância de discutir alternativas possíveis para os constantes problemas de conflitos dentro das escolas. “Os temas e debates foram cruciais e fantásticos. Esta junção de educadores das escolas públicas municipais e estaduais é o ideal, porque independentemente se o aluno está matriculado em uma escola municipal ou estadual, ele é de Campinas. O conflito social desemboca na escola e a discussão e reflexão sobre os problemas das relações faz com que as redes consigam ter a mesma linha de pensamento para que a gente possa entender e ouvir mais esse aluno e inclusive trazer a comunidade para participar e ajudar nas soluções desses problemas”, afirmou Nivaldo Vicente, dirigente da Diretoria de Ensino Campinas Leste.
Solange Villon Kohn Pelicer, Secretária Municipal de Educação de Campinas, concorda que o debate do assunto ajuda a aproximar as duas redes de ensino. “Foi uma ótima iniciativa da Fundação FEAC promover este momento de união das duas redes. Temos que nos fortalecer e ter uma boa convivência, já que as escolas municipais e estaduais estão nos mesmos bairros e os alunos muitas vezes estudam em escolas das duas redes ao longo de sua jornada pela educação básica. A discussão de soluções possíveis para os problemas de conflitos escolares é essencial, porque é a partir daí que podemos pensar em projetos e ações que trabalhem convivência saudável, ética, bullying, a não violência, a resolução de conflitos através dos diálogos. Tudo isso promove um ambiente respeitoso na comunidade escolar e que acaba impactando na qualidade do processo de ensino e aprendizagem”, analisou.
Solange ainda destacou o papel da FEAC como parceira do poder público municipal em diversas ações ligadas à área educacional em Campinas. “Sempre envolvida com a causa educação, a Fundação, por meio do Compromisso Campinas pela Educação, se preocupa em trazer temas da atualidade e isso é muito bom para uma reflexão e informação dos profissionais. Isso afeta diretamente a nossa ponta que é a escola, e consequentemente, nosso foco que é o aluno”, concluiu Solange.
Atenta à palestra, Andrea Righetto, professora coordenadora da Diretoria de Ensino Campinas Oeste, também elogiou a iniciativa de unir as duas redes públicas de ensino no mesmo evento. “Promover um momento de reflexão sobre problemas comuns do dia a dia das escolas para as duas redes de ensino que geralmente não trabalham juntas é louvável. Este pode ser um ponto de partida para que escolas municipais e estaduais de Campinas comecem a caminhar juntas em busca da promoção de uma educação com mais qualidade”, disse.