Empoderando populações vulneráveis é a dimensão da Fundação FEAC que apoia os indivíduos no seu processo de participação social e construção de cidadania. Em 2021, com a continuação da pandemia de Covid-19, três dos seis programas dessa dimensão se engajaram especialmente para mitigar os efeitos do isolamento social e do agravamento de vulnerabilidades sociais. Essa é a primeira de uma série de quatro matérias de retrospectiva da atuação da FEAC em 2021.

Renato Franklin, líder do Programa Acolhimento Afetivo da FEAC, destaca que “as recomendações de higiene básica, distanciamento social e permanência em casa nem sempre são possíveis de serem seguidas por determinados grupos vulneráveis, como pessoas em situação de rua, com sofrimento ou transtorno mental, com deficiência, população indígena e trabalhadores do mercado informal”.

Veja a seguir como três programas dessa dimensão – Acolhimento Afetivo, Juventudes e Mobilização para Autonomia (MOB) – usaram principalmente o fortalecimento de laços comunitários e a inclusão produtiva para lidar com os desafios desse período e quais foram as principais ações para empoderar o público atendido.

Consequências do isolamento social

O Programa Acolhimento Afetivo investe na garantia de direitos e bem-estar de pessoas em situação de acolhimento, de todas as faixas etárias. O resgate e fortalecimento de laços sociais desse público já era um desafio, e se intensificou com o agravamento da pandemia.

No caso das crianças e adolescentes em acolhimento, Renato ressalta os impactos socioemocionais: “O contexto da pandemia culminou na elevação da evasão escolar e no aumento do grau de dificuldade em se restabelecer vínculos familiares e comunitários, impactando negativamente na construção de um projeto de vida para crianças e adolescentes.”

Em 2021, o programa deu continuidade ao Trilhar, voltado para adolescentes em acolhimento que, ao completarem 18 anos, precisam sair da instituição. O projeto coloca os jovens em contato com mentores voluntários, que os ajudam na transição para uma vida autônoma e inserida na comunidade. Iniciado em 2018 em parceria com a organização Guardinha, o projeto já atendeu 38 adolescentes entre 15 e 18 anos.

Durante o ano, os encontros com os mentores do Trilhar foram realizados de forma virtual e, quando possível, presencialmente em lugares abertos, a fim de estimular a autonomia dos jovens para circular na cidade, um dos objetivos do projeto.

Já no caso do acolhimento de idosos, os desafios foram outros e demandaram novas estratégias. “Podemos destacar o risco do coronavírus dentro dos espaços de acolhimento voltados a idosos, já que a maioria dos óbitos foram concentrados nos indivíduos acima de 60 anos”, diz Renato.  

O projeto Atear, em parceria com o Centro de Assistência Social – AFASCOM, foi uma das novidades de 2021, olhando justamente para esse público. “A iniciativa buscou resgatar as ausências de saídas externas ocasionadas pela pandemia, que impediram os idosos de frequentar lugares públicos para momentos de lazer, como parques e praças”, explica o líder. 

A estratégia foi a construção de espaços de lazer e jogos dentro da própria instituição parceira, como mesa de bilhar, pebolim e área de churrasqueira, visando a ressignificação desse período e o resgate de histórias de seus tempos.  

Convivência comunitária de pessoas com deficiência  

O programa Mobilização para Autonomia (MOB), que trabalha para a inclusão efetiva de pessoas com deficiência, também sofreu impactos decorrentes do isolamento social e precisou se adaptar à nova realidade.  

Viviane Machado, líder do MOB, avalia que o programa teve bons resultados em contornar parte dos desafios e seguir apoiando os usuários: “Mesmo com o isolamento, os profissionais dos nossos projetos conseguiram manter um monitoramento constante, ainda que de forma on-line, a fim de contribuir não somente com os usuários, mas também na identificação de demandas de todos os envolvidos nesse novo contexto enfrentado pela família”. 

O programa deu continuidade, virtual e presencial, ao Território de Todos, que atende pessoas com deficiência intelectual e síndrome de Down. Em parceria com a Fundação Síndrome de Down, busca-se a inclusão efetiva dos usuários em serviços de saúde, educação, cultura, assistência social, entre outros. Desde 2018, o projeto já promoveu o convívio social de 169 pessoas.

Em 2021, a novidade foi a expansão dessa proposta: outras organizações da sociedade civil (OSC) de Campinas, parceiras da FEAC, executaram projetos originados a partir do Território de Todos, ampliando o atendimento às pessoas com deficiência em isolamento social.

É o caso de dois projetos. O Conviver para Incluir, executado pelo CEI, conta com uma equipe técnica para acompanhar pessoas com deficiência em diversas atividades, tanto no domicílio como no território. Já o “Para Além dos Muros”, executado pelo Instituto Campineiro dos Cegos Trabalhadores, realiza a busca ativa por pessoas com deficiência visual em situação de vulnerabilidade, a fim de entender suas necessidades e oferecer orientações.

Inclusão socioprodutiva

O acesso e permanência no mercado de trabalho é um dos objetivos dos programas que trabalham com populações vulneráveis. Em 2021, o programa Juventudes teve de lidar com o aumento de desemprego dos jovens e os graves problemas econômicos brasileiros, destaca a líder Tatiane Zamai.

“Nós construímos diferentes estratégias, como o uso de ferramentas tecnológicas, no esforço de garantir que os jovens continuassem motivados e mobilizados frente a tantas urgências que surgiram, tais como a dificuldade de acesso à internet e a necessidade de trabalho”, analisa Tatiane.

O Juventudes trabalhou com diversos projetos para fortalecer a inclusão socioprodutiva desse público. Um deles foi o Repara na Máquina, iniciado em 2021, que oferece qualificação para jovens em situação de vulnerabilidade atuarem com manutenção e recondicionamento de equipamentos eletroeletrônicos. O projeto nasceu com uma rede de apoio, formada por diversas cooperativas da área eletrônica.

Outros projetos de anos anteriores tiveram continuidade, como o Jovem Chef e o Categoria de Base. O primeiro, em parceria com o MAE Maria Rosa, oferece curso de gastronomia para jovens entre 15 e 24 anos, com foco no mercado de trabalho. Eles são preparados tanto para trabalhar em restaurantes quanto para abrir seu próprio negócio.

Já o Categoria de Base, renomeado esse ano como Codifica, é realizado em parceria com a organização Base Social, e forma jovens em regiões periféricas para trabalharem com desenvolvimento de software. Em 2021, as aulas seguiram on-line e foram feitas parcerias com empresas para garantir notebook e acesso à internet para todos os alunos.

O programa Mobilização para Autonomia também teve a empregabilidade como um dos focos: o LAB Inclusão, criado pela FEAC, é uma rede formada por diversas organizações parceiras, que tem como objetivo a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Em agosto de 2021, boas notícias chegaram: Campinas recebeu um Polo de Empregabilidade Inclusivo (PEI) – o quinto do estado de São Paulo – inaugurado pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A rede LAB firmou uma parceria com o PEI, o que significa que o projeto se tornou política pública e está pronto para multiplicar seus impactos

Perspectivas para 2022

Para o próximo ano, os três programas – Acolhimento Afetivo, Juventudes e Mobilização para Autonomia (MOB) – destacaram a importância de fortalecer projetos baseados em dados e evidências, garantindo um melhor desempenho ao avaliar os impactos.

“As iniciativas desenvolvidas pela FEAC devem ser monitoradas e avaliadas de forma contínua, visando o cumprimento do planejado e, sobretudo, o alcance dos objetivos e resultados propostos”, explica Renato Franklin, líder do Acolhimento Afetivo.

Neste ano, o MOB é um exemplo de programa que avançou na proposta: as organizações parceiras passaram por uma formação de escrita de projetos, oferecida pela FEAC. Depois, os projetos foram acompanhados e monitorados de acordo com metas e indicadores preestabelecidos.

“É um desafio, pois trata-se de um formato que propõe uma inovação na elaboração e gestão dos projetos executados em parceria com o MOB”, diz Viviane Machado. Para 2022, a ideia é dar sequência à pesquisa e ao levantamento de dados para a cocriação de novos projetos, a fim de embasar os investimentos de forma mais assertiva.

Em relação ao Juventudes, uma das perspectivas é finalizar e divulgar a pesquisa de perfil dos jovens atendidos pelo programa. Assim, será possível a criação e o monitoramento de projetos também de forma mais direcionada.

Em 2022, o recém-inaugurado Conselho Jovem do Programa estará em ação. Formado por jovens entre 15 e 29 anos, funciona como um grupo consultivo e de trocas, orientando ações do programa.

“Esse espaço de discussão era um desejo do programa desde seu nascimento e durante a pandemia, remotamente, conseguimos convidar jovens de todos os projetos apoiados pelo programa, que sentiam o desejo de pertencer a um espaço de discussão sobre direitos e juventudes”, explica Tatiane Zamai.

Retrospectiva 2021

Esta matéria faz parte da retrospectiva 2021 da Fundação FEAC. Leia as outras e confira os destaques que marcaram o ano:

• FEAC busca restabelecer laços comunitários de populações vulneráveis

Solidariedade, voluntariado e apoio a OSC marcam o trabalho da FEAC em 2021

Projetos da FEAC estimulam o desenvolvimento de territórios vulneráveis

Em 2021, FEAC garantiu direitos de crianças, adolescentes e mulheres

Por Laíza Castanhari

Edição 12 – Trabalho voluntário + retrospectiva 2021

Os novos desafios e a virtualização do trabalho voluntário pós-pandemia
Trabalho feminino cresce e ajuda a empoderar mulheres
• FEAC busca restabelecer laços comunitários de populações vulneráveis

Solidariedade, voluntariado e apoio a OSC marcam o trabalho da FEAC em 2021

Projetos da FEAC estimulam o desenvolvimento de territórios vulneráveis
Em 2021, FEAC garantiu direitos de crianças, adolescentes e mulheres

 

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