A segunda edição do Mobiliza Campinas chegou ao fim em outubro de 2021. Neste ano, a campanha de combate à insegurança alimentar e nutricional mobilizou R$ 3.270.400, que foram convertidos em cartões alimentação para famílias em situação de vulnerabilidade social. O impacto só foi possível graças à articulação em rede da Fundação FEAC com as organizações da sociedade civil (OSC) presentes nos territórios vulneráveis.

A rede Mobiliza contou com 70 OSC, distribuídas em 102 unidades nas cinco macrorregiões de Campinas. Elas foram as responsáveis por identificar as famílias, realizar os cadastros e distribuir os cartões.

“A ação das OSC é fundamental para chegarmos às famílias de extrema vulnerabilidade. Como as organizações são referência nos territórios em que atuam, as demandas sociais também são, na maioria das vezes, acolhidas por elas”, destaca Sílnia Prado, líder do Programa Fortalecimento de Vínculos, da FEAC.

Foram 6.871 famílias beneficiadas com cartão alimentação de R$ 120, carregados mensalmente por quatro meses. Ao todo, 26.479 pessoas foram impactadas diretamente.

Além dos cartões, a edição de 2021 contou com a arrecadação de diversos produtos, doados por 11 empresas: 2,5 toneladas de alimentos, 1,4 tonelada de itens de higiene, 14 mil litros de água e uma tonelada de leite. A distribuição também foi feita por todas as OSC da rede.

Novas famílias beneficiadas

O Mobiliza Campinas nasceu em 2020, com o objetivo de mitigar as vulnerabilidades sociais agravadas pela pandemia de Covid-19. Em 2021, 69% das famílias beneficiadas não haviam recebido o cartão no ano anterior.

O dado mostra que a integração da rede conseguiu atingir novas famílias, que não haviam sido identificadas na primeira edição. “Neste ano, o trabalho com as OSC se qualificou: aprendemos a melhorar os fluxos, a comunicação e o monitoramento”, pontua Sílnia.

Além disso, ela explica que, após um ano de pandemia, as OSC identificaram novas famílias que tiveram sua situação econômica agravada. O relatório da segunda edição mostra que 43,3% dos beneficiários estavam desempregados, considerando a perda de empregos formais, e 37,9% estavam sem nenhuma fonte de renda.

“Quem conseguiu o cartão teve um descanso no meio desse turbilhão da pandemia”, afirma Vanessa Aguiar, coordenadora técnica do Instituto Padre Haroldo, uma das OSC parceiras.

Ela analisa que no bairro Jardim Campo Belo, onde está presente uma das unidades da OSC, as políticas públicas quase não chegam. “Muitas famílias que atendemos nem sabem que podem acessar algum direito, como o auxílio emergencial. A quantidade de cartões que nós recebemos fez com que elas pudessem, em alguma medida, receber um atendimento. Isso foi essencial.”

Autonomia para comprar alimentos

Jaqueline Aparecida Jorge, 33 anos, foi atendida pelo Instituto Padre Haroldo e recebeu o cartão pela primeira vez, em julho deste ano. Ela mora com seus dois filhos pequenos no Jardim Dom Gilberto e sua única renda vinha do Bolsa Família.

“Com o meu Bolsa Família, eu pago água e luz e falta para os alimentos. [A situação] piorou demais com a pandemia”, conta Jaqueline. Ela começou a receber cesta básica da creche dos filhos, que a ajudou a enfrentar o período.

Com o cartão Mobiliza, Jaqueline conseguiu complementar a cesta básica com alimentos frescos, como verduras e legumes. Vanessa, do instituto Padre Haroldo, destaca a vantagem de poder escolher os próprios alimentos: “Dentro da sociedade extremamente excludente em que vivemos, isso significa respeito pelas pessoas.”

Sílnia, da FEAC, reforça que essa iniciativa também é importante para combater a insegurança nutricional: “Para muitas famílias, a autonomia proporcionada pelo cartão foi determinante para a aquisição de itens que dão maior qualidade nutricional, como leite, frutas, verduras, ovos e misturas.”

Essa questão, inclusive, foi abordada pelo estudo Alimentação na primeira infância: conhecimentos, atitudes e práticas de beneficiários do Programa Bolsa Família, publicado pelo Unicef em dezembro de 2021. Cerca de 80% das famílias entrevistadas, beneficiárias do Bolsa Família, relataram o consumo de alimentos ultraprocessados pelas crianças. Já o acesso dificultado à alimentação saudável foi apontado por mais de 80% dos entrevistados.

Presença feminina

O relatório final da segunda edição do Mobiliza também mostra a força da presença feminina: 93% dos cartões foram emitidos em nome de mulheres, chefes de família. A porcentagem é a mesma da primeira edição.

Vanessa Aguiar confirma que, dentre as pessoas que buscaram o Instituto Padre Haroldo para receberem o cartão, as mulheres predominam: “São elas que mais se movimentam por conta das responsabilidades que assumem, como o cuidado com as crianças e com a casa.”

Além disso, 60% das famílias beneficiadas têm crianças e adolescentes até 17 anos. Vanessa analisa que o cartão fez a diferença para muitas famílias que, sem esse auxílio, não teriam como alimentar os filhos. Creches e escolas – que estavam fechadas – são os locais onde muitas crianças fazem a principal refeição do dia.

Ainda segundo o estudo do Unicef, cerca de 72% das famílias entrevistadas afirmaram que alguma criança até 5 anos e 11 meses deixou de fazer alguma refeição na pandemia, por falta de dinheiro. Antes da pandemia, esse número era de 54%.

“Em um período em que as pessoas não conseguem acessar trabalho e renda, acessar o alimento é um direito básico”, conclui a coordenadora Vanessa.

Por Laíza Castanhari