A Fundação FEAC, por meio dos programas Fortalecimento de Vínculos (FOV) e Enfrentamento a violências (EFV), promoveu na última terça-feira (31), um Cinedebate, no Shopping Iguatemi Campinas, com a exibição do documentário “Se eu contar, você escuta?”, de Renata Coimbra. O CineDebate é uma ação do projeto “cinemAQUI”, do programa FOV, da FEAC, que investe no poder dos filmes como ferramentas potentes para sensibilizar as pessoas.
A programação conclui a agenda da Campanha 18 de maio deste ano, que enfoca o combate à violência sexual contra crianças e adolescentes e envolveu diversas ações ao longo das últimas três semanas, que buscaram levar informação sobre a temática e engajar a sociedade civil, profissionais, para a proteção de crianças e adolescentes. “Demos visibilidade aos dados sobre a causa, sinais de alerta, materiais de apoio. Criamos um site, posts nas redes sociais, podcasts e fechamos as ações com a exibição do documentário”, conta Natália Valente, líder do Programa Enfrentamento a violências.
Ela explica que a campanha faz parte de uma das estratégias do programa, que possui 4 eixos de atuação para mitigar os impactos das diversas formas de violência: contra crianças e adolescentes, contra as mulheres, violência doméstica e violência urbana. “Dialogando diretamente com o tema, o eixo 1 Enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes tem como objetivo investir em ações e projetos para uma rede de proteção efetiva no enfrentamento deste tipo de violência”, afirma.
O debate contou com a participação de Itamar Gonçalves, gerente de Advocacy da Childhood, e Tatiana Landini, professora da Unifesp e que atua principalmente com temas relacionados à violência sexual contra crianças e adolescentes. A mediação foi realizada por Ricardo Leite, membro do Conselho dos Direitos da Criança e Adolescente de Campinas (CMDCA).
Documentário de impacto
“Se eu contar, você escuta?” estreou em maio no país e foi realizado pela psicóloga paulista Renata Coimbra, a partir de entrevistas feitas em 1999, com oito meninas vítimas de violência sexual. Após 20 anos, Renata conseguiu localizar estas mulheres. Na primeira parte do filme, trechos de áudios da primeira entrevista são apresentados ao espectador e, depois, sete mulheres – uma delas morreu em 2011, aos 27 anos – narram para a câmera suas experiências de forma direta e comovente.
“É um documentário de impacto e atinge o seu objetivo. Após o impacto inicial, emergem questões para se pensar esta realidade e o enfrentamento desta violência”, analisa Tatiana Landini, em suas considerações iniciais, após a exibição do filme. Para ela, uma das riquezas do audiovisual é descortinar dificuldades da própria rede de proteção. “As meninas muitas vezes não querem ficar nos programas existentes, não se sentem escutadas ou compreendidas pela própria rede”, diz Tatiana.
Rede de proteção
Itamar Gonçalves, da Childhood, observa que a história das meninas revela as falhas da rede de proteção. “Tudo que nós encontramos na literatura especializada sobre o tema está expresso aqui, na voz destas mulheres. A questão de dar voz às crianças e adolescentes, como Renata Coimbra faz neste filme, sempre foi estratégica neste trabalho”, diz ele, lembrando que a Lei 13431/17, da Escuta Protegida, nasceu da necessidade de pensar estrategicamente o enfrentamento à violência. “A Lei da Escuta Protegida dá uma resposta à proteção secundária, mas a gente tem uma dívida que é pensar a prevenção no campo primário. Nós não temos ainda uma política pública de Estado para prevenção”, afirma.
Os caminhos para prevenção e identificação de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes e o aperfeiçoamento da rede de proteção, seus avanços e desafios, nortearam o debate, que ressaltou a importância de preparar os profissionais de Educação para que eles possam escutar os alunos e perceber/ler os sinais que muitas vezes os estudantes exibem.
A professora Tatiana Landini chama a atenção para o papel das universidades e do diálogo da academia com a comunidade. “Não é fácil ouvir que uma criança é abusada. Muitas vezes o próprio educador não é escutado ou a escola resiste em levar a queixa ao conselho tutelar. Coordenar as ações da rede para que haja escuta, que as informações sejam trocadas entre os diversos setores é um desafio, leva tempo”, diz Tatiana, lembrando que o título do documentário “Se eu contar, você escuta?” oferece ao espectador a chave para pensar a realidade da violência sexual e traçar os caminhos para o seu efetivo enfrentamento no país, desde as redes de atendimento aos sistemas educacional e de Justiça.
Agradecimento
A diretora Renata Coimbra não pode comparecer ao debate e enviou uma nota de agradecimento, que foi lida pelo superintendente socioeducativo da FEAC, Jair Resende, na abertura da mesa de debates:
“Muito bem vindos e bem vindas, para a sessão comentada do documentário “Se eu contar, você escuta?” sob minha direção e produzido pela TAI produção e criação. Agradeço à FEAC pelo interesse em realizar essa atividade em Campinas, que representa muito para mim, por ter sido acolhida por essa cidade e ter feito amizades inesquecíveis, na época em que cursei Psicologia na PUCCAMP. Agradeço aos presentes e aos meus queridos amigos Tatiana Landini e Itamar Gonçalves por terem aceito o convite de coordenar o debate com vocês, o que farão com muita propriedade. Me desculpo por não poder estar presente fisicamente, mas certamente estou, de longe, com vocês. Adoraria estar compartilhando esse momento, em especial, por saber que algumas amigas e ex-professoras da PUC estão presentes. A todo mundo, meu muito obrigada. Boa sessão!”